Estudei desde a 4ª série do ensino fundamental até o final do ensino médio em escola pública no turno da manhã. Antes de ir para a escola, ouvia um programa da nossa rádio local – antiga Rádio Coroado AM, hoje FM -, administrada pelos franciscanos, de música “raiz” (sertanejas e gauchescas). E todo dia o radialista dizia uma mesma frase, antes dos ‘serviços de utilidade pública’: “Quem não vive pra servir não serve pra viver”.
Creio que, de alguma forma, essa frase possa traduzir um pouco, talvez até de um jeito que, para alguns, seja “meio torto”, o modo de vida franciscano de ver e viver a vida.
Pôr-se a serviço é um dos ensinamentos que o próprio Cristo nos deixou, e de forma muito clara, isso podemos encontrar nos Evangelhos.
Lembro de, nas primeiras vezes que ouvi esse versículo do título deste texto, pensei que, se era algo tão óbvio quanto eu o percebia, por que Jesus falaria isso?
Hoje, a alguns dias de completar as douradas bodas da minha vida, percebo com facilidade que nem sempre o que é óbvio é compreendido e praticado por todos, sem que uma boa alma nos lembre disso quando estamos dispostos a ouvir.
Quando a raiva cega nossa percepção, quando o desespero nos faz perder a razão, quando a tristeza e a descrença nos tornam surdos aos apelos de cada próximo que nos rodeia, somos as luzes do Criador que iluminamos o mundo diminuto ao qual nos permitimos participar – e que, em alguns casos, podem ter o seu círculo de convivência cabendo literalmente em volta de uma vasilha, de tão pequeno.
Quantos cristãos deixam sua luz interior diminuir tanto que, num dia de sol, não enxergariam nem a ponta do seu próprio nariz!…
Outros, que nem sei avaliar se são melhores ou piores, no afã de sentirem sua luz brilhar mais forte, fazem questão de fazer o possível para apagar – não ofuscar, apagar mesmo – a luz do seu próximo (tenho uma amiga que diz que essas pessoas não suportam ter por perto pessoas que contenham “brilho próprio”, fazem de tudo para destruí-las) …
Como cristãos e franciscanos, temos a missão de batizados de “ser luz no mundo”, mas uma luz que serve a quem está próximo, que ilumina a beleza do que e de quem nos cerca, não importando quais nem quantas diferenças possam ter em relação ao que somos e pensamos…
O Francisco de hoje fala diretamente aos jovens sobre esse tema: “A experiência que os discípulos de Emaús viveram impeliu-os irresistivelmente a pôr-se novamente a caminho, embora já tivessem percorrido 11 km. Estava a anoitecer, mas eles já não têm medo de caminhar de noite, porque é Cristo quem ilumina as suas vidas. Um dia, também nós encontramos o Senhor no caminho das nossas vidas. E, assim, como os discípulos de Emaús, também nós somos chamados a levar a luz de Cristo à noite do mundo. Vós, queridos jovens, sois chamados a ser luz na noite de muitos de vossos coetâneos que ainda não conhecem a alegria da vida nova em Jesus. Depois do encontro com Jesus, Cléofas e o outro discípulo sentiram a necessidade vital de estar com a própria comunidade. A alegria não é verdadeira, se não a partilharmos com os outros… Encontramos Jesus sobretudo na comunidade e pelas estradas do mundo. Quanto mais o levarmos aos outros, tanto mais o sentiremos presente nas nossas vidas. E tenho certeza de que o fareis… O texto de Emaús diz que Jesus acendeu um fogo no coração dos discípulos (cf. Lc 24,32). Como sabeis, para não se extinguir, o fogo deve expandir-se; para não se tornar cinza, deve propagar-se. Portanto, alimentai e propagai o fogo de Cristo que está em vós!” (Discurso do Papa Francisco aos participantes no Fórum Internacional dos Jovens, Sala Clementina, 22/06/2019)
Às vésperas do início do mês dedicado às vocações, neste ano Ano Vocacional, fica o convite (que agora transcrevo, oriundo de um cartão virtual que recebi) para, na condição de cristãos e franciscanos, o exercitemos a cada dia: “Seja como o SOL: levante, brilhe e ilumine o mundo”.
Leila Denise