O seguimento do mestre

“Toda vida, o dia inteiro

Não seria exagero

Se depender de mim, eu vou até o fim.”

“Até o fim” é o título de uma canção da banda Engenheiros do Hawaii que retrata o dilema da continuidade em um determinado propósito e que, por sinal, acaba envolvendo por inteiro a vida do personagem. Em outras palavras, a canção consegue tocar o drama de toda e qualquer vida humana diante das quase infinitas opções, tão diversas entre si, que nos provocam todo dia e o dia todo. Escolher um caminho, diria um sábio, não é tão difícil; o duro, porém, é permanecer nele.

A liturgia da Palavra deste 22º Domingo do Tempo Comum condensa em si desde o chamado que arde o coração do fiel à fidelidade ao Senhor passando pelo compromisso que, após aderir ao chamado, o fiel é convidado a assumir, até às últimas consequências de tal opção que Jesus, no Evangelho, não esconde, pelo contrário, mostra aos seus discípulos.

O seguimento do Senhor é algo grandioso, sim; disso, os que já sentiram em seu coração a Palavra de Deus arder têm por certo. Santo Agostinho, certa vez, disse: “Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora! […] Estavas comigo, mas eu não estava contigo” (Confissões X, 27). A renovação da maneira de pensar e de julgar, à qual somos chamados pelo Apóstolo Paulo, passa justamente pela maneira com que percebemos todas as coisas. Podemos simplesmente passar pelo mundo gastando nossa vida com muitos afazeres sem sabermos sequer o que realmente queremos com tudo isso. Renovar a maneira de julgar e de pensar é conseguir, em cada escuta ou leitura da Palavra, em cada situação da vida, em cada canto por onde andarmos, sentirmos Deus que é eloquente em sua criação e fala de diversos modos comunicando acima de tudo ele mesmo, para termos, nós, com ele, uma relação de proximidade.

Quando Jesus esclarece para seus discípulos como se desdobraria o caminho que ele estava percorrendo, Pedro não compreendendo pede, numa completa prova de amizade, para que aquilo nunca aconteça. Modo diverso é o proceder de Deus que não está ligado a um horizonte tão apequenado como o nosso… O caminho de Jesus, que é o caminho de todo cristão, é de superação, de heroísmo, de desapego. A cruz, por essa entrega de Jesus, é completamente transformada; o que antes era sinônimo de vergonha, torna-se motivo de orgulho e busca sincera.

Cada cristão vai crescendo na proximidade e identificação com o Senhor na mesma medida em que consegue renunciar a si mesmo para acolher algo muito maior. Tal renúncia que afasta de nós algumas coisas, é verdade, aproxima-nos, contudo, de uma realidade significativa, a qual, sem fazer a opção por Cristo, não se consegue pensar ou conceber. 

De fato, nada sabemos ou podemos saber das situações que vivenciaremos no caminho com Jesus; certa, porém, é uma coisa: a paixão, a morte, e a ressurreição. A ressurreição não serve como um simples consolo a fim de suportarmos a difícil passagem pela paixão e pela morte; a ressurreição é consequência imediata de uma vida transformada e ressignificada pelo Senhor, e que se põe de novo e de novo a caminhar com aquele a quem amamos “até o fim”. 

Abraço, e bom domingo!


Frei Lucas Moreira Almeida*

* Frade franciscano da Província da Imaculada Conceição do Brasil, Frei Lucas é graduado em Filosofia pela FAE – Centro Universitário de Curitiba (PR), e atualmente cursa o 1º ano de Teologia no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ).

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