Tratemos de discernir juntos o que é certo e de aprender o que é bom. (Jó 34:4)

Passei dias pensando em escrever sobre a prudência; fui pesquisar os versículos bíblicos que tratam do tema e, para minha surpresa, encontrei pouquíssimas passagens no Novo Testamento com essa abordagem. A maioria das (poucas) citações são dos chamados “Livros Sapienciais” da Bíblia (Provérbios, Salmos, Eclesiastes, Sabedoria e Eclesiástico).

Fiquei com uma sensação estranha de que a prudência parece não ser algo para o nosso tempo, que isso é coisa de “muito antigamente” … E, confesso, um certo amargor e uma vã preocupação chegou a ocupar os meus pensamentos… Porque chegou a me parecer que a prudência está “fora de moda”, ultrapassada… 

Aí, resolvi pesquisar sobre a prudência, e encontrei algo que me alegrou: em um texto, dizia-se que “prudência não é cautela”, mas sim discernimento para saber escolher.

E aí, sobre discernimento, encontrei (em números) mais passagens bíblicas – a maioria, ainda, do Antigo Testamento… Mas pelo menos havia algo no Novo Testamento…

Porque o discernimento é necessário para não cairmos na tentação do “enfraquecimento do coração”, como explica o Papa Francisco, referindo-se a Salomão, principalmente quando comparado ao Rei Davi; como nos fala a reportagem do L’Osservatore Romano (ed. em português, n. 07 de 15/02/2018), .

“A reflexão do Papa… começou do destino inesperado que coube ao rei Salomão, que todos conhecem como grande e sábio. Com efeito, o coração do soberano «não permaneceu íntegro com o Senhor, seu Deus, como o coração de David, seu pai». Uma surpresa porque, disse Francisco, «não sabemos se Salomão cometeu pecados graves; mas David, sim. Sabemos que Salomão levou uma vida tranquila, governou», enquanto que «David teve uma vida um pouco difícil, caiu no pecado, fez a guerra». E no entanto «Salomão é rejeitado pelo Senhor, e David é santo. Existe uma atenuante: «Quando David se convenceu que pecou, pediu perdão, fez penitência», e embora não tenha pecado uma só vez, «teve sempre a humildade de pedir perdão». Diversa foi a situação de Salomão, que era sempre «equilibrado, não tinha cometido pecados graves»; mas no trecho bíblico lê-se que o seu coração «se “desviara” do Senhor», um pouco de cada vez, progressivamente. Ele cedeu às suas mulheres, que o haviam induzido à idolatria… O seu coração «desviou-se do Senhor. E parece que ele não se dava conta disto». Aqui, explicou o Papa, estamos diante do «problema do enfraquecimento do coração». Poder-se-ia dizer de uma decadência sorrateira, porque «não é como uma situação de pecado: quando cometes um pecado, dás-te conta imediatamente». Ao contrário, «o enfraquecimento do coração é um caminho lento, que desliza pouco a pouco». Isto aconteceu com Salomão que, «adormecido na sua glória e fama, começou a seguir esta via» e o seu coração «debilitou-se». Paradoxalmente, «é melhor a clareza de um pecado, que o enfraquecimento do coração», ou seja, o pecado no qual «deslizas lentamente e não te dás conta… A história de Salomão é muito atual: «Um homem e uma mulher com o coração fraco, ou debilitado, são uma mulher, um homem derrotados», admoestou Francisco, recordando que «este é o processo de muitos cristãos, muitos de nós». Diz-se: «Não, eu não cometo pecados graves»; mas seria preciso perguntar: «Como está o teu coração? É forte? Permanece fiel ao Senhor, ou tu deslizas lentamente?»… Por isso, é sempre bom perguntar: «Mas o meu coração é forte diante do Senhor? Ou, lentamente, deslizo, esmoreço? O que devo fazer?». É necessária vigilância, explicou: «Vigiar sobre o teu coração. Vigiar! Prestar atenção todos os dias ao que acontece no teu coração. Se permanece firme na fidelidade ao Senhor» ou se, dia após dia, lentamente, decai. «David — concluiu o Papa — é santo». Era pecador, é verdade, mas «um pecador pode tornar-se santo». Ao contrário, «Salomão foi rejeitado porque era corrupto». E «um corrupto não pode tornar-se santo» (Meditações Matutinas na Santa Missa celebrada na Capela da Casa Santa Marta, 08/02/2018).

Quando estamos inseridos em uma comunidade que se importa conosco e com a nossa vivência da fé, há sempre uma “alma caridosa” que nos lembra, talvez com outras palavras, sobre a importância de mantermos nossas atitudes e pensamentos agradáveis a Deus; porém, quando nos isolamos, tanto a prática da vida em comunidade quanto a nossa percepção da realidade cristã podem ser distorcidas por qualquer argumento apresentado por pessoas que não necessariamente têm preocupação com a nossa forma de viver os ensinamentos cristãos…

Por falar nisso: como está o seu coração em relação à fidelidade ao Senhor? Aprendendo o que é bom? Vigia…

Leila Denise

Deixe uma resposta