“Se eu não ver as marcas dos pregos, eu não acreditarei” (Jo 20,25)

Oi gente, Paz e Bem. Com alegria começamos mais uma temporada juntos aqui no Conexão Fraterna, neste novo ano.

Ao longo da minha vida cinquentenária, conheci várias pessoas que, como o apóstolo Tomé, tiveram dificuldade em acreditar nos pequenos milagres com os quais nos deparamos no dia a dia: queriam um grande e vistoso sinal da Misericórdia e do Amor de Deus para acreditar em sua presença.

Também posso lembrar de algumas pessoas que, por algo que se passou em sua história ou na vida de alguém que amavam, não conseguiram mais ver a presença do Amor de Deus em suas vidas; alguns, além de “ficarem de mal” com Deus, resolveram não acreditar mais na sua existência.

Faz pensar o desejo que o “Poverello de Assis” cultivou de vivenciar os fatos da vida de Jesus como o próprio Cristo o vivenciou. O nascimento em uma manjedoura em Belém foi recriado em Greccio; o Amor pelos irmãos que Deus os tinha dado pelo mundo todo foi exercitado no decorrer de sua vida de penitente; porém, depois de ter contato com a história e com a definição da “Perfeita Alegria”, ainda me é difícil compartilhar o desejo de sentir a dor de Jesus na crucificação.

Na Quaresma de São Miguel do ano de 1224, no Monte Alverne, São Francisco obteve a graça de, literalmente, sentir na própria pele o flagelo das chagas – ou estigmas – de Cristo. E o relato de Celano, biógrafo de São Francisco, sobre o ocorrido deixa claro que Francisco vivenciou naquele momento a plenitude do Amor que o próprio Cristo vivenciou no alto do Gólgota.

Neste ano, nós, franciscanos, comemoramos o jubileu dos 800 anos deste acontecimento – sim, acontecimento, porque nenhum de nós, a não ser movidos por uma Fé e uma Confiança que possibilite atravessar as fronteiras da razão, do tempo e do espaço, poderia imaginar ser possível tal evento…

Infelizmente, nos dias de hoje, nossa realidade nos mostra que as chagas que conhecemos no mundo normalmente não estão aparentes, como em Cristo e em Francisco, nas mãos e nos pés, mas na alma; e, através delas, escorrem a Esperança e o Amor, apenas nela permanecendo o desejo da Misericórdia dos irmãos…

Sobre esses últimos estigmas, o Francisco de hoje tem algumas palavras de alerta e ensinamento:

São Bernardo diz que o Verbo de Deus que se fez homem é um “monte de misericórdia”, que na Paixão, com os estigmas, foi derramada sobre nós. Os estigmas do Senhor, as chagas do Senhor são precisamente a porta de onde provém a misericórdia. Aquele “monte de misericórdia”, que é Jesus Cristo. E São Bernardo continua, seguramente já lestes isto: se me sinto deprimido, se pequei demais, se fiz isto, isso, aquilo… vou e refugio-me nas chagas do Senhor. Estais conscientes de que sois “chagados”. Cada um de nós é “chagado”, e resolve a própria vida, se a une às feridas do Senhor. Somente a consciência de uma Igreja “chagada”, de uma Congregação “chagada”, de uma alma ou de um coração “chagado” nos leva a bater à porta da misericórdia, nas feridas do Senhor. Quem sabe que é “chagado” busca as feridas… as pessoas que não se sentem “chagadas” pelo pecado não entendem as feridas de Jesus…. «Fomos curados pelas suas chagas» (cf. 1 Pd 2, 24) … Não tenhais vergonha da devoção às chagas do Senhor. É o vosso caminho de santificação. Ensinai às pessoas que todos nós somos “chagados”. O pecador “chagado” só encontra perdão, paz e consolação nas feridas do Senhor, não alhures”. (Discurso aos participantes no Capítulo Geral da Congregação dos Estigmatinos, Sala do Consistório, 10/02/2018).

Inevitável nos perguntarmos: “Quais são as nossas chagas?” “Como curamos nossas feridas?” “Até que ponto conseguimos vislumbrar compartilhar com Cristo dos seus estigmas?” “Estamos disponíveis para, como Francisco, nos permitirmos sentir o Amor e a Misericórdia de Cristo através das suas chagas?” “Como agimos com nossos irmãos chagados na alma? O que fazemos para tentar lhes devolver o Amor e a Esperança?” “Como estão preenchidos os vazios deixados por suas chagas?”

Sei que ainda nem chegamos na Quaresma, mas é importante nos conscientizarmos – eu também, na vivência diária – de que muito do que ocorre no mundo que nos cerca pode ser evitado ou minorado por nossas atitudes e a quantidade de amor e misericórdia que a ela dispensamos…

Você já pensou sobre isso?


Leila Denise

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