Por que Jesus se proclama “o Bom Pastor”?

Paz e Bem! Com alegria a coluna do “Em Fraternidade” recebe Frei Gabriel Dellandrea, um velho conhecido para falar sobre uma temática muito presente na Liturgia da Palavra dos últimos dias: Jesus, o Bom Pastor. O religioso explica a missão do bom Pastor e afirma que na Igreja todos são convidados a serem bons pastores no serviço que desempenham.

“E também somos convidados a sermos pastores de nós mesmos, nos conduzindo para bons lugares, cuidando da nossa saúde mental e integral. O pastor, substantivo que ganhou o adjetivo “bom” a partir de Jesus, agora nos convida ao verbo (neologismo) “bem-pastorear” a fim de que possamos ser imagem Daquele que nos inspira”, refletiu Frei Gabriel.

Leia na íntegra sua reflexão:

O adjetivo “bom” qualifica o substantivo “pastor”. Por que Jesus usa essa forma de qualificar?

O trabalho de um pastor ocorre na Bíblia desde o início (Abel era pastor). Como muitos lugares na região onde Jesus vivia eram semidesérticos, tal função empreendia muito esforço. Essa função poderia ser classificada em dois tipos, os bons e os maus.

Os bons cuidavam das ovelhas, iam ao encontro das perdidas, protegiam elas dos animais selvagens. Normalmente os bons pastores eram os donos das ovelhas. Eles sabiam o quanto uma ovelha custava, sabiam que a carne dela iria alimentar a sua família. Os maus pastores, chamados por Jesus de mercenários – e essa palavra significa “servo contratado” – normalmente faziam o que estava prescrito. Eram contratados pelos pastores para ajudar a cuidar das ovelhas, mas não eram capazes de ir além, uma vez que não tinham sentimentos pelo rebanho. Estavam aí pelo salário.

Jesus não se apresenta apenas como pastor, mas qualifica essa missão colocando sobre si o adjetivo “bom”. O evangelho de João foi escrito na língua grega popular e esta palavra foi escrita como “kalós”. Este termo é traduzido como bom sim, porém ele tem uma ideia mais profunda do que bondade. Este termo está relacionado, num primeiro momento com beleza, daí que vem “caligrafia” – bela escrita. É o bom que encanta. Não é o bom bonzinho, mas o bom que nos motiva a ir além, a querer estar com aquilo mais vezes. É como uma música boa, bela, que queremos ouvir diversas vezes, ou então um lugar bom, bonito que queremos estar lá por muito tempo.

E dizer no grego que uma pessoa era “kalos” significava elogiar a sua beleza externa e também a sua personalidade, a sua forma de agir. A beleza não estava só no externo, mas também trazia algo de interno. Uma pessoa considerada bela era “completa”: bonita por dentro e por fora.

Jesus apresentando-se com o “bom pastor” na verdade se apresentava como o “belo pastor”, como o pastor a ser imitado, a ser honrado. O pastor que apresentava harmonia entre aquilo que dizia e fazia. Por isso ele diz a sua missão como pastor é dar a vida por suas ovelhas. Ele não estava dizendo da boca para fora, mas como celebramos na Sexta-feira da Paixão, ele falou e fez! A beleza do Bom Pastor é sua coerência.

Santa Clara de Assis entendeu muito bem essa beleza do Bom Pastor. Inclusive ela afirma a uma de suas amigas, numa carta, que a nossa experiência mística pode acontecer a partir de uma metáfora: nos colocarmos diante de um espelho onde de um lado estamos nós, e do outro, o Cristo. E a dinâmica é a seguinte: nós, aos poucos, através do reflexo dele, irmos ficando mais parecidos com Ele. Veja um trecho deste escrito:

Quarta carta de Santa Clara a Inês de Praga.

Na Igreja somos convidados a sermos bons pastores das funções e missões que recebemos. Não fazer por aplausos, mas por amor. E também somos convidados a sermos pastores de nós mesmos, nos conduzindo para bons lugares, cuidando da nossa saúde mental e integral. O pastor, substantivo que ganhou o adjetivo “bom” a partir de Jesus, agora nos convida ao verbo (neologismo) “bem-pastorear” a fim de que possamos ser imagem Daquele que nos inspira.


Frei Gabriel Dellandrea

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