Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça!

(Mt 13,9; Mc 4,9; Lc 8,8)

Nesses tempos tão questionadores, onde por muito pouco se responde com muita violência, me pego pensando sobre a simplicidade dos ensinamentos de Jesus.

Jesus falava por parábolas para explicar aos que tinham dificuldade de entender o Amor e a Misericórdia do Pai – porque, assim como hoje, eram muitos os exemplos dados (e não se enganem, não só pela dominação dos romanos…) da falta de tolerância e compreensão com aqueles que pensavam diferente da ordem estabelecida.

O versículo bíblico mencionado no título sempre mexeu comigo. Primeiro, porque tive, na primeira infância, problemas de audição; depois, me soava quase que como uma repreensão dos meus pais quando estávamos em público e queriam nos dizer algo óbvio, mas de forma não declarada (normalmente acompanhado de olhares que nos faziam murchar de vergonha…) …

Nos três casos acima exemplificados (título), este é o fechamento da “Parábola do Semeador”. Como, na linguagem judaica, dizer três vezes alguma coisa era algo considerado uma “verdade absoluta”, consigo imaginar que aqueles que escreveram esse relato testemunharam o próprio Cristo realmente proferindo essa frase.

Não há como não me questionar: “E eu, estou ouvindo o que Cristo me ensina? O que estou semeando ao longo da minha jornada?”

São Francisco de Assis, ao ouvir o chamado da Cruz de São Damião (“Francisco, reconstrói a minha Igreja!”), atendeu solícita e completamente este chamado, e nos deixou, através de seu carisma, um forte e incisivo exemplo de ouvir plenamente os ensinamentos do Filho Amado.

O Papa Francisco, ao falar sobre a exortação de São Paulo aos Gálatas (Gal 6,9-10a) também nos lembra sobre a importância de semear: “São Paulo fala-nos dum kairós: um tempo propício para semear o bem tendo em vista uma colheita. Qual poderá ser para nós este tempo favorável? … é-o também a nossa inteira existência terrena… Esta chamada para semear o bem deve ser vista, não como um peso, mas como uma graça pela qual o Criador nos quer ativamente unidos à sua fecunda magnanimidade… É precisamente semeando para o bem do próximo que participamos na magnanimidade de Deus… Semear o bem para os outros liberta-nos das lógicas mesquinhas do lucro pessoal e confere à nossa atividade a respiração ampla da gratuidade, inserindo-nos no horizonte maravilhoso dos desígnios benfazejos de Deus… Não cansemos de fazer o bem através de uma operosa caridade para com o próximo… O Bem, assim como o Amor, a Justiça e a Solidariedade não se alcançam duma vez para sempre; hão de ser conquistados cada dia.”

(Mensagem do Papa para a Quaresma 2022, 24/02/2022)

Entendo que Cristo, com esta “grande chamada” ao final da “Parábola do Semeador”, sacode nosso interior e nos instiga a semearmos a boa semente, aquela que dá muitos frutos, não importa qual o tipo de terreno que encontremos pelo caminho, nem os “pássaros” que se alimentem dessas sementes ao longo do caminho, impedindo-as de frutificar.

É hora de, em frente ao espelho da consciência, termos a coragem de nos questionarmos sobre esses ensinamentos atemporais de Cristo, sem cores nem bandeiras, apenas como irmãos que somos, habitando essa mesma Casa Comum.

E não posso deixar de perguntar: Como anda o teu “ouvir”? E o teu “semear”?

Leila Denise

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