“Eu não vim chamar justos, e sim pecadores” (Mt 9,13; Lc 5,32)

Em nossos dias, a busca pela perfeição é o objetivo de muitas pessoas, inclusive de algumas que conosco convivem – seja a perfeição da beleza, da forma física, dos cuidados com o corpo ou do sucesso profissional.

Porém, uma boa parcela da população (e me incluo entre estes) não se vê capaz de alcançar a perfeição, seja ela em qual área ou aspecto for.

Por exemplo, sempre me considerei uma entusiasta da Alegria (assim mesmo, com letras maiúsculas), mas tremo insegura só ao pensar qual seria a minha reação ao me deparar com uma situação semelhante à descrita pelo “Poverello de Assis” como a Perfeita Alegria… Acredito que, como na maioria das situações com dificuldades que já enfrentei, paralisaria (e não seria só com o frio) …

O trecho do Evangelho que nomina esta reflexão mexeu comigo, especialmente na minha infância, pelo aparente paradoxo que traz em seu bojo: se Jesus veio chamar os pecadores, por que só os justos teriam lugar no Reino de Deus? E por que os pecadores, quando pecam, são “afastados” – seja formalmente ou isolados de alguns atos – da Igreja (seja a Católica ou outra profissão religiosa)?

Com o tempo, porém, e os estudos nos ensinamentos cristãos, entendi que quem se sente perfeito não tem necessidade de um Deus que o complemente – e isso me reforçou a crença que eu dependo, e muito, desse Deus misericordioso, porque estou muito longe de ser perfeita, tanto aos olhos de Deus quanto aos olhos humanos.

São Francisco de Assis, como poucos cristãos ao longo dos séculos, nos demonstrou, na prática, a importância e o efeito que o Amor e a Misericórdia podem fazer pelos seres humanos imperfeitos que habitam nossa Casa Comum. Seu exemplo, mesmo após mais de oitocentos anos, mostra-se atual e inspirador.

O Papa Francisco tem palavras que nos fazem refletir com cuidado sobre o tema: “Desde o início do seu ministério na Galileia, Ele aproxima-se dos leprosos, dos endemoninhados, de todos os doentes e dos marginalizados… Onde há uma pessoa que sofre, Jesus cuida dela e aquele sofrimento torna-se seu… Jesus compartilha a dor humana, e quando se depara com ela, do seu íntimo irrompe aquela atitude que caracteriza o cristianismo: a misericórdia. Diante da dor humana, Jesus sente misericórdia; o coração de Jesus é misericordioso… aqueles que se julgam perfeitos: penso em tantos católicos que se consideram perfeitos e desprezam os outros… isto é triste… É bom pensar que Deus não escolheu como primeira massa, para formar a sua Igreja, pessoas que nunca erravam. A Igreja é um povo de pecadores que experimentam a misericórdia e o perdão de Deus.”

(Audiência Pública, Sala Paulo VI, 09/08/2017)

Nesta época de campanha eleitoral, muitos são os (auto)proclamados “justos”, e são mais facilmente encontrados os “pecadores” nas falas proclamadas nos púlpitos eleitorais.  A nós, cristãos de sentimentos e franciscanos por escolha, resta optar no momento de digitar as teclas com os números dos que, através de nossa estabelecida cidadania, escolhemos para governar e nos representar – ainda que não existam humanos perfeitos – na esperança que priorizem o Bem Comum (com letras garrafais e maiúsculas) em detrimento de bens materiais e dinheiro, bem comuns nos bolsos daqueles que se corrompem pelas atitudes hedonistas e egoístas que o mundo se nos apresenta. 

Exerçamos nosso direito como cidadãos com a consciência de nossos valores cristãos: o Amor e a Misericórdia do Cristo que nos ensinou a importância da conversão, dita na frase que antecede, na Bíblia, este título: “Vão e aprendam o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício’” (Mt 9,13).

Um abraço fraterno.

Leila Denise

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