Neste período que aguardamos a chegada do segundo turno das eleições, pelo menos para o cargo de Presidente da República (alguns Estados ainda terão o segundo turno de votação para Governador), tem sido recorrente – até pelo resultado das urnas, já que a grande maioria dos eleitores escolheu votar em um dos candidatos que ainda estão na disputa – um clima de confronto de “nós” e “eles”.
Esta situação de confronto não é nova, muito menos inédita. Há alguns anos tem sido alimentado, por alguns setores políticos e/ou da sociedade, este embate, que só serve aos interesses de quem deseja desviar a atenção do povo e/ou fomentar a discórdia para fortalecer interesses particulares.
Cremos ser importante trazer à luz alguns pontos, já anteriormente abordados neste espaço (“Bem-aventurados os promotores da paz, porque serão chamados Filhos de Deus” – acesse aqui ): precisamos de “promotores da paz” neste tempo de polarização; precisamos ser lembrados, a cada ato, que, assim como o Papa Francisco fez questão de registrar na Encíclica, “somos todos irmãos” (“Fratelli Tutti”).
Importante, ainda, mais uma vez, lembrarmos o artigo 19 da Regra da Ordem Franciscana Secular, escrita pelo próprio São Francisco de Assis: “Como portadores de paz e lembrando-se de que ela deve ser construída incessantemente, procurem os caminhos da unidade e dos entendimentos fraternos mediante o diálogo, confiantes na presença do germe divino que existe no homem e na força transformadora do amor e do perdão.”
Naquela oportunidade, a pergunta foi: “Qual é a paz que eu promovo como cristã(o)?”; hoje é necessário, ainda, complementarmos: “Sobre quais fundamentos construo e quais são as ferramentas que utilizo para a promoção da paz anunciada por Jesus Cristo?”
Para promovermos a paz, é necessário iniciar dentro de nós mesmos este processo. Precisamos descobrir que os caminhos da unidade passam pela escuta atenta aos argumentos de quem diverge conosco e pela honesta reflexão dos argumentos utilizados por ambos os lados em um diálogo de ideias – sem esquecer que, ainda que sejamos muito diferentes na forma de interpretar a mesma escrita, sejamos irmãos.
Premente, ainda, termos em conta que, sem a honesta reflexão dos argumentos de ambos os lados, corremos o risco de identificar (nem que seja nas entrelinhas), a cada fala, algo que justifique e comprove nosso pensamento, mesmo que seu real sentido seja antagônico ao que propalamos ao mundo acreditar.
Como cidadãos, temos o direito de ter a nossa opinião; porém, como cristãos, somos convocados pelo próprio Cristo, através dos ensinamentos do “Sermão da Montanha” (Evangelho de São Mateus, capítulos 5 a 7), a sermos promotores da Paz; ainda mais, como franciscanos, somos exortados pelo Poverello de Assis a procurar caminhos de unidade através do diálogo – e é necessário lembrar que só há diálogo quando, alternada e respeitosamente, há espaço a ambos os lados para ouvir e falar.
Se sonhamos com um Brasil de irmãos, onde a cidadania e os valores cristãos sejam respeitados, precisamos, como cidadãos e cristãos, dar o exemplo, promovendo a Paz e exercitando, confiantes, o Amor e a Misericórdia para que a nossa Cidadania, individual e coletivamente, seja respeitada em nossas falas e em nossos atos.
Parece difícil? Ou utópico?
Cabe a nós, a cada ato, praticar… só assim descobriremos se é possível e viável…
Leila Denise
Imagem Ilustrativa: Frei Fábio Melo Vasconcelos