Não vamos trocar o nosso “Hosana” por “Crucifica-o”. Com o Domingo de Ramos nós cristãos batemos à porta da Semana Santa e pedimos para entrar no mistério profundo da entrada solene em Jerusalém, última ceia, paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Assim, com nossos ramos nas mãos, nós vamos entrando nesse tempo propício de aprofundamento do mistério de Cristo. E, batendo a porta do Senhor, Ele gentilmente está nos conduzindo a entrar!
E começamos com sua entrada triunfal em Jerusalém, pelo Domingo de Ramos. E neste dia na missa temos dois Evangelhos: o da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e o relato da Paixão.
Algumas pessoas até não entendem o motivo pelo qual já no Domingo de Ramos se ouve o Relato da Paixão, uma vez que o ouviremos novamente na Sexta-feira Santa. Porém, isso tem uma razão: no primeiro Jesus é recebido como Rei e no outro ele é humilhado. A palavra “Hosana ao Filho de Davi” dita por alguns são abafadas pelos gritos de “crucifica-o” de outros. Ao invés de roupas e ramos jogados na rua tiraram a roupa de Jesus e deixaram Ele quase nu para envergonhá-lo.
Essas realidades aparecem pois justamente dois tipos de pessoas reagiram a proposta de Jesus: alguns, que viram as suas ações, ouviram seus ensinamentos, acreditaram que ele era realmente o Messias. Por isso o receberam com honras imperiais.
A esses Jesus era rei, o Messias esperado, pois já tinha demonstrado a eles a força do seu amor, da sua presença misericordiosa. Os outros, do grupo do “crucifica-o” se sentiram ameaçados por Jesus. Eram os doutores da lei que embora fossem em menor grupo, fizeram mais barulho pois tinham mais poder. A estes últimos Jesus não agradou. Já aos primeiros, ele era a esperança!
Sendo assim, no Domingo de Ramos, data em que batemos a porta para entrar na Semana Santa, vemos essas duas ações de exultação e humilhação como uma “prévia”, uma palinha, do que vai acontecer neste período.
É o resumo em Jesus dos binômios humilhação-exaltação, alegria-dor, rei-torturado, morte-vida. Isso aparece também na Primeira Leitura do livro do profeta Isaías onde vemos a imagem do Cristo sofredor: ele é humilhado, ridicularizado.
E a Segunda Leitura responde: embora humilhado, assumindo o aspecto humano até na morte, foi honrado por Deus e por isso Ele o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome acima de todo nome, para que proclamemos: Jesus Cristo é o Senhor. Ora, irmãos e irmãs, esse Domingo de Ramos, portanto, é essa porta de entrada, esse primeiro passo da Semana Santa, a fim de que já experimentando um pouco de todas as emoções que Jesus irá passar, possamos também nós ser como o povo que preparou a sua entrada triunfal em Jerusalém.
Não vamos trocar o nosso “Hosana” por “crucifica-o”. Sendo assim, cabe a nós aproveitar essa oportunidade para abrirmos espaço necessário para que ele possa habitar em nós. Que ele não entre triunfal apenas em Jerusalém, mas também com gritos de Hosana o recebamos em nosso coração, em nossas famílias, em nossos ambientes de trabalho a fim de que a forma como ele agiu seja também a forma como podemos agir.
Alguns continuam crucificando Jesus até hoje não honrando sua palavra. Nós, porém, com nossos ramos nas mãos, somos do grupo do “Hosana” e queremos cantar até o fim pedindo que ele entre triunfalmente em nossas vidas e nos transforme Nele cada dia mais.
Frei Gabriel Dellandrea