“Eis que lhes anuncio a Boa Notícia” (Lc 2,10)

Uma grande marca do mundo moderno, acentuada pelo uso das diversas formas de tecnologia e estudos sobre a mente humana, é a propaganda. Cada produto, seja ele de qual natureza for (inclusive mental), para resistir no mercado, precisa de uma boa estratégia de divulgação.

Um claro exemplo da divulgação do nascimento de Cristo é trazido pelo anjo aos pastores, que acorreram no mesmo instante: a alegria do nascimento do Salvador (Lc, 8-20).

O grande divulgador dos ensinamentos de Cristo, já apresentado na Bíblia, é São Paulo. Aclamado como “o grande Apóstolo”, visitou as diversas comunidades cristãs da época, aconselhando seus membros e direcionando suas atitudes por aquelas pregadas pelo Salvador.

São Francisco de Assis e Santa Clara, com sua abordagem bastante peculiar, especialmente para uma época onde qualquer atitude não autorizada pelo Vaticano era considerada uma heresia, fizeram o marketing do Cristo e da Irmã Pobreza como forma de vida. O próprio santo pôde presenciar, antes de ir para os braços do Pai, no Capítulo das Esteiras, como seu exemplo foi decisivo para a mudança de vida de mais de cinco mil homens – e ainda não existiam empresas especializadas em propaganda como temos hoje, nem rádio, nem televisão.

Minha catequista da Crisma, irmã franciscana, naquela época, trouxe em um dos encontros para conversar conosco frei Ovídio Zanini. Lembro claramente dele nos questionar se fazíamos “propaganda de Deus”, e fiquei extremamente intrigada com aquilo. A tarefa daquele encontro (era comum termos tarefa de catequese!) era fazermos um material de “propaganda de Deus”. Na época, tinha uma caixa de recortes de figuras que considerava bonitas (e que deixava as revistas da família todas estraçalhadas…); com essas figuras e algumas frases, montei um “portfólio” (ou algo que equivalha, visto os poucos recursos) para a tarefa – e que está guardado até hoje, assim como o material (vasto) daquele período de catequese…

Hoje, com outro entendimento proporcionado pela idade, pela vivência e pelos recursos tecnológicos, inevitável a pergunta: “Como fazer propaganda de Deus nos dias de hoje?”

Mais uma vez, encontramos nas palavras do Papa Francisco nossa resposta:

“O anúncio não é um trabalho de publicidade, fazer propaganda para uma pessoa muito boa, que fez o bem, curou tantas pessoas e nos ensinou coisas belas. Não, não é publicidade. Tampouco é fazer proselitismo. Se alguém vai falar de Jesus Cristo, pregar Jesus Cristo para fazer proselitismo, não, isso não é anúncio de Cristo: isso é um trabalho, de pregador, feito com a lógica do marketing. Que é o anúncio de Cristo? Não é nem proselitismo nem propaganda nem marketing: vai além. Como é possível compreender isso? É antes de tudo ser enviado… Esta viagem, de ir ao anúncio, arriscando a vida, porque jogo a minha vida, a minha carne – esta viagem – tem somente passagem de ida, não de volta. Voltar é apostasia. Anunciar Jesus Cristo com o testemunho. Testemunhar significa colocar em jogo a própria vida. Faço aquilo que digo… O diabo tentou convencê-lo a tomar outra estrada, e Ele não quis, fez a vontade do Pai até o fim. E anúncio Dele deve ir para a mesma estrada: o testemunho, porque Ele foi a testemunha do Pai feito carne. E nós devemos fazer-nos carne, isto é, fazer-nos testemunhas: fazer, fazer aquilo que dizemos. E isso é o anúncio de Cristo. Os mártires são aqueles que [demonstram] que o anúncio foi verdadeiro. Homens e mulheres que deram a vida – os apóstolos deram a vida – com o sangue; mas também tantos homens e mulheres escondidos na nossa sociedade e nas nossas famílias, que dão testemunho todos os dias, em silêncio, de Jesus Cristo, mas com a própria vida, com aquela coerência de fazer aquilo que dizem

Papa Francisco durante missa na Casa Santa Marta30/11/2018.

Vale registrar que, ao buscar o significado de “apostasia” (mencionado acima), encontrei “abandono público de uma religião ou renúncia da fé; abjuração; ação de renegar uma religião ou a própria fé; renúncia aos vínculos religiosos ou sacerdotais; quaisquer atos relacionados com a renúncia de partido, ideologia, doutrina etc; deserção.” (grifo meu)

Qual é a “Boa Notícia” que estamos propagando ao nosso próximo? E nossas atitudes no dia-a-dia, são coerentes com aquilo que pregamos? No meu caso, infelizmente, nem sempre… Porém, minha escolha em tentar ser coerente a cada atitude, a cada pensamento, a cada dificuldade, é o que torna meu “eu franciscano” uma realidade possível. A nós, permanece o convite: anunciar a “Boa Notícia do Reino”, tendo presente em nossa vida o Amor e a Misericórdia vivenciados pelo Cristo, que nos deu o exemplo e se tornou o Caminho e a Verdade para a realização deste Reino por Ele propagado ainda entre nós.

Abraço fraterno, Leila Denise.

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