“Achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura”

Creio que a todos os cristãos é familiar a imagem descrita por Lucas no seu Evangelho, porque também nós temos essa imagem viva em nossa memória graças à muito presente imagem de Jesus no presépio.

Porém são poucos os cristãos que sabem que, no próximo Natal, estaremos comemorando os 800 Anos da primeira reprodução deste texto em “encenação” ou imagem (como vocês preferirem). Esta façanha foi realizada pelo “Poverello de Assis” em uma gruta na localidade de Gréccio, na Itália, em 1223.

Talvez esta seja a maior expressão de humildade e simplicidade que o Filho Amado de Deus possa ter gerado com a sua encarnação. 

Realizando neste ano o estudo das anotações sobre o Presépio de Gréccio e, neste final de semana, participando do retiro da nossa fraternidade da OFS sobre Virtudes Franciscanas (Simplicidade, Humildade, Amor e Paz – embasadas nas Saudações às Virtudes, encontradas nos Escritos de São Francisco, e nos escritos de São Tomás de Aquino) neste Domingo da Santíssima Trindade, fica difícil fazer qualquer dissociação de ideias, pois me parece tudo estar intimamente ligado: o Pai, fonte de toda a Criação, amou tanto as suas criaturas que, para salvá-las, nos enviou seu Filho Unigênito, para que, através do ensinamento desse Amor às criaturas, nos deixasse Dele seu sinal indelével, o Espírito Santo. E a Trindade sempre esteve presente, para Francisco, nos momentos chaves de sua vida.

Quanto mais tenho a oportunidade de estudar, mais compreendo (ainda que a alguns isso pareça sem propósito) que a Simplicidade e a Humildade do “Menino de Belém” na manjedoura espelham, na verdade, o Amor Ágape em seu sentido pleno. 

Como Frei Dorvalino Fassini, ofm, nos lembra em seu livro “Presépio de Gréccio – O Natal segundo São Francisco de Assis e o Papa Francisco” (que estamos usando como base de nossos estudos), “para Francisco, na gruta já está presente o Calvário, a Cruz; no coxinho a Eucaristia e no Menino o Cordeiro que tira o pecado do mundo. Enfim, Cristo nasce para morrer, para dar sua vida pelos homens, para tornar-se o Pão Vivo do céu, o pão nosso de cada dia.”

Segundo a narrativa de Celano, Francisco tomou essa iniciativa para lembrar a todos a origem do Menino de Belém, “porque o menino Jesus ‘fora entregue ao esquecimento’ (Sl 30,13) em muitos corações”.

O Papa Francisco, na Carta Apostólica “Admirable Signum”, nos afirma que “De fato, o Presépio é como um Evangelho vivo que tranvaza das páginas da Sagrada Escritura” (item 1). Ainda, nos lembra que “Com a simplicidade daquele sinal, São Francisco realizou uma grande obra de evangelização. O seu ensinamento penetrou no coração dos cristãos, permanecendo até aos nossos dias como uma forma genuína de repropor, com simplicidade, a beleza da nossa fé. Aliás, o próprio lugar onde se realizou o primeiro Presépio sugere e suscita estes sentimentos. Gréccio torna-se um refúgio para a alma que se esconde na rocha, deixando-se envolver pelo silêncio. Por que motivo suscita o Presépio tanto enlevo e nos comove? Antes de mais nada, porque manifesta a ternura de Deus. Ele, o Criador do universo, abaixa-Se até à nossa pequenez. O dom da vida, sempre misterioso para nós, fascina-nos ainda mais ao vermos que Aquele que nasceu de Maria é a fonte e o sustento de toda a vida. Em Jesus, o Pai deu-nos um irmão, que vem procurar-nos quando estamos desorientados e perdemos o rumo, e um amigo fiel, que está sempre ao nosso lado; deu-nos o seu Filho, que nos perdoa e levanta do pecado.” (item 3)

Como não entender essa manifestação do Amor – o Espírito Santo – como a consumação da atuação da Trindade Santa? E como não considerar que a Paz (em seu significado pleno) não é resultado desse Amor?

Quem nos falou no retiro, fez questão de associar, ainda, a Paz em sua plenitude através da narrativa de Francisco com o “lobo de Gubbio”: utilizando o espaço aberto pela presença do Amor e do diálogo, por mais diferentes que sejam as necessidades, pensamentos e sentimentos, sempre haverá a possibilidade de se encontrar uma alternativa para a solução das divergências.

Eu tenho certeza que, daqui para frente, cada vez que minha mente direcionar para o Presépio, além lembrar da iniciativa de Francisco, não verei mais esses momentos com os mesmos olhos de antes…

E você, como verá, sentirá e montará o Presépio a partir de hoje?

Leila Denise


Links e livros de referências:

FASSINI, Frei Dorvalino. PRESÉPIO DE GRÉCCIO – O Natal segundo São Francisco de Assis e o Papa Francisco. Editora Evangraf, Porto Alegre, p. 30.

Tomás de Celano, Vita Prima, 85: Fontes Franciscanas,468.

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/papa-francesco-lettera-ap_20191201_admirabile-signum.html

Deixe uma resposta