Pobreza menstrual. Como podemos mudar isso?

No dia 8 de março, comemoramos o Dia Internacional da Mulher, que foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975. É um marco na luta pelos nossos direitos, e hoje aproveito essa data tão significativa – já que dia da mulher é todo dia -, para trazer um assunto importantíssimo, mas que muitas vezes não percebemos o seu impacto tão terrível na vida de tantas: a pobreza menstrual.

Este termo é relativamente novo, mas define uma situação vivida há muito tempo por muitas mulheres, e significa a falta de acesso à itens básicos de higiene da mulher, e também de estrutura de saneamento básico, em um período da vida que ela mais precisa, que é o período menstrual. 

Só quem menstrua sabe o quanto esse tempo do mês é complicado: dores, sangramento, humores e hormônios alterados, não é nada fácil. Agora, imaginem sofrer tudo isso e ainda não ter o que considera-se básico para passar por este período de maneira menos sofrida: água, sabonete, absorventes… Pode parecer absurdo, mas em pleno século XXI, muitas pessoas que menstruam não têm acesso a itens básicos de higiene para passar por uma menstruação menos dolorosa e traumática. No Brasil, conforme dados da UNICEF, cerca de 4 milhões de meninas não têm acesso a itens básicos, por falta de dinheiro; muitas usam panos, papel, jornal e até miolo de pão para conter o sangramento. É comum, infelizmente na camada mais vulnerável de nossa sociedade, que se opte também por comprar comida ao invés de absorventes, que ficam em segundo ou terceiro plano, tendo em vista a necessidade urgente de alimento na mesa da família dessas mulheres. 

Muitas meninas deixam de ir à escola por não ter condições de comprar um absorvente e por não ter acesso ao mesmo na escola, e assim prejudicam seu desenvolvimento escolar, faltando de 5 a 10 dias todo mês. 

Como se não bastasse a dificuldade financeira, ainda pelo menos 713 mil dessas mesmas meninas não tem acesso a banheiro ou chuveiro em suas casas, o que eleva as chances da proliferação  de doenças e infecções por falta de higiene adequada, que pode levar desde a infertilidade até a morte, o que torna a situação caso de saúde pública urgente. 

Nesses dados não incluímos as presidiárias, que não recebem kits de higienes adequados ao seu gênero, e não tem muitas vezes acesso ao mínimo existencial, mesmo custodiadas pelo Estado, pois ainda hoje, se tem como referência para formação desses kits o corpo masculino, sem se dar conta das peculiaridades do corpo feminino. E também não incluímos as mulheres em situação de vulnerabilidade, que também passam por situações terríveis nas ruas sem acesso ao mínimo para uma vida com dignidade, deixando ainda mais terrível a situação.

A nossa Constituição determina que todos sejam iguais perante a lei em direitos e deveres. E é direito de toda mulher ser tratada dignamente, como ser humano, e como seu gênero exige; e é necessário mudanças nesse quadro triste e vergonhoso, trazendo luz a questão. E dentro desse contexto constitucional e político, como de fato o Brasil lida com essa questão hoje?

Hoje, no Brasil, já existe a Lei do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, n. 14.214/2021, mas a mesma, apesar de regulamentada, está condicionada à disponibilidade orçamentária e financeira, o que significa que depende de vontade política para que ser executada, ou seja, sem alguém que a coloque no orçamento, tratando o assunto com seriedade, a lei não cumprirá com o seu papel: dignidade humana as mulheres em situação de vulnerabilidade no período menstrual. 

Onze estados, como o Rio de Janeiro, possuem leis que preveem a distribuição de absorventes, mas não é suficiente para abranger a todas e sanar o problema. Falta consciência sobre o sofrimento delas, falta vontade efetiva de colocar em prática o que está determinado no papel. 

Nós como cidadãos e cidadãs temos o dever de cobrar ações do governo para que essas leis sejam cumpridas corretamente. Mas, para além disso, é preciso criar consciência coletiva e individual sobre o assunto, afinal, também fazemos parte desse todo chamado Brasil e temos também nossa parcela de responsabilidade, mais ainda nós, como seguidores de Cristo, com o carisma de São Francisco de Assis.

Precisamos sair da bolha daqueles que assistem esse tipo de necessidade e não se movimentam para mudar e irmos para o lado de quem deseja realmente uma mudança na vida de cada uma dessas mulheres, que vai para além de um absorvente, mas para a elevação da dignidade de alguém que merece ser enxergada como um ser humano.  

Sempre podemos ajudar a mudar as coisas que acontecem ao nosso redor, e com a pobreza menstrual não é diferente. Só de falar sobre menstruação, já temos um primeiro passo para quebrar as barreiras deste assunto, para começar…

E parafraseando São Francisco, “começando pelo que é possível”, olhar ao nosso redor e enxergar a necessidade de quem está ao nosso lado é um grande passo também … muitos já estão enxergando essas mulheres através de projetos ligados ao combate à pobreza menstrual que você pode ajudar, fazendo campanhas de arrecadação destes itens, e buscando o máximo de informações sobre o assunto.

Ao nosso lado pode ter alguém que precisa de ajuda: na escola, na igreja, na vizinhança… colaborar pela justiça social para estas mulheres, para que possam sair da pobreza extrema em todos os aspectos, mais do que exercer a cidadania, é um ato evangélico, ao qual todos nós devemos estar atentos e prontos a praticar, não por obrigação, mas por amor. 

Se uma irmã chora de dor ou por que não pode seguir sua vida  por falta de dignidade humana e nós não ouvimos seu clamor, é a Jesus que está nela que deixamos de escutar. Que a partir de nós, em nossas casas, escolas, igrejas, essa realidade possa começar a mudar, chegando a todas que precisam. Quem aí topa o desafio? 

Deus abençoe você! Um abraço fraterno,

Ana Karenina.

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