“Exaustos e imundos, ao encontro de um Deus que nos acolhe…”

Olá, meu nome é William e não sei, até o momento, quantas pessoas fizeram parte da Caminhada Franciscana da Juventude que ocorreu na cidade de Curitibanos (SC), nos dias 11 a 13 de Janeiro de 2019. Falou-se em um número que excedeu os setecentos participantes, seriam 712? Ou quem sabe 776?. Tão inexato quanto esse dígito é a distância percorrida ao longo desses três dias. Ao findar nossa jornada, falavam em 62, 63 e até 65 quilômetros. Não havia um consenso. Mais impreciso ainda é saber ao certo com quantas pessoas nos relacionamos esses dias. Outros que, na mesma condição, nos incentivaram a prosseguir. Difícil apontar em quantos celulares desconhecidos nossos rostos aparecem, em vídeos improvisados por moradores que nos acompanharam e chamamos a atenção na rua, vestidos com coletes amarelos, anunciados por buzinas, cantando sucessos sertanejos, louvores e, quando o fôlego nos permitia, fazendo paródias e coreografias. Inúmeros também foram os momentos em que, encharcados de suor e chuva, buscávamos abrigo nas pedras e temíamos a queda no barro.

Grandes foram as expectativas para a chegada desses dias. E, afinal, o que leva alguém a se dispor voluntariamente a percorrer sessenta (arredondando) quilômetros em três dias? Alguns tendo de percorrer mais de dezesseis horas de ônibus, vindo de outros estados do país? Como considerar mentalmente saudável alguém que já sabe que, de acordo com a programação, irá madrugar num domingo, o mesmo dia da semana em que Deus descansou? Aos que olham de fora, pode parecer ‘delírio coletivo’, mas aos que, assim como eu, experimentaram esse momento, os motivos são outros.

Hoje, já recuperado, acredito que essa Caminhada nos serviu como renovação de energias. Digo isso, como alguém que já no primeiro dia não via mais as cores originais do próprio tênis, tomadas por uma camada marrom que insistia em se acumular e, por vezes, se estendendo às pernas. A renovação a que me refiro acontecia a cada sombra e parada para abastecer o cantil, a cada conversa, breve ou longa, com outros caminhantes como nós, e até os acenos dados para aqueles que vinham até suas varandas e janelas para observar melhor aquela mudança na paisagem, que preenchia a estrada de vida. Renovação esta que, para mim, ficou ainda mais clara quando eu e meu grupo fomos acolhidos na casa em que iríamos dormir e nossos novos pais nos disseram que, antes mesmo de nos conhecerem, já estávamos inclusos em suas orações. Renovação essa, percebida na confiança depositada na pessoa que caminhava ao lado, iluminando o caminho com lanternas e celulares, antes mesmo de raiar o sol. Das ‘placas de incentivo’ que, após percorrer mais de quarenta quilômetros, trazia a inscrição ‘Início’ e, com toda a ironia ali contida, nos impulsionava a continuar, movidos ao simples sorriso e gargalhada que essa mensagem nos proporcionava.

E, no terceiro dia, com um ônibus de apoio abarrotado de gente, passamos a linha de chegada, num corredor de aplausos. No interior da Igreja, antes de nos aproximarmos dos incenseiros, encontramos conforto para nossas lágrimas e refletimos na memória sobre nossas próprias cruzes. Trouxemos à tona aquilo que nos angustia e nos alegra, aquilo que nos prende e nos faz seguir.

E o saldo de tudo isso? Juntos, descobrimos a importância dos alongamentos, do consumo regular de frutas e do uso do protetor solar. Mais que isso, conheci pessoas amáveis que agora zelam por mim, que me adotaram como filho e irmão.

Talvez seja esse o motivo, afinal. Olhando ao redor e para si, o estado deplorável em que adentramos a Igreja, exaustos e imundos, ao encontro de um Deus que nos acolhe de braços abertos. É como diz Mazé: simples assim.

Paz e Bem!

Este texto foi produzido por :

 William Fritzen Branco

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