Irmã Zenilda: A missão de Deus no Timor Leste, Ásia

A religiosa da Congregação Franciscana de São José, Irmã Zenilda Luzia Petry, no auge dos seus 72 anos, atualmente se encontra em missão no exterior. Com profunda convicção profética e missionária, Irmã Zenilda, que em 2018 celebrou 50 anos de vida religiosa consagrada, partilha conosco sobre sua vocação e em especial sobre a missão que vem desempenhando no Timor Leste, na Ásia.

Natural de Ituporanga (SC), Irmã Zenilda fez sua Profissão Perpétua em 11 de fevereiro de 1976, em Curitiba (PR). Já atuou como Superiora Provincial, Vice Geral e formadora na Congregação. Além disso, integrou por mais de 15 anos a equipe de Reflexão Bíblica da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB). Graduada em Teologia, a religiosa franciscana também possui mestrado em Estudos Bíblicos. Por mais de 20 anos serviu a Igreja do Brasil em terras amazônicas, sendo profeta e missionária junto aquela porção do povo de Deus.

Desde 2019, Irmã Zenilda se encontra em terras estrangeiras e não esconde a alegria e a satisfação por poder contribuir com Igreja local “Mesmo vivendo grandes desafios, dificuldades nunca antes imaginadas, sinto-me muito grata por estar nesta missão”, revelou. “Nesta missão de Deus aqui no Timor Leste, tento acompanhar a vida do povo, visitando famílias, levando a Eucaristia para idosos e doentes, participando de momentos culturais e religiosos, próprios do povo”, acrescentou.


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Em 2019, a Congregação das Irmãs Franciscanas de São José iniciou uma nova frente missionária no Timor Leste, um pequeno país no Sudeste do Continente Asiático, uma das nações mais jovens e mais pobres do mundo que, há 20 anos, se autodenomina de “República Democrática do Timor Leste”. Colônia portuguesa até 1975, sofreu a invasão da Indonésia que dominou a nação, de forma violenta, de 1975 até 1999. O povo resistiu fortemente  e um terço da população perdeu sua vida nesta luta. Quando a mídia passou a divulgar os massacres, a  Organização das Nações Unidas (ONU) interveio e ajudou a nação a se libertar. O líder da transição foi o embaixador brasileiro da ONU, Sergio Vieira de Melo (1999-2002). O Idioma nacional mais falado é o tétum. O português é idioma oficial, mas bem poucos conseguem se comunicar por meio do português.

Irmã Zenilda com professores da Escola Pública, Timor Leste. Foto: Acervo Pessoal

A Igreja contribuiu muito, tanto na resistência contra a dominação, como na reconstrução do país após a independência. Mas a própria Igreja é muito necessitada na sua missão. Faltam recursos econômicos e, mais ainda, recursos humanos. A Igreja do Brasil tem ajudado muito, enviando formadores, professores, missionários. A nação é majoritariamente cristã, mas falta evangelização.

Neste mutirão solidário, entramos nós, as Irmãs Franciscanas de São José. Sabemos que a missão é de Deus, mas Ele conta com a nossa contribuição.

Visita do bispo D. Basílio do Nascimento e de líderes comunitários. Ao lado, Ir. Zenaide. Foto: Acervo Pessoal

Então, em 2019, Ir. Zenaide Laurentina Maier e eu, Ir. Zenilda Luzia Petry, fomos enviadas para esta divina missão no Timor Leste.  Estamos numa montanha no interior, Laclo, não distante de Dili, mas de difícil acesso. Vivemos de forma bastante isolada, no meio de um povo bom, porém de pouca comunicação, uma vez que falam outro idioma, além do tétum. Em tempos de pandemia, este isolamento ficou ainda mais evidente.

Idosos a quem Irmã Zenilda ministra a Sagrada Comunhão. Timor Leste. Foto: Acervo Pessoal

Eu, com 70 anos de idade, iluminada pela “estrela guia da Palavra de Deus” vim nesta jornada missionária. A convicção paulina do “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho” (1Cor 9,16) é meu lema de vida. E, junto com o salmista, suplico sempre: “que vosso espírito bom me conduza” (Sl 143,10). Agora estou aqui tentando servir no que me é possível. Creio que mais uma vez o testemunho de Paulo se faz luz. Chega-se numa terra estrangeira, no meio de um povo com outro idioma, outra cultura, outra compreensão da vida e outra maneira de conhecer e adorar a Deus, chega-se “cheia de fraqueza, receio e temor” (1Cor 2,3).  Também como Paulo, experimento que “minhas palavras e minha pregação nada tinham da força da linguagem da sabedoria” (1Cor 2,4). Acostumada, no Brasil, a servir a Igreja e a Vida Religiosa em constantes assessorias bíblicas, no Timor Leste faço a experiência de que na “fraqueza está a força de Deus” (cf 2Cor 12,10). O limite do idioma faz com que se compreenda melhor que a presença e a confissão da própria fé seja a primeira forma de Evangelização, tal como nos ensinou São Francisco de Assis.

Celebrações da leitura da Palavra de Deus, Timor Leste. Foto: Acervo Pessoal

O simples gesto de saudar as crianças, a atenção aos idosos e doentes, a valorização dos agricultores comprando seus produtos, o ir e vir em transportes populares e sem segurança, a adaptação aos costumes alimentares, o respeito às tradições e costumes do povo, tudo tem força evangelizadora.

Nesta missão de Deus aqui no Timor Leste, tento acompanhar a vida do povo, visitando famílias, levando a Eucaristia para idosos e doentes, participando de momentos culturais e religiosos, próprios do povo. Além desta presença simples no cotidiano, dois dias por semana vou a Dili, capital, dar aulas de Sagrada Escritura no Curso de Teologia. Faltam professores. Para  o Estudo Bíblico, o Instituto tem buscado professores do Brasil, de Portugal e da Indonésia, que dão cursos intensivos. Com a pandemia, isto já não se tornou mais possível. A Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná tem sido a grande parceira da formação no Timor Leste.

Irmã Zenilda e sua atuação missionária e pastoral, Timor Leste. Foto: Acervo Pessoal

Diante de tal situação, dar aulas de Sagrada Escritura no curso de Teologia tem sido uma forma de contribuição na missão de Deus no Timor Leste. Ajudar na formação dos futuros sacerdotes é, para mim, uma forma de manter-me fiel ao divino mandato do “ide a todas as nações”.

Mesmo vivendo grandes desafios, dificuldades nunca antes imaginadas, sinto-me muito grata por estar nesta missão. A experiência mais profunda que vivo é o sentimento de impotência diante das grandes necessidades. Esta experiência, porém tem me ajudado a buscar a Deus com mais intensidade, a ler a Sagrada Escritura com novos olhares, de compreender e respeitar as pessoas com outra cultura, a ver Jesus vivo e presente nas pessoas que também vivem em lugares que “não tem onde reclinar a cabeça”.  Por outro lado, faço uma experiência de muita solidão, de silêncio, de não comunicação com as pessoas, pois a diferença de idioma atinge o ânimo da gente. Busco me fortificar na oração, na contemplação, na espiritualidade. A presença e apoio da família, da Congregação e da Igreja me fortifica na missão. No dia 05 de março celebrei os 72 anos de idade. O salmo responsorial do dia rezava: “recordai-vos sempre das maravilhas do Senhor”. As saudações recebidas foram um verdadeiro louvor das maravilhas do Senhor.

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