Entrevista com Frei Augusto Luiz Gabriel

No próximo dia 14 de outubro, no município de Xaxim (SC), ocorrerá a Ordenação Presbiteral do atual coordenador deste espaço, Frei Augusto Luiz Gabriel. Creio ser uma boa oportunidade de todos sabermos um pouco mais sobre ele.

Fale um pouco sobre o cidadão Augusto Luiz Gabriel.

Sou Augusto Luiz Gabriel, tenho 29 anos, sou natural de Xaxim (SC), filho de Domingos Gabriel e Elenir Fátima Roman Gabriel. Tenho uma irmã mais velha, Tatiana Gabriel Dervanoski, casada com Luciano Dervanoski. Através deles, nos veio a graça de conviver com a pequena Ângela Helena, de 4 anos, minha primeira sobrinha, da qual sou muito próximo – ela pede pra ligar pro “Dindo” e a gente tem uma proximidade bem bacana. Cresci numa linha (ou localidade) chamada Vila Tigre, no interior de Xaxim, onde meus pais moram no mesmo lugar “desde sempre” – na “roça” – foi este lugar que me viu crescer. Estudei numa escola rural até o final do ensino fundamental. Carrego comigo as marcas desse lugar… Eu brinco que lá as estrelas à noite são mais brilhantes (porque quando apaga as luzes fica tudo muito escuro, então você vê de fato o brilho das estrelas, da lua) … Todas as férias eu faço questão de admirar, apreciar. O cidadão Augusto Luiz Gabriel é alguém do bem (risos)… Sou uma pessoa muito tranquila, mas ao mesmo tempo sou muito crítico comigo mesmo, me cobro bastante; gosto das coisas bem feitas, de desafios, desse universo do franciscanismo… Me realizo nesse universo, me realizo no universo da comunicação, bem como no universo de uma vida paroquial, que é onde estou trabalhando com uma presença mais efetiva neste momento da minha vida. Também gosto muito de lidar, trabalhar e conviver com os jovens – eles também me fazem muito bem. Minha família também é uma família muito unida. É um privilégio poder falar de família, é um privilégio ter um pai, uma mãe, uma irmã, é um privilégio falar de união… Eu sou muito família – inclusive, durante a minha formação, algumas vezes eu fui cobrado sobre isso, porque sou muito apegado a todos (não é porque saí de casa de isso mudou, pelo contrário, só aumentou) … Este cidadão, frei Augusto, também é muito próximo de suas famílias… E quando se trata de amizade, é alguém que pode contar para o que precisar, está aí. Gosto de estar presente na vida dos meus amigos, dos confrades com quem a gente divide uma amizade e cultiva isso também. E franciscano também – frade menor franciscano. Fiz minha profissão solene na Ordem dos Frades Menores em plena pandemia (05/12/2020, foi uma coisa muito diferente, porque só puderam participar os familiares, de máscara, mas foi marcante. Fui ordenado diácono em 17/12/2022, e agora serei ordenado presbítero. Cursei o Ensino Médio em Agudos – na Província religiosa e franciscana –, estudei Filosofia e Teologia, e entre esses cursos fiz uma experiência junto à frente de comunicação de nossa Província, fazendo o percurso vocacional que a Província propõe.

Quando nos apresentamos (virtualmente, porque ainda não nos conhecemos pessoalmente), você me falou que éramos do mesmo Estado. Santa Catarina é um Estado marcado pela influência da imigração de várias origens (seja de outras nações, seja de outras regiões – como os gaúchos), porém ainda conserva pequenos focos de povos originários (indígenas e quilombolas). Qual a tua origem (descendência familiar)? Existe uma convivência com essas comunidades originárias? Caso positivo, até que ponto elas te influenciaram na tua vocação?

Sim, somos do mesmo Estado de Santa Catarina, o Estado mais bonito do Brasil. É um local que tem as marcas, a influência da imigração alemã, italiana, polonesa… Sou descendente de imigrantes italianos – meus avós e bisavós vieram da Itália – , e toda essa influência eu carrego comigo (o gosto pela culinária, por exemplo), ainda que, com o decorrer do tempo, a gente vá lapidando muitas coisas na convivência com as pessoas… Tem muita coisa dessa minha origem/descendência que, na convivência com os confrades, eu fui percebendo que não devo me orgulhar… Então, me orgulho, dos meus avós, da minha família, daquilo que é bom, daquilo que contribui, que congrega, que agrega, que constrói. Aquilo que não é tão bom, a gente deixa pra lá. Relacionada à minha vocação, essa descendência influenciou na minha religiosidade. Minha família toda – e não falo só de pai e mãe, falo de tios, avós, tanto maternos quanto paternos – são muito católicos, são muito frequentadores, ajudaram a construir as igrejas em nossas comunidades… Sem dúvida, isso influenciou, e muito, na minha vocação, na proximidade com o carisma franciscano. Em relação aos povos originários, não tive uma convivência antes de entrar na vida religiosa, apenas tinha conhecimento. Eu fui ter contato, mesmo, quando frequentei uma aldeia num estágio em Chopinzinho (PR), que é próximo de Xaxim (SC); tive várias experiências depois.

Como foi a tua atuação na Igreja antes de ir para o seminário (e com que idade você foi para lá)? Você já trabalhava quando isso ocorreu? Caso positivo, com quê?

Enquanto catequizando, participava da preparação das liturgias, fazia leitura, preces; quando tinha alguma encenação, eu estava lá no meio também – sempre com muita vergonha, timidez, mas ia –; gostava muito de ir na Igreja, mas quando não queria, era carregado pelos meus pais. Eu não tive um trabalho fixo antes de entrar para o seminário. Eu ingressei com 14 para 15 anos e já fiz o Ensino Médio dentro do seminário – na ocasião, foi em Agudos (SP) – depois a escola do Ensino Médio fechou, e eu concluí em Ituporanga (SC). O que eu fazia era contribuir com os trabalhos em casa: cuidava, com meu pai, da roça, de cerca, dos animais, de horta… e o meu trabalho (que inclusive eu ganhava uma “mesadinha” da minha família pra fazer, que era minha responsabilidade) era tirar leite, pela manhã e à tarde, antes ou depois de ir para a escola.

Como você teve o primeiro contato com o carisma franciscano?

Eu venho de uma paróquia franciscana – tem mais de 80 anos que a Província (com os freis) mora em Xaxim. A Igreja Matriz de Xaxim foi construída pelos freis – Frei Bruno Linden, que está em processo de beatificação, foi quem lançou a pedra fundamental, depois outro grande frei, frei Plácido, deu continuação à obra –, sendo quase centenário o carisma franciscano na minha cidade. O contato foi desde pequeno, desde criança, nas celebrações, na catequese, nas festividades de padroeiro; o frei sempre estava lá. Sempre quando eu ia à comunidade e era missa, tinha um frei lá, desde que eu me entendo por gente. Sempre quando eu ia à Igreja Matriz, tinha um frei lá. Eu tenho essa lembrança. Adorava vê-los usando aquela roupa marrom, me chamava a atenção; ao mesmo tempo, negava isso para mim, pensando “quero casar; padre não pode casar, então não é pra mim” … Hoje, inclusive, eu moro, como frade, com o frei que fez a minha Primeira Comunhão, que atendeu a minha primeira confissão; isso é bem interessante.

Onde (em que momento e/ou situação de vida) o Augusto encontrou dentro de si o Augusto “franciscano”?

Ao mesmo tempo que eu já estava ficando “grandinho”, tinha algumas dúvidas, perguntas, também a minha mãe me apresentava outros carismas além dos franciscanos (como saletinos e diocesanos), nesse período de 2007 para 2008 nós passamos por uma dificuldade familiar, pois perdemos um tio para o câncer; e esse tio era muito próximo de nós. Durante todo o processo de doença, eu tenho uma vaga lembrança de saber que um frei estava lá, acompanhando, dando assistência. E hoje, para mim, tudo é muito mais claro; mas só fui fazer essa ligação, preencher os quadradinhos, as pecinhas, depois… O dia que eu fui falar com o frei sobre o meu desejo de ser franciscano (e eu fui e perguntei “Como faz para ser frei?”) foi na celebração do sétimo dia desse meu tio, Arquimedes Tura. Nós fomos na celebração do sétimo dia, e no final da missa, por acaso, eu falei com minha mãe “Vamos lá falar com o frei?”, e a gente chegou lá e conversamos com o frei. Meu primeiro animador vocacional foi Frei Renê Zarpelon (que hoje está em Curitibanos, você conhece), e ele, de cara, já marcou o primeiro encontro vocacional, e isso ocorreu em janeiro de 2008 (foi quando meu tio faleceu). A partir daquele dia, eu vi que a coisa era séria, porque eu comecei a fazer os encontros vocacionais, comecei a conhecer mais a vida de São Francisco. Os primeiros dois livros de São Francisco que eu li são dos meus pais (esses livros estão em casa ainda, meu pai me deu) e eu li aqueles livros, li tudo. A partir daí, a cada encontro, a vida de São Francisco e de Santa Clara foram me encantando mais. Li novos livros, a partir dos encontros, descobri o site da Província e, na ocasião, o seminário de Agudos também tinha um site (www.seminario.org.br); aí, toda vez que eu ia à cidade, eu passava numa lan house pra ver as atualizações; aí, eu copiava tudo que eu podia no Word (em uma hora, porque o dinheiro era curto), salvava num pen drive e, em casa, eu lia. E via as fotos, para aproveitar mais o tempo. E assim foi. E aí eu ingressei no seminário em 2009. Depois (não é mera coincidência, muito menos mérito meu), eu fui percebendo como Deus, em tudo, foi me conduzindo e me concedendo a graça de ser também, hoje, um religioso franciscano. Muitos anos depois, conversando um dia com a minha família, eu fui lembrado desse fato: “Você lembra quando você foi falar com o frei?” Eu lembrava que tinha conversado com o frei Renê, mas não a ocasião… Esse meu tio (da missa de sétimo dia) era jornalista, um ilustre comunicador, e todo dia ele rezava, pela manhã e à tarde, a oração do Angelus. Ele tinha uma voz imponente, marcante, e todo santo dia, domingo a domingo, às seis horas, ele rezava. E aí isso me emocionou muito, e fui tendo mais clareza, mais compreensão, que tudo faz sentido, e que esse meu gosto pela comunicação tem suas influências familiares. Para nós, diáconos, presbíteros, a palavra é o nosso meio de comunicação; eu me vejo desafiado a comunicar o Evangelho a toda criatura – que é o lema da minha ordenação presbiteral, a partir do encontro do Augusto com o “Augusto franciscano”.

Como se materializou o “vocare” do Frei Augusto (qual o “start” para ir para o seminário)?

Como já comentei acima, eu fiz os encontros vocacionais e fui para o seminário. Ingressei no seminário de Agudos, e, no começo, não tinha muita certeza. Eu lembro que minha família até brincou que “eu deveria ir para ficar um mês, no mínimo”, não era para voltar para casa antes – mas isso era porque eu nunca tinha saído de casa (ou, num português bem claro, “nunca tinha saído da barra da saia da mãe”, como eles dizem) … Essa vocação foi se materializando no decorrer dos anos, das experiências, das vivências que eu fui fazendo, e ela vai se materializando, se concretizando, dia após dia, também.

Quando conversamos (virtualmente) pela primeira vez, você me falou que morava em Petrópolis, agora está no Espírito Santo… O franciscano, por opção, não deve ter nada de seu para evitar o apegar-se. Ainda que faça parte do carisma que você escolheu, como é viver “com a mala nas costas”? Mesmo com as facilidades que a tecnologia hoje nos oferece, como é ficar distante das pessoas com quem os laços de amizade e de amor dificultam o abraço físico?

No nosso primeiro contato, eu estava em Petrópolis (RJ), eu morei 4 anos lá. Os lugares que já passei: Agudos (SP), Ituporanga (SC), Guaratinguetá (SP), Rodeio (SC), Santo Amaro da Imperatriz (SC), Campo Largo (PR), São Paulo (SP), Petrópolis (RJ), Rio de Janeiro (RJ) e atualmente me encontro em Colatina, noroeste do Espírito Santo. Temos, então, por opção, e professamos isso, de não termos nada de próprio, de vivermos em castidade, sem nada de próprio e em obediência. E aí está porque a gente passa por tantos lugares. E, sim, faz parte do carisma, de viver, então “com a mala nas costas”, sempre preparado para mudar; pode ser que você fique um, dois, três, seis, nove, ou, no máximo, doze anos no mesmo lugar, com algumas exceções, mas pode ser que você, dependendo da necessidade, seja convidado e transferido para um outro lugar. Eu não tenho tanta dificuldade em chegar num lugar novo, costumo me adaptar rápido; eu tenho mais dificuldade em largar, em ser transferido do lugar em que eu me encontrava. É claro que, ainda enquanto frade jovem, a gente vai ficando calejado, “cascudo”, durante a vida; então, hoje, isso é muito mais natural. Mas, nas primeiras vezes, eu sofria muito, dava aquele aperto no coração, aquela coisa na garganta, de não querer ir… e, ao mesmo tempo que você sabia que fazia parte do percurso vocacional, você ficava meio angustiado. E é interessante, porque durante a formação, a gente sabe que, ano após ano, a gente vai estar num lugar ou em determinada etapa, nós vamos viver dois ou três anos em um mesmo lugar, como é o caso da Filosofia e da Teologia; mas depois, que você não sabe para onde vai, é sempre um susto… Hoje com tantas facilidades – graças a Deus temos a tecnologia, pois quando eu entrei no seminário, ainda a ligação era por cartão de telefone, e era cinco minutinhos pra falar com quatro pessoas, então era muito rápido – Whatsapp, Instagram, tantos aplicativos de áudio e vídeo, a gente conversa quase que diariamente com tantas pessoas, com a família, e é uma forma de a gente manter esses laços de amizade… E a gente vai aprendendo que isso tudo faz parte, vai entendendo, intuindo, e que também é muito bom. De fato, quando você é desafiado a mudar-se, ir para um novo lugar, ser transferido, você aprende muito… e é tão legal quando você volta em um lugar e você encontra as pessoas (povo) com que você conviveu, e tem tanta coisa para partilhar, para contar sobre a vida, isso é muito legal, muito gostoso também. É uma opção que exige muitas renúncias – nós, como franciscanos, principalmente, não temos lugar fixo, não temos morada “eterna” aqui nesta terra (só no céu), é um desafio, mas é uma lição bonita, e a gente sempre aprende. A gente vai criando laços, a gente vai criando amizades. Hoje já penso que, no final do ano, como todos os outros frades, posso ser transferido ou não… agora já me acostumei, já fiz contatos, e a gente vai desenvolvendo projeto de trabalho, e você quer dar continuidade… A gente pensa no hoje, programa para o próximo mês, não faz aquele projeto para três anos porque a gente nunca sabe o que vai acontecer – o mais comum é que se troque de três em três anos, seja transferido; porém, de primeira transferência, pode ser transferido antes.

Em todos os caminhos, sejam eles espirituais ou seculares, encontramos percalços. Durante o teu tempo de estudos no seminário, houve algum período em que a tua fé foi testada mais fortemente? Se for possível contar, o que aconteceu?

É muito comum que, principalmente no começo, nos primeiros anos, a gente tenha muita dúvida, a gente tenha muita indecisão, insegurança, o que gera crises na gente, o que é muito bom. Nesses primeiros anos, passei por várias crises, inseguranças, conversei com os frades… numa determinada ocasião, no começo, pra desistir… os frades falaram que era para eu esperar, que era para acalmar o coração, aprender desenvolver uma habilidade nova, enfim, e foram trabalhando isso comigo… Isso tudo é muito presente na nossa vida. Aqueles que passaram, tanto na vida religiosa como familiar, que fazem toda uma trajetória, que se colocam no caminho para uma missão, e disseram que não tiveram crise, tem alguma coisa de errado. Todo mundo passa – seja uma crise de vocação, uma crise de fé… em um determinado momento, eu estava com dificuldade para me encaixar em algumas coisas, pra entender algumas cobranças, para também me entender como parte efetiva de uma instituição – às vezes, quando você faz parte de uma instituição grande, tem muitas coisas que são “desafiadoras” … tem decisões que nós não concordamos, mas fazemos parte dessa família, então nós precisamos tocar o barco – … então essas coisas todas geram sofrimento, crises, e aí que a gente recorre ao ponto de origem, ao ponto de partida, como nos lembra Santa Clara, e busca a essência, a essência franciscana, a essência do ser religioso, a essência de estar no seguimento de Jesus Cristo, de estar nessa caminhada; então, a gente vai aprendendo, vai desenvolvendo também formas para que essas coisas, ao longo da vida, não tirem também a nossa paz, e que a gente consiga passar por elas sem sofrimento, sem crises maiores. Dúvidas, anseios, crises, angústias, inseguranças, a gente tem, é muito normal, pois somos humanos; nossa humanidade também fala mais alto, muitas vezes; nós também erramos, nós também pecamos, e quando nos reconhecemos assim, tudo fica mais fácil. Ontem mesmo, eu conversava com um confrade, e nós brincávamos: “Que bom que não somos anjos! Porque, se fôssemos, não estaríamos aqui.”

Participamos juntos do projeto Conexão Fraterna há cerca de dois anos e meio, que é uma ferramenta de aproximação e comunicação entre os jovens que respiram e/ou vivenciam o carisma franciscano, projeto do qual você hoje está na coordenação dos trabalhos. Como é trabalhar comunicando aos jovens um Jesus que traga amor e esperança e um Francisco que, na simplicidade, mostra uma forma de vivenciar esse Evangelho em dias tão conturbados, polarizados e violentos?

Muito obrigada por me lembrar que já são dois anos e meio de convívio… Sim, o Conexão fraterna é uma ferramenta cujo objetivo principal, desde que nasceu (e não mudou), é aproximar os jovens do carisma franciscano através do local que eles mais frequentam, que é a internet. Nós estamos juntos nessa missão! Eu vejo que é um desafio falar de São Francisco aos jovens. Hoje nós temos uma juventude que não gosta muito de leitura, que quer tudo rápido, então nós também somos desafiados, nas nossas limitações, a sermos criativos, a apresentarmos um Francisco, um Jesus que traga uma mensagem nova, uma reflexão atual, nova e que os ajude na sua missão de viver o Evangelho e também no local onde se encontram. Sim, vivemos dias conturbados, com grandes polarizações, dificuldade de diálogo, violência, e o Conexão Fraterna vai na contramão de tudo isso. É por isso que nós falamos de Casa Comum, de Laudato Si, de São Francisco, de Papa Francisco, de ética do cuidado, de tempo da criação, é por isso que nós refletimos sobre o Evangelho todo final de semana, é por isso que nós temos colunas voltadas para a Ordem Franciscana Secular, voltada para pessoas de todas as idades, é por isso que nós temos reflexões sobre os santos franciscanos, uma roda de conversa no “Em Fraternidade”, podcasts, enfim, nós temos um blog com suas redes sociais e nós somos desafiados a comunicar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo – Ele, que foi um grande comunicador do Pai – através dessas ferramentas, de forma criativa, ousada, com coragem, criatividade. Vale mencionar: alguém pode perguntar “Estamos no caminho certo?”; e a gente pode responder (e é bom que a gente lembre disso, não por ego ou por orgulho), “Eu acredito que sim, estamos no caminho certo!”. Ganhamos um prêmio de comunicação da Conferência Nacional dos Bispos no ano passado. Por isso é bom a gente lembrar isso. Graças a Deus, tem sido certo; ultimamente, fomos agraciados com o nosso projeto sendo apresentado num curso de comunicação do Dicastério de Comunicação do Vaticano para pessoas do mundo todo… Uh! Que responsabilidade estar à frente deste trabalho, mas que graça poder contar com a ajuda, o apoio e a presença de todos vocês. Repetindo: é um desafio, mas, ao mesmo tempo, é muito bom, é muito gostoso fazer parte desse carisma, desse projeto que tem crescido tanto, que é ainda um baby de apenas cinco anos, e tem uma vida longa pela frente.

Você sabe que eu compartilho de muitos entendimentos do Papa Francisco (ainda que não consiga aplicá-los efetivamente no dia-a-dia…). Qual das falas do Francisco de hoje que te deixou a marca mais forte?

Obrigada por me lembrar que eu serei presbítero do pontificado do tempo do Papa Francisco. Sei que você compartilha de muitos ensinamentos e reflexões dele, e em relação àquilo que mais me marca é a forma como Francisco faz as coisas. Estamos vivendo um tempo marcado pela sinodalidade, de escutar, de refletir, de perceber os anseios do outro… É uma lógica inversa (não é de quem está “de cima para baixo”), mas de quem está “de igual para igual”, de quem entende a sua missão como um serviço, como um “Lava-Pés” … Essa postura do Papa Francisco me encanta muito, essa simplicidade, esse trazer exemplos do cotidiano para falar determinada realidade… isso tudo é muito interessante… Eu não vou conseguir dizer apenas uma das falas do Papa Francisco, e eu nem vou dizer frases, mas documentos. Os documentos que mais me encantam são Laudato Si (“Louvado Sejas”), Evangelii Gaudium (“A Alegria do Evangelho”) e a Fratelli Tutti (“Todos Irmãos”). São três documentos que eu tive uma proximidade, busquei me inteirar, ler, refletir, ler artigos, comentários… E as falas do Papa que mais me chamaram a atenção estão dentro desses documentos, que falam sobre uma ética do cuidado, da Casa Comum, pois somos todos irmãos.

A Igreja de hoje não tem mais a influência e a importância na sociedade secular que tinha antes das Grandes Guerras (a citação é só para efeito temporal). Como você visualiza o trabalho do padre neste mundo de hoje, onde a Igreja, para a maioria dos fiéis, é “só mais um grupo de convivência em sociedade”? Como ser sinal de um Deus que, segundo a definição do Pai Seráfico, é o “Sumo Bem”, em um mundo onde a “concorrência” dessas palavras e vivências pode-se dizer que chega a ser desleal? Como “chegar” nas pessoas para dizer que elas podem mudar essa nossa realidade e transformá-la de utopia para possibilidade viável?

Acredito que eu saberei responder essa pergunta daqui um ano melhor que respondendo hoje… Porque daqui um ano, se der tudo certo, já terei um tempo, mesmo curto, de experiência. Como religioso, como diácono, temos uma vivência, uma experiência, mas existem alguns serviços, alguns sacramentos, que são ministrados apenas por um presbítero. Como eu visualizo o trabalho de um presbítero hoje, mesmo nessa preparação muito próxima para ser ordenado? Primeiro de tudo, eu vejo como uma missão de serviço, de servir. Presbítero, para mim, é aquele que tem (ou que deve ter) total disposição para o serviço – sete dias por semana, de dia, de noite. É desafiador? É desafiador. É cansativo? É cansativo. Mas eu nutro e carrego comigo essa reflexão. Que tem capacidade mais de ouvir que de discursar, que abraça o povo, acolhe, que está onde o povo está, que participa dos movimentos sociais que o povo participa… Eu visualizo o trabalho de um padre nesse sentido. Graças a Deus, me encontro em uma paróquia que tudo isso é muito propício de ser feito. Essa presença nos movimentos sociais, estar com o povo, participar dos eventos que eles promovem… acho isso bem interessante. E vejo a missão do padre assim, como um serviço. Além disso, obviamente, ser presbítero para pregar o Evangelho, celebrar o culto divino, apresentar um Jesus Trinitário. Eu assumo este ministério do presbiterato tendo consciência da grandeza, da grandiosidade desse serviço, bem como da importância dessa missão, tendo também a clareza de que eu me sinto pequeno diante desse ministério. “Como chegar nas pessoas?” É uma boa pergunta, porque em nossa Igreja a gente tem diferentes tipos de “povo”, pessoas de diferentes classes sociais, com diferentes opiniões. Como chegar nessas pessoas? Pela proximidade, que nos ensina São Francisco de Assis, o próprio Papa Francisco. Ser próximo, se fazer próximo, se colocar à disposição para servir, para ouvir, para fazer as coisas com eles, é uma forma de chegar nas pessoas. Nossas comunidades cristãs podem também mudar uma determinada realidade de sofrimento, de pecado ou de erros. Penso que através disso que eu citei é possível “chegar” nas pessoas, para que, nesse nosso mundo desafiador, o ensinamento de Jesus Cristo se torne não só uma utopia, mas uma concretude da vida de Jesus. Agora, por exemplo, há dois finais de semana, nós estamos ouvindo o Evangelho do perdão e da misericórdia; a gente tem ali “n” exemplos de como praticar isso nas nossas comunidades. Através dos mecanismos que eu acredito que é possível se achegar nas pessoas, a gente também pode apresentar o Evangelho de Jesus Cristo. Como as coisas podem ser diferentes se seguirmos e formos fiéis àquilo que Nosso Senhor Jesus Cristo nos pede, nos orienta, nos ensina.

Como você vislumbra essa transformação, como membro ordenado pela Igreja, na tua vida? Qual o teu desejo para este novo período?

A vocação presbiteral é como se fosse uma segunda vocação dentro da nossa vocação franciscana. O meu desejo pra esse novo tempo é que eu continue sendo um bom frade menor franciscano, tendo uma responsabilidade a mais (e muito grande!), que é ser também um religioso que assumiu o ministério de presbítero. O meu desejo é ser alguém que seja próximo do povo, que eu continue sendo acessível, esteja com eles, participe das coisas. Ser um presbítero, para mim, é criar pontes, como o Papa Francisco nos pede, e não empecilhos ou barreiras. Sim, é desafiador muitas vezes, mas é uma opção muito bonita, que eu assumo com essa consciência (da grandeza do ministério) e também a de que, se formos pensar em quem é digno ou não, ninguém seria, de que sou humano, mas que sou alguém que me coloco à serviço para assumir esse ministério, para levar e anunciar o Evangelho a todas as pessoas e a toda criatura, pois Deus nos prepara, nos capacita para a missão. Eu peço que Deus me conceda essa graça (mais essa!) de ser um bom presbítero – como diz a linguagem popular, de ser um bom padre.

A você, Frei Augusto, nossos melhores votos de uma vida longa, de uma vocação próspera e uma vivência plena da fé.


Leila Denise

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