Jesus não age no palco, mas nos bastidores! 

Estimados irmãos e irmãs, caros jovens, Paz e Bem!

Tempo da Quaresma! Os dias passam rápido e mais uma vez somos convidados a percorrer este caminho novo, revigorante e também desafiador. É preciso colocar a casa em ordem, recarregar as baterias e percorrer um caminho espiritual de interiorização e fé. São quarenta dias, cinco semanas. E com a celebração de Quarta-Feira de Cinzas, somos convidados a nos prepararmos para bem celebrarmos a morte e ressurreição de Jesus. 

A quaresma tem um ‘que’ de ano novo. Com ela, muitos traçam metas, objetivos e desejam a mudança. Isso é muito bom, louvável e saudável. Sem dúvidas, é um tempo apropriado para a prática da penitência. E é bom que todos busquem de alguma forma fazê-la. Não se preocupe em fazer grandes obras, grandes coisas, programe-se para aquilo que você sabe que tem condições de fazer, viver e cumprir.

Hoje também tem início na Igreja do Brasil a Campanha da Fraternidade. Cada ano, recebemos um convite para viver a Quaresma à luz da Campanha da Fraternidade. Desde 1964, a CF busca servir como ponte para que todos nós cristãos possamos viver mais intensamente a Quaresma. Portanto, já são 59 anos. Neste ano, a CF tem como tema: “Fraternidade e Fome” e lema: “Dai-lhes vos de comer” (Mt 14,16). Dar de comer é uma ordem de Jesus dirigida aos discípulos para a multidão faminta. Hoje, este mandato se atualiza e desafia todos nós: “Dai-lhes vos de comer”.

Na 1ª Leitura (Jl 2,12-18) o profeta Joel nos pede uma mudança de coração. Na liturgia, os textos de Joel são usados apenas no início do Tempo da Quaresma e no encerramento do Ciclo Pascal – apenas uma curiosidade -. Vale lembrar que são escritos do séc. IV a.C. E, naquele tempo, “voltar para o Senhor com jejuns” significava pedir perdão pelos erros cometidos. O jejum era expresso com o uso de vestes grosseiras de luto e acompanhado de choro e lamentações. Para expressar a dor era costume rasgar as vestes. Mas Joel vai além: de nada adianta rasgar as roupas e continuar com um coração endurecido. Por isso, ele sugere que rasguemos o nosso coração e não apenas as vestes. Sem dúvida, a Quaresma é este tempo favorável para “rasgar” nossos corações e voltar-se para Deus. 

Na 2ª leitura da Carta de São Paulo aos Coríntios (5,20 – 6,2) um versículo merece destaque: “Deixai-vos reconciliar com Deus”. Se na primeira leitura o verbo usado pelo profeta Joel foi “voltar-se” para Deus, agora São Paulo utiliza o verbo “reconciliar-se” com Deus. No entanto, a iniciativa é sempre divina. Não é o homem que se reconcilia com Deus, Deus o reconcilia consigo, ou melhor, Deus o reconcilia consigo em Cristo. Da parte de Deus a reconciliação está feita, a graça é dada. Da parte do homem é só aceitar. É preciso, portanto, que não desperdicemos a graça de Deus dispensada a cada um de nós, pois Ele está sempre disposto a nos perdoar. “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (v.2). A Quaresma é este tempo propício.

O Evangelho (Mt 6,1-6.16-18), desta Quarta-feira de Cinzas nos apresenta o programa de “voltar-se” e “reconciliar-se” com o Senhor. Ele, o Senhor, nos pede sinceridade em nossas ações e em nossos corações. Ele requer uma profunda transparência em nossas atitudes com nossos irmãos e com Deus. É neste sentido que Jesus fala aos seus discípulos da oração, do jejum e da esmola e nos ensina como não devemos agir. Por seis vezes utiliza o termo “não”, para evidenciar práticas controversas que levam em conta apenas a aparência. “Não pratiquem o bem apenas para serem vistos”, pede o Senhor. Jesus não age no palco, mas nos bastidores! Assim também deve ser o nosso modo de agir: não procurar as aparências, mas o anonimato.

A esmola, a oração e o jejum fazem parte do dia a dia da vida cristã. Seguem três sugestões concretas de como podemos praticá-las.

  • 1- Esmola: partilhar de seus bens em promoção de outros;
  • 2- Oração: Orar em silêncio no seu quarto, livremente;
  • 3- Jejum: Abster-se daquilo que é supérfluo e muitas vezes imposto por uma sociedade capitalista e consumista.

Indicações que estão na dinâmica do “não saiba sua mão esquerda o que faz a direita”. O bem que se faz, se faz no silêncio, e o Pai que vê no oculto o recompensará. É desafiador, mas são um verdadeiro programa de exercício de conversão para os cristãos.

Neste dia, a Igreja propõe também o Rito de Imposição das Cinzas. E novamente somos desafiados a cumprir o mandato de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. A conversão consiste em crer no Evangelho. Crer é aderir a ele, viver segundo os ensinamentos do Senhor Jesus. Portanto, caros irmãos e irmãs, aproveitemos este tempo de graça, de “voltar-se” e “reconciliar-se” com o Senhor, nosso Deus. 


Um abraço fraterno e bom tempo quaresmal!

Frei Augusto Luiz Gabriel

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