Quando as velas do altar são apagadas e as luzes da Igreja são desligadas, só resta o padre, sozinho na sua vocação, abraçada com amor, para tornar o mundo menos frio, principalmente nas grandes tempestades da vida.
O Papa Francisco afirmou em uma entrevista:
“Uma árvore que cai faz mais barulho do que uma floresta que cresce”.
Discurso do Papa no encontro com os representantes de algumas obras de caridade, 23/03/2023.
Desta forma, todo jardim começa com um sonho do jardineiro. No silêncio da gestação! Antes que qualquer árvore seja plantada ou qualquer lago seja construído, é preciso que as árvores e os lagos tenham nascido dentro da alma.
Quem não tem jardins por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles… Só que até nos jardins tem sombra, dores e trevas.
De fato, nenhum jardim acaba do nada, porque precisam de manutenção constante, passam por tribulações, ventanias e tempestades. E que não são capazes de superar. Logo, o jardim tornasse um deserto!
É a vida humana, presa no dilema, cantada no ofício da Sexta-feira feira da Paixão: “Suster o preço do mundo e preparar para o náufrago um porto, em mar tão profundo”.
Eu que venho de uma cidade do interior, onde a matriz fica na praça do centro. Lá todos conhecem o padre. Lá, o vemos semanalmente ou diariamente, e ele sempre está lá! Disposto para satisfazer nossas preferências… O padre sempre tem que estar disposto, ser acolhedor… e ter tempo. Muito tempo… Que fale bem, mas que fale pouco. De preferência que seja jovem… “Velho e ranzinza, que fique na casa dos padres idosos”.
E que fale sempre o que eu quero ouvir. Com falas pré-fabricadas – supermercado -, embalado/enlatado na prateleira aonde eu vou atrás quando necessito de um discurso que apoie minha causa. O padre vira “couche”/“da autoestima”. E se o “meu padre” não é igual aquele do Instagram, vou atrás do outro.
E as cobranças eclesiásticas do outro lado existem! Muitas vezes acabam não percebendo que até mesmo se excedem, exigem muito e oferecem pouco. Reuniões intermináveis… Esperam produção, obra funcionando, Igreja cheia e caixa alto, nada mais… Não importa a saúde, não importa o humor, nem muito menos o que se vive e como se vive.
A função do padre é correr atrás e dar um jeito de pagar as contas … E rezar para que ninguém faça abaixo assinado, para “denunciar” o Padre que orienta sobre o dízimo na missa. Já que o e-mail chega e o padre, sempre estará errado.
Uma hora, essa cruz pesa. Uma hora o grito do abandono se faz ecoar. Nem sempre se consegue manter o ânimo. A luz da Igreja se apaga, os fiéis retornam para suas casas e a Igreja se esvazia, na solidão da casa… A luz do sacrário continua acessa. Na tentativa de acordar Jesus que dorme no barco, mas a fé já vai embora.
Uma pena a notícia do desaparecimento e da morte de um jovem padre. Mais um com suspeita de autoextermínio no Brasil. Fico imaginando isto no mundo. Quantos… ainda, teremos notícias?!
E daí vemos notas, notas e notas de solidariedade. Notas de pesar… Notas são como cartas? Que família que mora na mesma casa, manda carta? Em família, não se envia carta! Em casa/família se conversa, acolhe e se faz compadecer.
Ficamos com padre Antônio Vieira, que diz: “Há homens que são como as velas; sacrificam-se, queimando-se para dar luz aos outros”. Que o cansaço não vos vença!
Frei Roberto Aparecido Pereira, OFM*
- Frei Roberto Aparecido Pereira nasceu no dia 1º de agosto de 1987 e vestiu o hábito franciscano em 12 de janeiro de 2010. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 28 de agosto de 2016. Foi ordenado presbítero em 30 de março de 2019, na cidade de Lençóis Paulista (SP). Atualmente é atendente conventual e animador vocacional local no Convento e Santuário São Francisco de Assis, no Largo São Francisco em São Paulo (SP).