Com que poderei comparar o Reino de Deus?

Durante a missa no último dia de outubro, me peguei pensando (motivada pela homilia do frei) sobre a força que uma semente ou um grão (como o de mostarda, citado no Evangelho) traz dentro de si.

Normalmente as sementes são pequenas, bem menores que os frutos, mas sem elas não há a possibilidade da multiplicação dos frutos nas próximas colheitas – ainda que, no caso das árvores, as “matrizes” permaneçam (se não forem ameaçadas por fatores externos).

E isso me abriu todo um questionamento mental, multifacetado por aspectos biológicos e comparativos… Se, ainda, por analogia, aplicarmos esses questionamentos às questões da vivência da fé, toda uma “cartografia de caminhos” se abre em nosso futuro…

O Papa Francisco, já há algum tempo, vem falando de uma “guerra aos pedaços”. Hoje vemos, de forma explícita e noticiada, duas grandes frentes de batalha, geograficamente localizadas nos territórios da Ucrânia/Rússia e Israel/Palestina. Sabemos que esses dois confrontos trazem em seu bojo motivos históricos, religiosos, financeiros e de soberania (entre outros), mas, acima de tudo, explicitam projetos de poder que desejam se estabelecer de forma mais definitiva sobre o do adversário (seja ele declarado ou velado). E qualquer projeto de poder não se coaduna com, não encontra lugar no Reino preparado para nós por Jesus Cristo.

Baseado no trecho extraído da Carta de São Paulo aos Gálatas (“Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos – 6,9-10a), o Papa Francisco nos deixa uma reflexão que vale a pena ser revista, da qual trago apenas alguns trechos:

“Somos chamados a responder ao dom de Deus, acolhendo a sua Palavra «viva e eficaz» (Heb 4, 12). A escuta assídua da Palavra de Deus faz maturar uma pronta docilidade à sua ação (cf. Tg 1, 19.21), que torna fecunda a nossa vida. E se isto já é motivo para nos alegrarmos, maior motivo ainda nos vem da chamada para sermos «cooperadores de Deus» (1 Cor 3, 9), aproveitando o tempo presente (cf. Ef 5, 16) para semearmos, também nós, praticando o bem. Esta chamada para semear o bem deve ser vista, não como um peso, mas como uma graça pela qual o Criador nos quer ativamente unidos à sua fecunda magnanimidade. E a colheita? Porventura não se faz toda a sementeira a pensar na colheita? Certamente… Mas de que colheita se trata? Um primeiro fruto do bem semeado, temo-lo em nós mesmos e nas nossas relações diárias, incluindo os gestos mais insignificantes de bondade. Em Deus, nenhum ato de amor, por mais pequeno que seja, e nenhuma das nossas «generosas fadigas» se perde (cf. Exort. Evangelii gaudium, 279). Tal como a árvore se reconhece pelos frutos (cf. Mt 7, 16.20), assim também a vida repleta de obras boas é luminosa (cf. Mt 5, 14-16) e difunde pelo mundo o perfume de Cristo (cf. 2 Cor 2, 15). Servir a Deus, livres do pecado, faz maturar frutos de santificação para a salvação de todos (cf. Rm 6, 22)… Semear o bem para os outros liberta-nos das lógicas mesquinhas do lucro pessoal e confere à nossa atividade a respiração ampla da gratuidade, inserindo-nos no horizonte maravilhoso dos desígnios benfazejos de Deus.”

Hoje, comparo o Reino de Deus efetivamente aplicado na Terra visualizando o cessar dessas frentes de batalha e tantas outras, explícitas ou veladas, que se escondem sob motivações tão questionáveis quanto, e exercitando a prática do Bem – através da Promoção da Paz e com a vivência do Amor e da Misericórdia – por onde quer que se passe, física ou virtualmente.

E você, jovem, está pronto para ajudar a semear o Bem, através da sua vivência, e tornar realidade o Reino?


Leila Denise

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