Amizade Social, mais que um desafio, um anseio!

Olá, Paz e Bem! Com alegria a primeira publicação deste ano da coluna “Em Fraternidade”, reflete sobre o tempo quaresmal e a Campanha da Fraternidade (CF) deste ano. Inspirada na Encíclica do Papa Francisco, Fratelli Tutti, a (CF) tem como tema: “Fraternidade e Amizade Social” e o lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt. 23, 8). Este tema e lema foram escolhidos pelo Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em novembro de 2022.

E para falar sobre o assunto, recebemos pela primeira vez aqui em nosso blog, o jovem frade Frei Vinícius de Oliveira Betim*. Acompanhe na íntegra sua oportuna reflexão!


Irmãos e irmãs, Paz e Bem!

Hoje, Quarta-Feira de Cinzas, iniciamos um novo tempo litúrgico: a Quaresma. Ornamentações mais sóbrias e a cor roxa em nossa Igreja nos recordam visualmente um chamado à oração, ao jejum e à penitência. Contudo, “a penitência do Tempo Quaresmal não deve ser apenas interna e individual, mas também externa e social” (Texto Base da Campanha da Fraternidade 2024, p. 5).

Entramos assim na mesma dinâmica da chamada de atenção feita aos Apóstolos na Ascensão do Senhor (cf. At 1,11). Não devemos ficar parados olhando para os céus esperando que Deus faça tudo por nós, precisamos colocar nossa vida em movimento. Como bem nos aponta Francisco de Assis: “depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém me mostrou o que deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu deveria viver segundo a forma do santo Evangelho” (Test 14). E, como não caminhamos sozinhos, a Igreja nos propõe a Campanha da Fraternidade para nos guiar, enquanto irmãos e irmãs, nesse percurso penitencial. Assim, neste ano, somos convidados a olhar a nossa realidade enquanto jovens que buscam a fraternidade pela amizade social. 

Paremos para olhar o nosso dia a dia. Muitos de nós que tivemos a oportunidade do estudo, ou para aqueles que estão tendo essa oportunidade, provavelmente já foram incentivados a ver todos os colegas da sala como competidores. No ensino médio um competidor pela vaga nos vestibulares e na faculdade um competidor pela vaga no mercado de trabalho. Somos competidores também em nossas redes sociais. Competimos pelo número de seguidores, pela atenção do outro para que possa ganhar seu like e compartilhamento. Números, isso que parecemos ser muitas vezes, é o que chamam a atenção em nossos perfis, muito mais do que as fotos que postamos. 

Outro ponto muito forte é a facilidade com o qual temos a mesma atitude de desprezo pelos outros como teve Caim para com seu irmão Abel, a qual o Texto Base da Campanha nos aponta como “Síndrome de Caim”. Ao ter sua oferenda negada e a de seu irmão Abel aceita pelo Senhor, Caim se revolta contra o irmão e o mata. Hoje, temos sim casos que levam ao extremismo da morte física, mas o bloqueio é muito mais fácil. Muito mais cômodo apertar em bloquear um perfil e nunca mais ter que me preocupar com ele aparecendo em minhas redes sociais, do que questionar minha opinião ou ainda buscar um diálogo. E assim cada vez mais, assassinamos virtualmente, nossos irmãos e irmãs.

Seguindo a mesma linha, que é a da produção de conteúdo, temos outros dois grandes perigos que são apresentados diariamente para nós. Primeiro que temos a cultura do descarte, que aqueles que não produzem algo de meu interesse não servem mais para mim, não me tem mais utilidade e por isso não tenho por que me relacionar com eles. Segundo, temos os algoritmos que nada mais são do que códigos que nos vão colocando em bolhas de hiper individualismo por só nos apresentarem aquilo que queremos ver. Conecto minha opinião com pessoas de vários outros países do mundo, mas não me disponho a conversar com alguém que está do meu lado, mas não compartilha das mesmas ideias que eu. Cria-se assim a alterofobia, ou seja, o medo ou aversão de tudo aquilo que é diferente do que eu penso e acredito. 

Estou aqui para justamente criar uma reflexão sobre isso e não para dizer que abandonemos o uso das redes sociais. Caso se faça um bom uso, tais meios se mostram uma grande ferramenta de fraternidade. Conectar diferentes pessoas, diferentes espaços geográficos e diferentes culturas e observar no diferente não um inimigo, mas justamente uma riqueza. Em janeiro, o Papa Francisco nos incentivava a orar pelos diferentes carismas na Igreja e por sua riqueza. 

Dessa forma, a amizade social se traduz nesse amor que vai além das fronteiras e diferenças entre nós. O lema nos aponta o caminho: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8). Estar aberto à convivência, ao diálogo que gera pontes e não muros e iluminados pelo exemplo de Jesus que ia ao encontro de todos devemos ser portadores de esperança, como bem recordava a 8ª edição das Missões Franciscanas da Juventude (MFJ) em Pato Branco (PR) que a pouco vivenciamos.

Para completarmos esse nosso momento de reflexão, São Francisco em sua Regra de vida buscou deixar claro esse movimento de fraternidade e união que os irmãos deveriam ter. Francisco escreve: “Amem-se uns aos outros, como diz o Senhor: Este é o meu mandamento, que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei (Jo 15,12). E mostrem por obras (cf. Tg 2,18) o amor que têm uns aos outros, como diz o apóstolo: Não amemos por palavra nem com a língua, mas por obra e em verdade (1Jo 3,18)” (RnB 11, 5-6). 

Que nós, enquanto franciscanos e franciscanas, jovens e missionários possamos ser esse sinal de unidade e amizade social em meio a esse contexto tão conturbado que refletimos hoje. Que Deus, por intercessão de São Francisco de Assis, nos abençoe e nos dê força nessa nossa Missão.


Natural de Amparo (SP), Frei Vinícius de Oliveira Betim nasceu no dia 30 de março de 2000. Fez sua Profissão Religiosa na Ordem dos Frades Menores no dia 29 de dezembro de 2020 em Rodeio (SC). Concluiu seus estudos de Filosofia pela FAE-Centro Universitário de Curitiba (PR), em dezembro de 2023. Neste ano, compõe a Fraternidade Santo Antônio da Santana Galvão e Paróquia Santa Clara de Assis, residindo em Colatina (ES).

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