O papel da Igreja no combate ao desmatamento

Há mais de dois anos, o Papa Francisco apresentou ao mundo a Exortação Apostólica “Querida Amazônia”, um resultado do Sínodo dos Bispos endereçada ao povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade. Neste documento construído a muitas mãos, o Santo Padre faz um forte apelo para salvar a Amazônia. O evento que congregou bispos, líderes católicos, religiosos, indígenas e ativistas de nove países da América do Sul, teve forte influência no pensamento de São Francisco de Assis, patrono da Ecologia, e também um fiel companheiro do Papa, que além de admirá-lo, escolheu para seu ministério o mesmo nome. Vale ressaltar que o Sínodo da Amazônia se soma a um conjunto de ações do Pontífice que olham para o cuidado da Casa Comum.

Lindas, exuberantes e verdes. É assim que nos acostumamos a ver as florestas. No entanto, nos bastidores, um nível alto e acelerado de desmatamento preocupa. O que os olhos dos governantes não veem, aos poucos tem gerado inúmeras consequências para todo Brasil e o mundo.

O planeta todo nos foi entregue para ser utilizado com sabedoria. A natureza é uma herança gratuita que recebemos de Deus e que devemos cultivar. Ela não é um deus, mas sinal da expressão da bondade e da beleza que emanam do único e verdadeiro Deus. Ainda mais, ao violentar a natureza, ela adoece ou é ferida gravemente. O que nos foi dado para ser uma bênção se transforma em maldição.

Destruir a Amazônia provoca grandes impactos em todo universo. A chuva que é produzida na Amazônia é importante não apenas para a região. Ela ajuda na geração de energia, na produção de alimentos e no abastecimento de água no centro, sul e sudeste brasileiro. Para os mais de 20 milhões de brasileiros que habitam a Amazônia, o desmatamento nunca trouxe desenvolvimento social, pelo contrário, cerca de 85% dos casos de trabalho escravo do país ocorrem nas áreas desmatadas da Amazônia.

A Igreja não pode se calar diante disto de tamanha devastação da biodiversidade e do uso abusivo da terra. Ainda nos dias atuais, muitos são os exemplos proféticos e de corajosos cristãos, missionários, religiosos e ‘padroeiros’ do meio ambiente que protagonizaram a história da preservação da floresta e do cuidado pela vida. Infelizmente, muitos são mártires, como por exemplo Pe. Ezequiel Ramin, Irmã Dorothy Stang e Irmã Cleusa Coelho. Nestes ‘protagonistas cristãos’, vemos a história profética de quem lutou pelo direito das comunidades, dos indígenas e de muitos outros povos que dependem da floresta para a sua subsistência.

Segundo o Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Michael Perry, o grito dos povos da Amazônia atinge diretamente as ações ligadas à ecologia. É necessário recordar que “para promover uma ecologia integral na vida de todos os dias da Amazônia, é preciso compreender também a noção de justiça e comunicação intergeracional, que inclui a transmissão da experiência ancestral, cosmologias, espiritualidades e teologias dos povos indígenas, em volta do cuidado da Casa Comum” (Instrumentum Laboris do Sínodo, 50).

Muitas são as ações que a Igreja tem tomado perante o combate ao desmatamento.  Reafirmando seu compromisso basilar com os povos da Pan-Amazônia, a Igreja busca ser presença evangelizadora, mesmo com o número escasso de sacerdotes, religiosos e religiosas. Além disso, a Igreja cobra dos governos o respeito para com a Mãe Terra, como definiu São Francisco de Assis, e indica necessários caminhos de cuidado da Casa Comum. Jorge Mario Bergoglio ecoa a opção franciscana e o clamor por uma ecologia integral que exige “uma conversão pessoal, social e ecológica (cf. LS 210)”. Além disso, carecemos de políticas públicas e da nossa participação na proteção e conservação da natureza. A garantia da vida no planeta requer relacionamento saudável com o mundo, e, sobretudo, integração entre o amor a natureza, Deus e as criaturas.  São Francisco de Assis, patrono da ecologia, rogai por nós!


Frei Augusto Luiz Gabriel, ofm

Deixe uma resposta