Nos últimos dias, li e reli algumas vezes o “Capítulo II” da Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” (“A Alegria do Evangelho”); por isso, hoje vai ser difícil não falar sobre evangelização…
Aproveitei, também, e dei uma olhada em alguns textos que escrevi para este espaço; encontrei dois bem relacionados com o tema: “Ai de mim se eu não evangelizar!” e “Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça!”.
São Francisco de Assis costumava ensinar aos irmãos: “Pregue o Evangelho todo o tempo. Se necessário, use palavras.”
Como se pode converter, ou evangelizar, ou pregar os ensinamentos do próprio Cristo se isso não for motivo de alegria pra quem o faz? Quem quer ficar perto de alguém sisudo, apenas circunspecto, com a “psicologia do túmulo” (EG, 83) como objetivo de vida?
Eu tive a felicidade de conviver muito proximamente, durante a infância, com uma irmã franciscana que amava cantar e era muito alegre; com certeza ela não era perfeita, tinha suas mazelas (como cada um de nós); mas foi com ela que eu aprendi, na prática, que podemos expressar nossa alegria dentro da Igreja – simplesmente por sermos cristãos e isso nos fazer muito bem. E depois de ler a exortação apostólica “Evangelli Gaudium”, percebi que não estava ficando louca, nem era a única pessoa da Igreja que pensava daquela forma…
Na juventude, antes e durante o tempo que participei do grupo de jovens da JUCE, ouvi muitas frases clichês (sobre nós, jovens!), como “os jovens não querem nada com nada”, “os jovens não querem saber da Igreja”; porém a maioria das pessoas que proferia essas “pérolas” não lembra que os jovens gostam de ambientes alegres, “arejados” pelo bom humor – e que a maioria desses mesmos jovens professa a mesma fé que essas “múmias de museu”, como diz o Papa Francisco (EG, 83) e tem tanto ou mais respeito pelo Sagrado quanto aquelas pessoas sisudas… (Isso acontecia só no milênio passado, acontece muito raramente nos dias de hoje – só que não!…).
Vou trazer as palavras do Papa Francisco sobre algumas das “tentações dos agentes de pastoral”, enumeradas por ele mesmo na exortação apostólica:
“82. O problema não está sempre no excesso de atividades, mas sobretudo nas atividades mal vividas, sem as motivações adequadas, sem uma espiritualidade que impregne a ação e a torne desejável. Daí que as obrigações cansem mais do que é razoável, e às vezes façam adoecer. Não se trata duma fadiga feliz, mas tensa, gravosa, desagradável e, em definitivo, não assumida. Esta acédia pastoral pode ter origens diversas: alguns caem nela por sustentarem projetos irrealizáveis e não viverem de bom grado o que poderiam razoavelmente fazer; outros, por não aceitarem a custosa evolução dos processos e querem que tudo caia do Céu; outros, por se apegarem a alguns projetos ou a sonhos de sucesso cultivados pela sua vaidade; outros, por terem perdido o contacto real com o povo, numa despersonalização da pastoral que leva a prestar mais atenção à organização do que às pessoas, acabando assim por se entusiasmarem mais com a «tabela de marcha» do que com a própria marcha; outros ainda caem na acédia, por não saberem esperar e quererem dominar o ritmo da vida. A ânsia hodierna de chegar a resultados imediatos faz com que os agentes pastorais não tolerem facilmente o que signifique alguma contradição, um aparente fracasso, uma crítica, uma cruz. 83. Assim se gera a maior ameaça, que «é o pragmatismo cinzento da vida quotidiana da Igreja, no qual aparentemente tudo procede dentro da normalidade, mas na realidade a fé vai-se deteriorando e degenerando na mesquinhez». Desenvolve-se a psicologia do túmulo, que pouco a pouco transforma os cristãos em múmias de museu. Desiludidos com a realidade, com a Igreja ou consigo mesmos, vivem constantemente tentados a apegar-se a uma tristeza melosa, sem esperança, que se apodera do coração como «o mais precioso elixir do demônio». Chamados para iluminar e comunicar vida, acabam por se deixar cativar por coisas que só geram escuridão e cansaço interior e corroem o dinamismo apostólico. Por tudo isto, permiti que insista: Não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização!” (Evangelii Gaudium, 24/11/2013)
Jovem, está nas suas mãos ser um(a) cristã(o) / franciscano(a) que vivencie sua fé com alegria; tenha certeza que, assim, você não estará sozinho(a) – além do próprio Cristo, que te acompanha em qualquer situação, você terá a companhia de todos aqueles que compartilham contigo essa forma de dar testemunho do Evangelho que o Filho do Homem nos deixou (e São Francisco de Assis aplicou) e também daqueles que querem experienciar sua própria vocação e o Cristo através de sentimentos verdadeiros, sem obrigatoriedades protocolares vazias. Que te parece?
Leila Denise