Fraternidade e Diálogo: Um caso real

Ao longo de quase dez anos de eventos realizados para a Juventude Franciscana, pela Província da Imaculada Conceição, vários jovens de outras denominações religiosas participaram das Caminhadas e Missões Franciscanas da Juventude. Essas experiências promovem uma cultura do encontro e do diálogo. São vários os relatos de sentimentos como acolhimento, respeito e vivência fraterna. Por isso, a coluna “Conexão Convida”, recebe a Franciele Anjos, natural de Campo Largo (PR), Umbandista, para falar sobre seu testemunho vivido na pele.

A Campanha Fraternidade Ecumênica (CFE) 2021, tem como tema “FRATERNIDADE E DIÁLOGO: COMPROMISSO DE AMOR” e lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2, 14a). A primeira Campanha Ecumênica aconteceu em 2000, está já é a 5ª edição do projeto que conta com apoio de diversas outras Igrejas não católicas, em favor do compromisso com o diálogo e nos une contra a cultura do ódio e de qualquer tipo de violência.


Segundo o dicionário, “stalkear” é uma gíria do idioma português, baseada na palavra inglesa stalker, que costuma ser usada para se referir ao ato de “espionar” as atividades de determinada pessoa nas redes sociais. E é claro que a equipe do Conexão Fraterna tá sempre “espionando” tudo o que acontece por aí. Por isso, fique ligado, você pode ser o próximo “Stalkeado” 😉

STALKEANDO

Quer stalkear? O #ConexãoFraterna te dá o @:
Instagram: @anjosfranciele

Nome: Franciele dos Anjos Santos

Idade: 31 anos

Profissão: Analista de Marketing

Instagram: @anjosfranciele

Música preferida: Dona Cila – Maria Gadu

Filme ou série: A Origem

Livro: Picos e Vales – Spencer Johnson

Personalidade inspiradora: Malala Yousafzai

Relação com o tema: Franciele é umbandista e participa dos eventos da juventude promovidos pela Província Franciscana da Imaculada Conceição desde 2018

CONFIRA NOSSA ENTREVISTA

MARI: Você tem um carinho muito especial com eventos ligados a Juventude Franciscana. Se encantou de tal forma que atualmente ajudou a fundar e mantém um projeto social chamado @projeto.detodocoracao distribuindo quentinhas às pessoas em situação de rua regulamente, e esse despertar começou com um grupo de amigos desse meio franciscano. Nos conte como foi sua primeira experiência em um evento franciscano?

FRAN: Foi maravilhoso. Meu primeiro evento foi uma caminhada em Campos do Jordão, em 2018. Eu não conhecia os eventos franciscanos e recebi o convite de uma amiga de anos. A princípio foi mais pra termos uma reaproximação de nossa amizade. Chegando próximo do dia, fiquei meio receosa, por ser um evento católico e por ser de outra religião, Umbandista, tive medo de ser um evento que tentasse “me converter”, e fizesse eu me afastar das minhas amizades que estariam no evento, por achar que ficaria chato e cansativo. Desde a saída de nossa cidade, Campo Largo, eu fui muito bem recebida, no ônibus todos muito alegres, cantando, conversando. Foi uma viagem muito gostosa. Mas quando chegamos na Caminhada, eu fiquei espantada, pela quantidade de jovens, de todos os lugares, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Espírito Santo, e mais espantada ainda, com a proximidade que todos tinham, por mais que eram de cidades e estados diferentes, pareciam que eram amigos de infância.

O acolhimento de todos foi maravilhoso”

O maior sentimento dessa minha primeira experiência Franciscana foi: GRATIDÃO – grata por ter amigas maravilhosas que me proporcionaram essa experiência (a minha foto favorita nossa foi nessa caminhada); grata por ter conhecido os Franciscanos a cultura deles e o que eles pregam; grata por ter vivido um acolhimento de uma família, onde no meio da simplicidade, foi muito fácil de identificar o carinho, a preocupação de darem o melhor deles; grata por ter tido um dia muito cansativo de caminhada, mas no final da noite receber um abraço de um desconhecido e sentir o calor do afeto.

Foto: Arquivo pessoal

MARI: Quais as atitudes dos jovens te motivaram a participar de mais eventos franciscanos?

FRAN: Depois da Caminhada Franciscana, eu participei da Caminhada de Curitibanos e das Missões do Rio de Janeiro. Cada um teve momentos que me motivaram a querer participar do próximo. Em Campo do Jordão: o apoio de todos com quem tinha mais dificuldades para subir no morro, a animação sem deixar os outros desanimarem, e o que mais me marcou, foi o acolhimento por uma pessoa que nunca tinham visto na vida, e além disso, de outra religião.

Em Curitibanos, eu vivenciei um momento muito forte e o mais importante dentro dessa convivência com os Franciscanos: Foi num gesto amor, carinho, empatia… Machuquei o meu pé, e ainda faltavam alguns quilômetros para chegarmos na nossa próxima parada, do nada o Frei Franklin enganchou em mim e não me deixou desistir. Engatamos numa conversa sobre crenças, fiquei com medo, por se tratar de um frei, de falar que era Umbandista (somos alvo de muitos preconceitos por conta disso), mas senti a confiança e fui contando a minha história dentro das religiões, e para minha surpresa, o papo fluiu, conversamos sobre muita coisa, a minha dor no pé ficou em terceiro plano e terminei aquela fase da caminhada que nem percebi.

Mas o que mais me motivou a participar desses eventos foi a espiritualidade de todos. Não estou falando de religião e sim de espiritualidade mesmo. Momentos de oração interna, onde cada um, com uma vela na mão, rezava por suas famílias, pelas pessoas que a acolheram, por si mesmo, pelo colega ao lado. Muitos momentos aquele silêncio, e todos vivendo a sua espiritualidade, sem medo de serem julgados e sem medir o seu amor por uma Força Maior que cuida de todos nós.

Foto: Arquivo pessoal

MARI: Você considera que São Francisco de Assis foi um promotor da cultura do diálogo? Por quê?

FRAN: Conheço pouco da história de São Francisco, o meu conhecimento sobre ele vêm dos ensinamentos que ele deixou, e os seguidores continuam pregando. Na situação que comentei, de Curitibanos, é um exemplo que a cultura do diálogo é um dos pilares do ensinamento de São Francisco. 

O diálogo não é apenas falar, é apoiar, ouvir… é colocar nas palavras, todos os sentimentos necessários a serem compartilhados

MARI: Quais as semelhanças que você encontra nessa proposta da Campanha da Fraternidade Ecumênica desse ano de 2021, de fraternidade e diálogo, com a sua vivência religiosa?

FRAN: No terreiro que eu frequento, já recebemos visita de outros líderes religiosos, padres e pastores. E em uma noite, onde um pastor pediu para agradecer em frente a todos, pela recepção que teve, a mãe-de-santo falou muito sobre a diversidade religiosa, sobre o respeito entre todos, e tem uma frase simples que ela disse, que eu simplesmente levo sempre comigo: 

“Deus é tão bom, que ele consegue manifestar em diversas religiões, pregando o mesmo princípio: o amor”

Não existe apenas uma religião certa. A religião que aceita os ensinamentos corretos da palavra, que entende a dor dos outros, que está aberta a receber quem precisa e que principalmente, coloca o amor em tudo que prega.. essa sim é uma representatividade de Deus!

MARI: São inúmeras as violências existentes em nossa sociedade: contra mulheres, LGBTQI+, raciais e religiosas, são alguns exemplos. Você acredita que o diálogo inter-religioso pode superar esses desafios?

FRAN: Sim.. a questão de ensinamentos sobre essas diversidades dentro das religiões é tão importante quanto nas escolas. Os centros religiosos têm muita influência sobre os seus seguidores, muitos colocam suas últimas forças nas palavras que lá são impostas. Acreditam fielmente e seguem como regra máxima essas palavras, só que cada pessoa tem uma interpretação diferente de uma pregação. Então, é muito importante o diálogo claro para que todos consigam tirar o máximo de ensinamentos bons.

Antes de julgar, apedrejar, rebaixar qualquer pessoa, por questão religiosa, sexualidade, regionalidade… é preciso praticar a empatia, escutar, ver o lado da outra pessoa.

Foto: Arquivo pessoal

Deus é amor, é aceitação, é acolhimento, é vivência, é respeito

Deus deu a vida a todos, nos fez todos irmãos, nenhum melhor que outro. Todos com personalidades diferentes, com sonhos diferentes, com oportunidades diferentes. Ele fez diversas religiões, para que todos consigam entender as Suas palavras, os Seus ensinamentos.

Dica final para galera bombar com o tema:

Antes de ser bons em palavras, sejam bons ouvintes. Um diálogo não é feito apenas de falas.
Amém, Saravá, Aleluia, Namastê.. e tudo mais a todos! (Franciele Anjos)

No próximo mês teremos entrevistas falando sobre temas relacionados com a sua vida. Quem sabe você não é o próximo? Aproveite e conte para nós o que achou da nossa nova coluna.

Entre em contato pelas redes sociais do Conexão Fraterna!

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