Neste mês de março, a coluna do “Em Fraternidade”, tem a alegria de receber a franciscana Rosana Padial, que é natural de Agudos (SP). Ela é focalizadora de Danças Circulares e também atua como assessora de projetos sociais. Além de ser terapeuta dos florais de Bach.
Rosana acredita que as danças circulares são sagradas. “Muitas vezes as danças trazem histórias antigas de povos diversos que viveram antes de nós, e muito nos ensinaram. Compreendo a Dança Circular como “Dança Circular Sagrada”, porque na roda da dança tem-se a sacralidade de cada pessoa presente e unida em uma mesma intencionalidade”, revela.
Leia o texto na íntegra:
Antes de tudo quero agradecer a oportunidade de escrever sobre algo que me é tão especial: A Dança Circular que para mim é também Sagrada.
Esta experiência de entrar na roda dar as mãos e dançar, é a oportunidade que todos temos de viver o simples e aprender com ele lições que muitas vezes nos surpreendem.
A começar pelo gesto de dar as mãos: cada integrante precisa que uma palma da sua mão esteja voltada ao céu e a outra palma voltada para a terra. Neste simples gesto o nosso corpo traz que somos essa união: Céu e Terra. Ao darmos as mãos com as palmas neste sentido, podemos perceber que uma mão recebe a outra e se oferece para o outro. Assim uma bela corrente de pessoas que unem Céu e Terra, se faz.
Aprender isso que aparentemente é simples no gesto de dar as mãos é muito significativo em nosso cotidiano. Pois ao segurar outras mãos e iniciar a dança, percebemos que o movimento individual em um primeiro momento é predominante. Cada pessoa preocupa-se somente com seu próprio passo. Mas a dança circular propõe que nos regulemos como um grande grupo; através do cuidado com nosso próprio passo, com nosso lugar na roda, mas também com o passo de nossos pares e com o lugar deles, pois estamos juntos em um grande círculo. Sem usar as palavras, somente com o corpo e o ritmo, o grupo entende que cada um ali presente de mãos dadas faz aquilo acontecer, por isso precisa ser considerado e apoiado. E cada pessoa passa a cuidar de si e de seus pares! Neste momento dizemos que o círculo se HARMONIZA, e a dança flui! Mas isso acontece depois de algumas repetições dos passos ou da mesma dança. O que demonstra outro aspecto, que a persistência e paciência nos conduzem a conquista da harmonia.
Para isso a Dança Circular precisa de nossa presença integral. Nosso corpo, nosso pensar, nosso sentir, nosso ouvir, nosso ver, todo nosso SER precisa estar presente e disponível. Quando estou presente integralmente consigo um estado de atenção plena, um hiato no tempo que é preenchido pela música, e paradoxalmente pelo grupo. Esta é outra lição que as danças circulares nos ensinam: Estar integralmente presente. O que Bernhard Wosien um grande mentor das Danças Circulares denominou de meditação em movimento:
“A dança, como toda obra de arte, surge a partir da meditação. A dança em especial, tem essencialmente a ver com a meditação, porém, só quando o bailarino verdadeiramente participa e é arrebatado pela sua musa. Jamais uma fonte pode se nos tornar acessível se nós não mais acreditarmos nela. Este ser arrebatado, porém, é o elemento meditativo. Contrariamente a isso estão aqueles esforços dedicados essencialmente à apresentação e ao desempenho. Contrariamente também ao refletir e ao analisar intelectuais, o objeto da meditação deve ser movimentado na alma através de exercícios contínuos – o caminho da meditação leva de dentro para fora”. (Dança – Um caminho para a totalidade – pag. 28 Ed. Triom).
As danças circulares são feitas de passos simples. No entanto elas se apresentam em um primeiro momento como complexos. Mas penso que isso seja consequência das restrições que nosso corpo sofre e que limitam nossos movimentos. Comumente andamos para frente, corremos, sentamos, pulamos.
Mas podemos através das danças circulares descobrir, ou melhor, reencontrarmos nossos muitos gestos! Nossos pés andam cruzando a frente e atrás, andam na diagonal, andamos de costas, giramos para direita, giramos para a esquerda, nossos braços existem se elevam, ficam em “V”, em “W” e trazem as mãos que são forte expressão no dançar. Nossa cabeça compõe nosso movimento olhando para os lados, olhando para cima, para baixo.
Reencontramos nosso corpo! Nosso corpo acorda em sua beleza e potencialidade! Pessoalmente sou acometida de uma alegria enorme quando acerto o passo. E danço a música com o grupo harmonizado. Quando vivo essa alegria sinto a magia da roda da dança.
E aqui neste clima harmonizado e alegre acontece o sagrado! Compreendo a Dança Circular como Dança Circular Sagrada, por que na roda da dança tem-se a sacralidade de cada pessoa presente e unida em uma mesma intencionalidade.
Tem o sagrado por que cada um de nós com esse corpo maravilhoso é sagrado. É a celebração do nosso corpo divino! Somos a união do Céu e Terra, somos os múltiplos gestos que esse nosso corpo maravilhoso é capaz de desenhar no Espaço. Nossa totalidade na presença corporal comunica uma mensagem de beleza, de união, de paz, de trabalho na conquista do gesto, do lugar na roda e na honra ao outro. É sagrada por que muitas vezes traz histórias antigas de povos diversos que vieram antes de nós, e muito nos ensinaram.
É sagrada por ser orgânica, viva pois traz músicas contemporâneas que pela sua poesia nos ajuda a compreender, a pensar e sentir.
É sagrada porque é real não é virtual. É mão com mão, passos sincronizados, olhos nos olhos!
É sagrada porque é uma Vicência, uma experiência.
É sagrada porque é um estar junto com o outro. Sejam eles; meus pares do lado, ou outros povos e suas tradições.
E para concluir quero destacar mais um aspecto muito importante que as Danças Circulares nos ensinam.
Elas nos ensinam que os erros fazem parte do caminho de cada um de nós e de nossos pares. Através dos erros construímos a harmonia da roda da dança!
Outra lição vivida simplesmente através do movimento. Não precisamos fazer discursos dos erros, eles acontecem e são superados à medida que a dança vai sendo conquistada pelo grupo! E aqui tem uma beleza que acontece; sou impulsionada para aceitar o meu erro, vivo em segundos momentos de acertos e erros que me constituem. E sou também impulsionada a aceitar com generosidade o erro e acerto alheio ao meu.
Está é uma lição nobre que acontece nos tempos e contratempos da música, e entre sorrisos. Nas danças circulares a relação com o erro é temperada pela generosidade e sorrisos de alegria. Isso por que no círculo todos somos iguais, iguais em tudo!
Um fraterno abraço, Paz e Bem,
Rosana Padial