Qual o contexto da criação deste dia? Qual a importância de celebrá-lo?
O Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua nasce com uma triste memória: o Massacre da Sé. O massacre ocorreu entre os dias 19 e 22 de agosto de 2004, as intervenções policiais se intensificaram pela região central da cidade de São Paulo e teve o pico com a morte de sete pessoas e seis com graves ferimentos. Essas ações ocorreram na escadaria da Catedral da Sé, onde as pessoas dormiam. No dia seguinte, lavaram o sangue dos irmãos como se estivesse apagado a história de uma barbárie.
Todavia, desde então, os movimentos eclesiais e sociais lutaram por não esquecer esse fato e torná-lo um ato pelos direitos humanos de todos aqueles que vivem em situação de rua. Essa ação não foi, nem será capaz de mudar o que aconteceu no passado, mas queremos mudar o futuro, se verdadeiramente mudarmos a forma de pensar e organizar as políticas públicas.
Qual é a importância dessa celebração?
A importância é poder subir as escadarias das Catedrais sem que tenha o sangue de alguém que não tinha onde reclinar a cabeça. Infelizmente, a Sé de São Paulo, não poderá ser a referida Catedral, pois, nós cristãos, não fomos capazes de escrever um outro futuro. Todavia, podemos impedir novos mártires da pobreza e indiferença.
Como franciscanos, o que podemos fazer para conscientizar a sociedade sobre o respeito aos direitos humanos e atenção necessária a essa parcela da população?
Nos últimos tempos, nós, franciscanos, temos conversado sobre a diminuição das vocações e a retração de nossa voz na sociedade. Eu tenho refletido sobre isso e tenho me perguntado: Como podemos apresentar um carisma que seja pertinente para esse tempo? Como podemos dizer que somos irmãos amados pelos que sofrem e como podemos ser uma proposta de vida distinta da vida diocesana?
Para mim a resposta está em nossa Regra de Vida: Viver o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Viver o Evangelho, repito; Viver o Evangelho!
Quem tem olhos, que veja e quem tem ouvidos, ouça! Ouça Evangelho que grita nas praças: tenho fome! Se amontoa nas praças sem casa. Grita nas casas onde as mulheres apanham de seus maridos que lhes juraram amor eterno diante da Igreja. O Evangelho naufraga com refugiados em pequenos barcos. Nós, franciscanos, professamos viver o Evangelho, essa é a saída, não se fazer cego e surdo aos apelos do Reino. Escutar os apelos será a saída, temos um compromisso com o Reino de Deus e penso que esse será o melhor convite para novos vocacionados, pois construir o Reino é a Vida da Igreja e isso passa estreitamente pelos direitos dos filhos de Deus. Perceba, que para isso não se trata apenas de ter vocação, mas de responder a vocação Igreja, sem a mesquinharia de tentar ser numeroso, mas com a ousadia de possibilitar uma consequencia benéfica ao ser chamado cristão ou amante do carisma franciscano.
Frei Marx Rodrigues dos Reis
Imagens: https://www.sefras.org.br/