“Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28)

Não costumo invadir o espaço de atuação do Frei Jhones, mas nesta semana, vou quebrar o padrão. No próximo final de semana, comemoramos a “Festa da Divina Misericórdia”, ou “Oitava da Páscoa” – uma festa incluída no calendário da Igreja pelo então papa (e hoje santo) João Paulo II no ano 2000.

Santa Faustina Kowalska, polonesa como João Paulo II, registrou em seu diário sobre esta data a seguinte revelação (do próprio Jesus), ocorrida no ano de 1931: “Desejo que a Festa de Misericórdia seja um refúgio para todas as almas, especialmente para os pecadores. Neste dia estarão abertas as entranhas da minha Misericórdia. Derramarei um mar de graças nas almas que se aproximarem da fonte da minha Misericórdia. A alma que se confessar e comungar alcançará o perdão das culpas e castigos. Neste dia estarão abertas as comportas divinas, pelas quais fluem as graças. Desejo que seja celebrada solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa. A humanidade não terá paz enquanto não se voltar à fonte de minha misericórdia” (Diário n. 699).

Há algumas semanas, durante a visita do Ministro da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil à nossa paróquia, Frei Paulo Pereira, ele nos lembrou que “não devemos ser aqueles cristãos da ‘Sexta-Feira da Paixão’, mas os cristãos do ‘Domingo de Páscoa’”.

Eu penso um pouco diferente: temos que buscar alimentar em nós o Cristo da “Festa da Divina Misericórdia”; este Cristo já passou pelos sofrimentos da “Sexta-Feira da Paixão”, já ressuscitou glorioso no “Domingo da Páscoa” e se coloca junto aos seus, até lhe dando a possibilidade de tocar as “lembranças” que o seu Amor por nós deixou gravadas nEle, para que sintamos, de forma humana e tangível, quanta transformação esse Amor e o Perdão, vindos de Deus, podem trazer para as nossas vidas.

Creio que a única pessoa que realmente tenha experimentado, de uma forma completa, esta sensação, tenha sido o “Poverello” de Assis; passados praticamente 800 anos deste momento de profunda oração e identificação com Jesus, o “alter Christus” ainda nos impressiona a todos com esse episódio de plena fé.

Aos que não puderem, trago apenas alguns pensamentos para reflexão: “Jesus ressuscitado aparece aos discípulos várias vezes; com paciência, conforta os seus corações desanimados. E assim, depois da sua ressurreição, realiza a «ressurreição dos discípulos»… Jesus levanta-os com a misericórdia… É muito difícil ser misericordioso, se não nos damos conta de ter obtido misericórdia. Antes de tudo, obtêm misericórdia mediante três dons: primeiro, Jesus oferece-lhes a paz, depois o Espírito e, por fim, as chagas. Em primeiro lugar, dá-lhes a paz… Não traz uma paz que, de fora, elimina os problemas, mas uma paz que infunde confiança dentro. Não uma paz exterior, mas a paz do coração… A paz de Jesus suscita a missão… A paz esteja contigo, que tens uma missão. Ninguém pode realizá-la em teu lugar. És insubstituível. E Eu acredito em ti. Em segundo lugar, Jesus usa de misericórdia com os discípulos oferecendo-lhes o Espírito Santo. Dá-O para a remissão dos pecados (cf. Jo 20, 22-23) … Precisamos de abrir o coração, para nos deixarmos perdoar. O perdão no Espírito Santo é o dom pascal para ressuscitar interiormente. Peçamos a graça de o acolher, de abraçar o Sacramento do perdão; e de compreender que, no centro da Confissão, não estamos nós com os nossos pecados, mas Deus com a sua misericórdia… Tal é o caminho a seguir por aqueles que ouvem as pessoas de Confissão: fazer-lhes sentir a doçura da misericórdia de Jesus, que perdoa tudo. Deus perdoa tudo. Depois da paz que reabilita e do perdão que levanta, eis o terceiro dom com que Jesus usa de misericórdia com os discípulos: apresenta-lhes as chagas. Por aquelas chagas, fomos curados (cf. 1 Ped 2, 24; Is 53, 5). Mas, como pode uma ferida curar-nos? Com a misericórdia. Naquelas chagas, como Tomé, tocamos com a mão a verdade de Deus que nos ama profundamente, fez suas as nossas feridas, carregou no seu corpo as nossas fragilidades. As chagas são canais abertos entre Ele e nós, que derramam misericórdia sobre as nossas misérias. As chagas são os caminhos que Deus nos patenteou para entrarmos na sua ternura e tocar com a mão quem é Ele. E deixamos de duvidar da sua misericórdia… E tudo nasce daqui, da graça de obter misericórdia. Daqui começa o caminho cristão. Se, pelo contrário, nos apoiamos nas nossas capacidades, na eficiência das nossas estruturas e dos nossos projetos, não iremos longe. Só se acolhermos o amor de Deus é que poderemos dar algo de novo ao mundo.” (Igreja do Espírito Santo em Sassia, 11/04/2021)

Aos que gostam das citações menores, peço desculpas, mas precisava conservar o mínimo do texto para a compreensão do contexto.

Até onde minha mente permite entender, este é o cerne dos ensinamentos a serem revistos durante este Ano Jubilar da Impressão dos Estigmas: o Amor de Deus impresso no corpo de Francisco na forma das chagas que Cristo recebeu pela salvação dos nossos pecados, nos lembrando do Amor e da Misericórdia que devemos ter e dedicar a todos – já que, sob a ótica fornecida em Mt 23,8, ‘somos todos irmãos e irmãs’.

Sei que é muita coisa, ainda mais com a mentalidade vigente no mundo e a “guerra aos pedaços” que vemos por aí… Mas diz o sábio que o passo mais difícil de uma caminhada é o primeiro…

E aí, pronto para trilhar este caminho?


Leila Denise

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