“E as multidões unanimemente prestavam atenção” (At 8,6)

Quando estava nos bancos escolares (e aí já se vão alguns anos…), nas aulas de História, lembro de ouvir que houve um tempo em que o poder da Igreja se fazia conhecer onde quer que fosse. Isso, inclusive, foi perceptível durante os estudos sobre as Cruzadas e das linhas sucessórias dos tronos de várias nações, firmadas e chanceladas pelos papas de outrora.

A autoridade da Igreja era inquestionável e a única opinião com valor, e se matava e mandava matar por ela. Não foi uma nem duas vezes na história que, em nome de Deus, se derramou sangue inocente em nome da fé, tendo por escudo na batalha uma cruz…

É preciso pontuar que, para tudo na vida, há um ônus e um bônus. O fato de a Palavra de Deus e os ensinamentos do Amor serem amplamente difundidos, a meus olhos, é algo extremamente bom; porém, a “obrigação da fé sob pena de morrer” e o domínio político e social da realidade da época – sem ter o compromisso com o mais pobre, que só era utilizado como fantoche nas brigas dos poderosos e como “bucha de canhão” nas guerras – é o que me incomoda…

Voltemos ao título. No contexto do versículo acima, durante a perseguição de Saulo aos cristãos, Filipe estava pregando na Samaria – como várias vezes explicado nas homilias, uma “terra de impuros” – e, neste período fez várias curas (At 8,7). Quem teria a “ousadia” de desviar seus olhos e seu coração de tais sinais?

Às vezes, me pego me questionando sobre os sinais de Deus em nossa vida e os sinais da nossa vida em Deus… Com a “concorrência” que as mídias e a correria do dia-a-dia nos trazem, ter a atenção unânime para qualquer possível sinal de Deus é um desafio que só Ele pode determinar e cumprir. Nem mesmo o terror das guerras que assolam nosso globo terrestre nestes dias é uma unanimidade! E concordo com o slogan tão repetido pelos defensores das causas negras, “Vidas Negras Importam”, mas não gosto de restringi-lo – não pela sua causa, extremamente nobre e justa, mas porque ainda excluem parte da sociedade –; no meu entendimento, se poderia colocar o slogan “Todos Importam” (já antecipando o que trabalharemos na próxima Campanha da Fraternidade), porque “Todos Somos Irmãos”.

Necessário trazer um questionamento do Papa Francisco que, partindo do trecho do Livro dos Números onde Moisés, a pedido do Senhor, faz uma serpente de bronze para que, olhada por quem foi picado pelas serpentes do deserto, possa ser curado, ele nos questiona sobre o como usamos o sinal da nossa fé e de qual forma ele se manifesta em nossas vidas:

“Mas o que é a cruz para nós? É o símbolo dos cristãos, e nós fazemos o sinal da cruz… A cruz para algumas pessoas é um distintivo de pertença: sim, uso a cruz para fazer ver que sou cristão – e está bem – contudo, não só como distintivo, como se fosse um clube de futebol, mas como memória d’Aquele que… abaixou-se até se aniquilar totalmente… Hoje a Igreja propõe um diálogo com este mistério da cruz, com este Deus que se fez pecado, por amor a mim. E cada um de nós pode dizer ‘por amor a mim’. Assim, é oportuno perguntar-me como uso a cruz: como uma recordação? Quando faço o sinal da cruz estou ciente do que faço? Como uso a cruz: só como um símbolo de pertença a um grupo religioso? Como uso a cruz: como ornamento, como uma joia de ouro com muitas pedras preciosas? Aprendi a carregá-la nos ombros, onde dói?” (Capela Santa Marta, 04/04/2017).

Precisamos, neste Advento, rever nossas atitudes e pensamentos, para nos prepararmos dignamente para um Natal que nos traz um Cristo Menino, pobre e frágil, que nos ensinou como viver o Amor e a Misericórdia e, por este motivo, se dispôs a morrer por nós, como se criminoso fosse, em uma cruz.

Inevitável, no início deste (novo) Ano Litúrgico nos perguntarmos: Como pretendo viver e demonstrar a minha fé? Serei “levado por uma onda” ou serei firme nos meus propósitos de fé? O que representa e significa usar uma cruz (ou um tau) no peito? Sei carregar a cruz? E por amor a quem?

Tenhamos coragem!

Leila Denise

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