Fraternidade, onde todos tem direitos

Aproxima-se o tempo da quaresma e, como em todos os anos, somos convidados a refletir sobre o tema proposto para a Campanha da Fraternidade. Neste ano, a reflexão proposta é sobre o Tema: Fraternidade e Políticas Públicas; e o Lema: “Serás libertado pelo direito e pela justiça”, retirado do capítulo 1, versículo 27 do Livro do profeta Isaías. 

A Campanha da Fraternidade é promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) desde 1964, e aborda temas relevantes para a sociedade, sempre com o objetivo de educar os fiéis para exigências centrais do Evangelho, como a fraternidade humana, com valores de amor e justiça para o próximo. As Campanhas também buscam conscientizar sobre a responsabilidade de todos na evangelização e na promoção humana.

Todos os anos são preparados materiais que servem de base para a reflexão do tema proposto. Cartazes ajudam a ilustrar o tema e o lema, e as músicas da liturgia passam a revelar elementos relacionados, ampliando a discussão e aproximando a celebração da questão discutida. Tudo muito bem planejado e pautado nas Sagradas Escrituras, apoiado na Doutrina e no Magistério da Igreja.

Os temas propostos quase sempre são problemas sociais, que atingem de maneira mais dolorosa nossos irmãos mais pobres, nos convidam a uma conscientização da importância da nossa atuação cristã, que não deve se restringir à atividades apenas dentro das igrejas. O lema traz um trecho bíblico, que dá referência de como agir, e demonstra como a fé se concretiza nas obras.

Sabemos que a construção de uma sociedade justa e fraterna passa pela participação e pelo envolvimento de todos, e a Igreja não se furta à sua responsabilidade evangelizadora de incentivar debates e reflexões sobre as formas de atuação social que são mais urgentes. A adesão e o envolvimento de todos os fiéis é essencial para ampliar este processo e potencializar as frentes de atuação. 

Mesmo quando as reflexões não produzem resultados práticos, o diálogo e a conscientização do nosso compromisso enquanto cristãos é fundamental o amadurecimento na fé. Sempre em consonância com o que nos pede o Papa Francisco em sua Exortação Apostólica Evangelli Gaudium, a Campanha da Fraternidade abre as portas da Igreja, e propõe que nós estejamos prontos para sair, indo ao encontro daqueles que sofrem. Nos pede que não sejamos uma Igreja fechada em si mesma, por vezes mofada e alheia aos conflitos sociais, mas que tenhamos iniciativa.

Neste ano somos convidados a pensar sobre as Políticas Públicas, e é um tema muito propício, haja vista todo esse contexto de escândalos promovidos por pessoas que fazem política como uma forma de benefício próprio. Pensar em Políticas Públicas é pensar em medidas que beneficiam todo um segmento da sociedade, que é apartado de seus direitos básicos. Pode ser a população de um bairro ou de uma região, crianças, jovens, idosos. As políticas podem se dirigir à população em situação de rua, ou a pessoas que precisam de moradia própria, ou de regularização de suas casas. Servem também para questões raciais, religiosas e de gênero.

O lema aponta para o direito e a justiça como meio de libertação. Realmente é importante imaginar como a falta de acesso aos direitos aprisiona milhões de pessoas, e a forma como esta situação consolida um quadro de injustiça social. Há aqui uma afirmação implícita de que a libertação se concretiza a partir de um reconhecimento do Estado e da sociedade, não pode ser conquistada a força. Por isso a importância da conscientização e do envolvimento de todos, fomentando um diálogo respeitoso e pacífico.

Infelizmente, muitas vezes temos mais facilidade em lutar por causas em que estamos engajados, e nos esquecemos que outras pessoas também deveriam ter o mesmo acesso aos direitos que nós. Eu entendo até mesmo que algumas Políticas Públicas não agradem a todos, ou gerem muitas polêmicas. Mas como seguidores de Jesus e amantes de São Francisco, não podemos achar natural a diferença que ainda existe no tratamento de algumas questões. As Políticas Públicas servem para equalizar as diferenças e garantir que haja um pouco mais de justiça social e acesso à direitos. Não se tratam de privilégios para ninguém, apenas direitos.

Convido a todos para aprofundar o tema das Políticas Públicas com a leitura do material da Campanha da Fraternidade, e a participar das reflexões em grupo nas suas comunidades.

Paz e Bem!

Carlos Fernandes Vera Neto

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