Durante todo este ano de 2023, a Igreja do Brasil vive o Ano Vocacional. Em especial, todos os anos, em agosto, celebramos o Mês Vocacional. Cada domingo deste mês é dedicado à celebração de uma determinada vocação. No primeiro, celebra-se sacerdócio e os ministérios ordenados; no segundo, o matrimônio junto à semana da Família; no terceiro, a vida consagrada, e por fim, no quarto, a vocação dos Leigos.
Por isso, na última semana deste mês vocacional, temos a grata alegria de receber Frei Erlison Campos, da Custódia São Benedito da Amazônia, que nesta entrevista para coluna do “Em Fraternidade”, contou sobre sua vocação religiosa franciscana.
Acompanhe a entrevista concedida a Frei Augusto Luiz Gabriel!
1- Se apresente;
Eu sou frei Erlison Campos, tenho 36 anos e sou natural de Santarém, no estado do Pará. Sou o segundo de quatro filhos e, recentemente fui ordenado presbítero. Muito fácil escrever estas duas linhas mas, deixa eu contar um pouco de como foi esta história.
Eu sempre tive uma relação legal com os frades. Eles sempre estiveram lá na minha vida, mas nunca passou pela minha cabeça em ser um franciscano. Na verdade, não lembro de algum deles ter me convidado para ser religioso. Lembro de que os frades costumavam aparecer lá em casa e conheciam todo mundo da família. Era um pessoal muito legal de conviver, mas eu nunca pensei que pudesse ser um deles.
Por conta das dificuldades lá por casa, eu precisava ajudar de alguma forma. Quando era adolescente, minha mãe tinha uma escolinha e eu dava uma mãozinha por lá. Antes mesmo de terminar o ensino médio, eu já estava trabalhando como assistente administrativo na prefeitura. Então, comecei a trabalhar bem jovem e, por causa disso, acabei fazendo outros amigos. Eu tinha o pessoal com quem saía para festas, uma vida bem animada, mas ao mesmo tempo, eu estava envolvido na Pastoral da Juventude.
Aos 17 anos, passei em três vestibulares e acabei optando por cursar letras e me formei pela UFPA. Pronto: Eu tinha um emprego, eu estudava em uma das melhores Universidades do Brasil, eu tinha amigos com quem eu podia contar, eu tinha a minha comunidade, eu tinha tudo aquilo que um jovem queria ter. Mesmo assim, me faltava algo; algo que eu não sabia explicar.
2- Como começou sua vocação franciscana? (aquela história do bar é incrível!)
Em 2009, um frade chamado Raimundo Reginaldo, assumiu a área pastoral da qual eu fazia parte. Frei Raimundo era desanimado, respondão, chato, mas ele tinha algo de engraçado. E eu gostava daquilo! Aos poucos eu fui me aproximando dele. Certo dia, depois da missa, o dito frade me convidou para tomar uma cerveja. Eu fui! (Evidentemente).
Eu costumo dizer que foi naquela mesa de bar que a minha vocação começou! Nós conversamos como dois amigos e não como o pároco e o paroquiano. Naquele dia, eu partilhei a minha vida com um “quase estranho” como se fôssemos amigos de infância. No final da conversa, ele me convidou para participar de um encontro vocacional. A resposta foi imediata: “Olha já! Isto não é pra mim!”. Os dias passaram e algo de diferente havia acontecido. Era como se eu quisesse reviver aquilo novamente. Mas, o que teria sido bom? A companhia? O Ambiente? A cerveja?
Lá pela metade da semana, o frei Raimundo me faz o convite para ir ao encontro vocacional novamente. Eu tinha um monte de coisa pra fazer: Aulas para preparar, provas para corrigir, textos para ler, etc. Mesmo assim, eu disse que iria. Eu fui! Eu fui e ali, naquele encontro, encontrei o amor da minha vida; encontrei aquilo que me faltava; encontrei a vida franciscana! Naquele primeiro encontro, eu já sabia que era aquilo que me faltava e era aquilo que eu queria para sempre.
3- Quais são as responsabilidades e como é o dia a dia de um franciscano?
Depois de quase treze anos de uma longa formação, missão, vida fraterna, estudos e perseverança, fui ordenado presbítero da Igreja. Evidentemente, ser presbítero é um segundo chamado. Meu primeiro chamado foi à vida religiosa, mas isso é uma outra conversa.
Nós Franciscanos, seguimos a Regra de São Francisco de Assis, que foi estabelecida por ele mesmo no século XIII. Nossas responsabilidades e estilo de vida podem variar de acordo com a nossa fraternidade, mas em geral, aqui estão algumas das principais responsabilidades e aspectos do nosso dia a dia:
Nós franciscanos dedicamos uma parte do nosso dia à oração e à espiritualidade. Seguimos uma vida de simplicidade e humildade, buscando profunda conexão com Deus e a natureza. Nós vivemos em fraternidades e em fraternidade compartilhamos a vida em comunidade, onde rezamos, estudamos e trabalhamos. A vida fraterna é uma parte fundamental da nossa vida.
Muitos de nós são ordenados sacerdotes e têm a responsabilidade de pregar o Evangelho e ministrar sacramentos em paróquias e áreas de missão. Independentemente de sermos ordenados ou não, nós temos um profundo compromisso com a caridade e o serviço aos necessitados. Por isso é comum, que estejamos administrando abrigos, programas de alimentação para os pobres e nos envolvendo em diversas formas de trabalho social.
Outros irmãos franciscanos valorizam a educação e o estudo como uma maneira de aprofundar sua compreensão da fé e da teologia. Eles podem ensinar em escolas e universidades ou buscar estudos avançados. Outro fator fundamental em nossa vida é o trabalho manual e a simplicidade de vida. Alguns franciscanos se envolvem em atividades como agricultura, artesanato ou outras formas de trabalho manual para sustentar a si mesmos e à comunidade. O trabalho é essencial por que nós fazemos um voto de pobreza, renunciando à posse de bens materiais pessoais. Por isso compartilhamos tudo em comum na comunidade e confiamos na Providência Divina para nossas necessidades básicas.
4- Você foi ordenado presbítero recentemente, quais as experiências que vem desenvolvendo desde então?
Com menos de dois meses de ordenado, estou traçando um caminho de aprendizagem. Tudo é novo e ao mesmo tempo belo! Cada sacramento, cada conversa, cada visita, cada encontro é uma experiência nova, cheia de emoções, dúvidas e esperanças. Neste pouco tempo de ordenado tenho buscado ouvir cada confissão como se fosse a primeira, oferecendo o amor e a misericórdia divina. Tenho celebrado cada Eucarística como se fosse a minha primeira vez. Tenho buscado ser sinal de luz e alegria para todos. No mais, o Espírito Santo nos conduz.
5- Como é ser um franciscano do pontificado do Papa Francisco na Amazônia?
O Papa Francisco é um presente para toda a Igreja, mas de forma especial para a região Amazônica. Ser um franciscano do pontificado do Papa Francisco na Amazônia envolve um compromisso profundo com questões sociais, ambientais e de justiça, além de um desejo de apoiar as comunidades indígenas e promover a preservação da região. É uma vocação que combina a espiritualidade franciscana com as preocupações e desafios específicos da região amazônica. Assumir este estes compromissos é assumir aquilo que o Papa Francisco tem sonhado!
6- O que diria a um jovem que deseja ser frade?
A VIDA FRANCISCANA É A MELHOR VIDA A SER VIVIDA. Esta frase por muitos anos foi como que um mantra para mim. Hoje esta frase é a minha inspiração. Se alguém me pergunta o porquê de ser franciscano, esta frase é a minha resposta. Ser Franciscano é ser parte de umas das mais belas experiências que a Igreja proporciona nos últimos 800 anos. Venha! Sem medo de ser feliz!
7- Deixe uma mensagem final, especialmente aos jovens que nos acompanham.
Meu queridos, dêem de graça aquilo que vocês recebem gratuitamente todos os dias. Deus, diariamente nos dá amor, misericórdia, alegria e esperança… tudo de graça. Então, vamos espalhar para o mundo, para todos, sem distinção, o amor, a concórdia, a paz, a alegria de sermos filhos de Deus. Sejamos sal e luz para as pessoas com quem convivemos; Vamos dar tempero, vamos dar sabor na vida do povo. Não sejamos pessoas sem graça! Sejamos pessoas gostosas!
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