“Há um tempo certo para cada coisa” (Ecl 3,1)

A cada ano, tenho a sensação de um pulsar intenso de vida nos meses de dezembro. Tudo que não se fez durante o ano todo, vejo muitas pessoas tentando fazer no último mês do ano. São exames, consultas médicas, tratamentos dentários, formaturas, casamentos, reuniões, confraternizações… e ainda tem o trabalho… tenta fazer tudo caber nas semanas que antecedem o solstício de verão. E isso traz um cansaço intenso a cada um de nós.

Porém, faz-se necessário lembrar que para tudo há um tempo – mas nem todos respeitam, de forma conjunta, o mesmo tempo. Porque cada indivíduo tem sua história; assim como cada um é único, sua história também o é. E tudo isso acontece ao mesmo tempo, de forma dinâmica e inteirada. E, no meio disso tudo, precisamos de tempo para descansar, para nos refazer.

Como diz a Bíblia, “há tempo para chorar e para rir, tempo para estar de luto e tempo para dançar” (Ecl 3,4). Assim como é um período onde se privilegia a vivência das formaturas e casamentos – e para alguns com a urgência e o desespero de muitos meses de isolamento – também muitos de nós ainda vivenciam o luto das mais de seiscentas mil perdas (só no Brasil) que a COVID-19 nos trouxe, e de tantos outros que nos deixaram por outros muitos males e doenças que padece a humanidade.

“Há tempo para amar e tempo para odiar, tempo para a guerra e tempo para a paz” (Ecl 3,8). E ainda presenciamos, num período de retomada do convívio social, pessoas que desenvolveram um especial prazer em disseminar o dissenso, tentando converter legiões que sonham com o diálogo…

Há tempo para encerrar as atividades deste ano, avaliando os acontecimentos idos e planejando um novo período de vida, repleto de desejos de melhorias e realizações num futuro vindouro – ainda que sejam aspirações que nem sempre se concretizem – seja por falta de ação, seja por obstáculos impostos pelo caminhar, seja por falta de coragem.

Mas também há tempo para iniciar, já que o ano civil não coincide com o Ano Litúrgico da Igreja – que se inicia com o tempo do Advento. Para o cristão, este já é um novo tempo, de nova espera pelo Menino Salvador que nasce, a cada ano, na manjedoura dos nossos corações: uma ciança que vem renovar nossos bons sentimentos e nossa esperança numa vida melhor.

O Natal é um período, acima de tudo, com histórico de acolhimento: de pessoa para pessoa, de ricos e pobres, sem acepção de raça, gênero e etnia congraçando a importância do amor e da misericórdia de um Deus que se fez homem e se tornou um presente divino de Esperança, Amor e Doação.

Sobre este período, importante também lembrar algumas palavras do Papa Francisco: “Dentro de alguns dias, teremos a alegria de celebrar o Natal do Senhor; o acontecimento de Deus que Se fez homem, para salvar os homens; a manifestação do amor de Deus que não Se limita a dar-nos alguma coisa nem a enviar-nos qualquer mensagem ou determinados mensageiros, mas dá-Se Ele mesmo a nós; o mistério de Deus que toma sobre Si a nossa condição humana e os nossos pecados para nos revelar a sua Vida divina, a sua graça imensa e o seu perdão gratuito. É o encontro com Deus, que nasce na pobreza da gruta de Belém, para nos ensinar a força da humildade. Na verdade, o Natal é também a festa da luz que não é aceite pelo povo «eleito», mas foi-o pelas pessoas pobres e simples que esperavam a salvação do Senhor.” (Encontro com cardeais e colaboradores da Cúria Romana, Sala Clementina, 22/12/2014).

Ainda sobre a preparação para o Natal, o Francisco de hoje nos lembra das “doenças” e tentações que “atrapalham” o serviço ao Senhor, e eu entendi ser particularmente interessante o “martismo”: “A doença do ‘martismo’ (que vem de Marta), da atividade excessiva, ou seja, daqueles que mergulham no trabalho, negligenciando inevitavelmente ‘a melhor parte’: sentar-se aos pés de Jesus (cf. Lc 10, 38-42). Por isso, Jesus convidou os seus discípulos a ‘descansar um pouco’ (cf. Mc 6, 31), porque descuidar o descanso necessário leva ao stress e à agitação. O tempo do repouso, para quem levou a cabo a sua missão, é necessário, obrigatório e deve ser vivido seriamente: passar algum tempo com os familiares e respeitar as férias como momentos de recarga espiritual e física; é preciso aprender o que ensina Coélet: ‘Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa’ (3,1). (Encontro com cardeais e colaboradores da Cúria Romana, Sala Clementina, 22/12/2014).

A nós, cristãos franciscanos, resta um questionamento muito forte a ser respondido: Como está sendo direcionado meu pensar e meu agir neste dezembro? Como estou vivenciando este Advento? Que características do Menino Deus estou ajudando a renascer por onde passo e com quem convivo? Que “Natal de sentimentos” (e não de bens) poderei proporcionar àquelas pessoas que compartilham do meu dia-a-dia? Como acolherei meu próximo neste Natal? E como pretendo que seja meu ano de 2022?

A você, meu desejo de um santo Natal e de um 2022 repleto do Amor e da Misericórdia de Deus.

Abraço fraterno,

Leila Denise.

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