Se tem um assunto que está em alta, certamente este é sobre a violência contra a mulher. Neste texto, o Conexão Fraterna quer falar abertamente sobre isso. Nós, como cristãos franciscanos, trazemos nosso repúdio a esta prática que tem atingido tantas irmãs em nosso país.
É quase inacreditável que em pleno século XXI, ainda tenhamos dados tão alarmantes, quando o assunto é violência contra a mulher. Com a pandemia que se instalou no mundo, as pessoas precisam estar juntas em casa por mais tempo, elevou ainda mais os casos assustadores. Em dados de 2021, 1 a cada 4 mulheres são vítimas de violência no Brasil. Isso significa que cerca de 17 milhões de mulheres acima dos 16 anos sofreram violência, seja sexual, psicológica ou física neste último ano e na maioria das vezes, as agressões são de pessoas da própria família, em especial, seus próprios companheiros (maridos, namorados, etc.).
Relacionamentos abusivos são difíceis de se detectar no princípio. Muitas vezes, depois de se perceber que está em uma situação de violência, a maioria das mulheres não tem coragem, nem força para sair da situação. Algumas por medo, outras pelos filhos, outras ainda por tudo isso somado a dependência financeira e afetiva, pois realmente sentem amor, paixão pelo seus companheiros, mesmo depois das agressões. Em muitos casos, a demora pela falta de apoio de pessoas próximas pode causar danos imensos, inclusive a morte.
O medo de sair desse ciclo de violência vem desde a nossa criação dentro de uma sociedade patriarcal e machista, onde a mulher deve ser sempre dependente do homem, e por isso deve se sujeitar a tudo “por amor “. Uma religiosidade mal vivida, também pode ajudar a ter um olhar deturpado sobre as relações; quantas mulheres já escutaram que tinham que aguentar agressões para conversão de seus companheiros?
Não podemos esquecer: é sempre lícito lutar pelo amor. É importante rezar pela mudança de vida de quem amamos, mas quando nos machuca, humilha e coloca a nossa vida em risco, é bom avaliar se é amor mesmo. E se é realmente necessário permanecer nessa situação.
E como nós, mulheres, podemos identificar que estamos vivendo um relacionamento assim, ou perceber que alguém perto de nós precisa de ajuda?
1– Sempre que alguém que amamos, de alguma maneira nos priva a liberdade, já estamos diante de um abuso. Seja controlando a roupa, controlando os amigos, os lugares onde se vai, tudo isso é um motivo de alerta.
2– Vale lembrar que ciúme não é prova de amor. Ciúme excessivo com falas tipo “você é minha e de mais ninguém” , “te quero só para mim” , não são sinais de amor e sim de possessividade tóxica.
3– A violência psicológica e verbal. Antes do primeiro tapa, vem a depreciação e a humilhação. A mulher se sente acuada, diminuída e sem forças para buscar ajuda.
É preciso estar atenta aos sinais. Pedir ajuda. E se você conhece alguma mulher por perto que precise: denuncie o agressor.
É possível procurar uma delegacia mais próxima, seja ela comum ou especializada, e fazer o registro da ocorrência, pedindo uma medida projetiva que faça o agressor ficar longe da vítima.
Em casos onde a mulher não consegue ir à delegacia, existe o telefone 180, que o governo Federal coloca à disposição para denúncias, seja da própria vítima ou de alguém que possa ajudá-la.
Existe também um outro jeito bem interessante de pedir socorro. Em 2020, foi criada a campanha “X vermelho na palma da mão”, para ajudar também na denúncia dos agressores. A mulher agredida vai até um local como uma farmácia, por exemplo, com um X marcado na palma da mão, (assim como nas fotos de nossas meninas do conexão), e no estabelecimento, o atendente anota o endereço da mulher e chama a polícia. Um meio eficaz que já tem dado resultados.
Sempre haverá uma maneira de sair dessas situações. E todos nós podemos ajudar. Seja homem, mulher, jovem ou religioso, não importa a idade, todos temos condições de estender a mão e colaborar com a quebra desse ciclo violento. É nossa obrigação como cristãos. É o que Jesus faria!Nunca se esqueçam: nós, mulheres, somos criaturas de Deus, filhas amadas que merecem respeito. No Evangelho, Jesus sempre traz as mulheres para perto de si, chamando a atenção e dizendo o quanto somos importantes para Ele, e devemos ser para todos. Tanto é assim que no meio de tantos homens, Cristo quis aparecer ressuscitado primeiro para uma mulher, Maria Madalena, para que ela fosse a sua anunciadora por excelência (Jo 20, 1ss). Não somos menores, nem melhores, somos iguais, pois somos feitas da mesma matéria: o amor de Deus. E isso nos faz dignas de todo amor. Meninas, não aceite menos que isso! Meninos: contamos com vocês para que essa geração possa ser melhor!
Deus abençoe vocês!
Abraço fraterno, Ana Karenina!