“Bendito seja o Senhor, pois ouviu as minhas súplicas” (Sl 28,6)
Participando das missas e auxiliando nos cantos, desde a mais tenra infância me vi envolvida com a preparação da liturgia. Como era membro de um coral infantil e gostava muito de cantar, e também comecei, na adolescência, a tocar também com esse coral, tive o privilégio de aprender muitos cantos e ter acesso a como utilizá-los correta e liturgicamente nas celebrações.
Confesso que ao ouvir, pela primeira vez, que um canto muito antigo e que usávamos como “glória” era antilitúrgico me causou o impacto de um soco no estômago… Como um canto tão rico com sua mensagem – e que o povo sabia cantar, gostava de cantar e o fazia há anos – podia ter algo que o impedisse de ser utilizado em uma missa?
Hoje, estranhamente, acordei com a letra de uma das estrofes daquele canto – que fazia mais de vinte anos que não cantava – fixadas na minha memória… E, ainda que ele continue sendo antilitúrgico, me pareceu muito atual em sua mensagem: “Cristo é a cruz de nossa glória, somos todos irmãos seus, nós traçamos nossa história sob a luz da luz de Deus. Nossos pés estão na terra, nossos olhos estão no céu: o Senhor é nosso Deus!”.
Inevitável pensar sobre o ato de louvar ao nosso Deus em nossa vida…
São Francisco de Assis tornou cada momento da sua vida um motivo de louvor ao Pai. Porém, o fazia de uma forma quase que orgânica, sem exageros e pantomimas, com muita verdade, porque esse louvor era acompanhado de atitudes que o endossavam aos olhos de Deus.
E cada vez que penso, falo e escrevo sobre o ato de louvar, lembro daquela passagem que diz “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor!’ entrará no Reino do Céus” (Mt 7,21). E a cada vez me pergunto: “será que eu faço parte desse grupo que ‘entrará no Reino dos Céus’?”
Ao pesquisar sobre o tema e ler um pouco do que o Papa Francisco fala sobre louvar a Deus e vivenciar de sua intimidade através da oração (na missa ou fora dela), meu coração se aquieta um pouco e nele renasce a esperança de poder compartilhar da alegria que emana da possibilidade de ter ‘os pés na terra’ e ‘os olhos no céu’ – e divido com vocês alguns trechos que captaram a minha atenção:
“Esta fórmula codificada de oração… exprime tudo o que realizamos na celebração eucarística: e além disso ensina-nos a cultivar três atitudes que nunca deveriam faltar aos discípulos de Jesus. As três atitudes: primeira, aprender a ‘dar graças, sempre e em todos os lugares’, e não só em determinadas ocasiões, quando tudo corre bem; segunda, fazer da nossa vida um dom de amor, livre e gratuito; terceira, fazer comunhão concreta, na Igreja e com todos“.
Audiência Geral, Sala Paulo VI, 07/03/2018.
Ainda:
“Nós e os anjos temos a mesma vocação: cooperar com o desígnio de salvação de Deus; somos, por assim dizer, ‘irmãos’ na vocação. Os anjos estão diante do Senhor para servir, louvar e inclusive para contemplar a glória do rosto do Senhor… Mas também o Senhor os envia para nos acompanhar no caminho da vida”.
(Meditações Matutinas na Santa Missa, Capela Santa Marta, 29/09/2017)
E, caso o louvor não nos seja suficiente e tenhamos vontade de buscarmos não só a santidade como também onde fixar nossa alegria de vivermos a experiência do Cristo, ainda fica o convite para a leitura (esta, sim, mais longa) da Exortação Apostólica “Gaudate et Exsultate” (“Alegrai-vos e exultai”).
Depois de ler e pensar sobre tudo isso, ainda sinto vontade de perguntar: “Cristo é a cruz de nossa glória?” “Nos consideramos irmãos de Cristo?” “Como traçamos nossa história?” “Estamos sob a luz da luz de Deus em nossos atos?” “Onde estão nossos pés e nossos olhos?”
E a pergunta mais difícil e pesada: “‘O Senhor é o nosso Deus’ em nosso agir e em nosso pensar?” Sei que são muitas perguntas… Mas também é muito grande o Amor de Deus. Coragem! Fé!
Leila Denise