Irmãos e irmãs, paz e bem!
Desde que eu cheguei aqui no Convento algumas coisas me chamaram a atenção. Mas tem uma em que eu frequentemente penso. É algo que eu sempre gostei, mas que aqui tem um sabor diferente. A primeira vez que eu experimentei já senti o gosto maravilhoso e exclamei: é bem desse que eu gosto. Macio por dentro mas com a casquinha crocante. Eu não vejo a hora que venha uma visita importante para eu pedir para a cozinheira do Convento assar alguns. E de manhã, quando, do lugar onde rezamos, eu já sinto o cheiro dessa coisa, eu já rezo até mais animado, sabendo que depois vem uma bacia maravilhosa de uma das sete maravilhas do mundo culinário: o pão de queijo.
E eu não me contento de comer sozinho, quero que todo mundo experimente.
Meus pais quando vieram aqui, o arcebispo hoje de tarde que celebrou a missa… alguma visita que vem em casa eu já peço para a Ana: faz um pão de queijo. E eu quero que a pessoa coma com vontade, mas que também sobre alguns pouquinhos para o lanchinho da manhã, da tarde, da noite, da madrugada. É especial.
É a partir dessa imagem que quero explicar um pouco a celebração de hoje: Francisco de Assis nunca comeu pão de queijo, mas experimentou algo muito mais saboroso: a misericórdia de Deus. E assim como eu faço com o pão de queijo ele não se contenta de ter apenas para si: quer que todos experimentem o sabor do perdão, a graça de se alimentar da esperança misericordiosa que vem de Deus.
Por isso, assim como um dia eu experimentei o pão de queijo da lanchonete do Convento, Francisco experimentou a misericórdia do Senhor. O perdão é, antes de tudo, uma abertura a querer ser perdoado. Num lugar onde Francisco de Assis costumava se retirar em oração, no processo de sua conversão, ele se colocava diante do Senhor com temor e tremor, como vemos na imagem aqui do lado. E ali, ele rezava: “Ó Deus, sede propício a mim, pecador”. Para poder obter a graça do perdão a pessoa deve ter fome de perdão, assim como eu tenho fome de pão de queijo. Mal sente o cheiro do perdão e já se anima: a misericórdia se aproxima, a misericórdia já me alimenta pelo seu cheiro. Para alcançar o perdão é preciso querer ser perdoado. É olhar para dentro de si mesmo e dizer: já não quero ser moldado pelas minhas vontades mesquinhas mas quero me entregar à grandeza do amor de Deus.
E Francisco não só sente o cheiro da misericórdia: o Senhor o visita e, como afirma um de seus biógrafos, “uma indizível alegria e máxima suavidade pouco a pouco começaram a inundar o íntimo de seu coração. Começou também a sentir-se indigno e, tendo sufocado os maus pensamentos sentimentos e afugentado as trevas que, pelo temor do pecado, haviam crescido em seu coração, foi-lhe infundida a certeza do perdão de todos os pecados e mostrada a confiança de viver na graça. Em seguida, foi arrebatado em êxtase e totalmente absorvido por uma luz e, tendo aberto as portas do seu coração, viu claramente as coisas que haveriam de acontecer.
Retirando-se finalmente aqueça suavidade e luz, renovado no espírito, ele parecia transformado em um outro homem”.
É como se o Senhor o dissesse: “Francisco, o que ficou para trás, ficou! Lança- te para o que vem à frente!”. E, sem sombra de dúvidas, ele saiu transformado para anunciar o amor que o atingiu. E assim como eu faço com o pão de queijo que quero que os meus amigos, freis e familiares experimentem, Francisco faz com o perdão.
Não retém para si mas, por meio do pedido que fez ao papa, alcançou o sabor da misericórdia de Deus não apenas para si, mas para todos que visitassem uma Igreja Franciscana como nós hoje. Ele pediu ao Papa que concedesse que todos que entrassem na Igreja que ele reconstruiu, que tem como nome Porciúncula, fossem perdoados dos pecados depois de se arrependerem dos mesmos. O Papa perguntou para ele: “Por quanto anos queres esta indulgência”? Francisco, de pronto respondeu- lhe: “Pai santo, não peço por anos, mas por almas”. E assim, na mesa do perdão que Francisco põe e Deus serve o prato principal, agora estamos aqui também nós. E vamos ser sinceros: mesmo que o pão de queijo seja bom, melhor e ainda mais nutritivo é o amor do Senhor que nos alcança nas nossas misérias e faz delas um ponto de encontro conosco para perdoar!
Por isso, irmãos e irmãs, não podemos reter para nós apenas aquilo que experimentamos como algo bom. E aqui você vai pensando que eu tenho pão de queijo para todo mundo. Infelizmente, não. Pois meu Pai São Francisco é exagerado e chamou tanta gente que eu iria ter que assar pão de queijo por muitos dias para dar conta. Mas eu tenho certeza: através do perdão nós iremos nos alimentar juntos de um alimento sem fim, pois o pão de queijo acaba. Vamos nos alimentar do perdão de Deus que nos deixa mais leves, diferente do pão de queijo que engorda. Vamos saciar a nossa fome de misericórdia levando conosco a alegria do perdão por todo lugar, enquanto que pão de queijo bom como esse é só aqui. E, sempre sobra, no cestinho, alguns pães de queijo que a aqueles a quem eu ofereci não comeram. Eu me alimento depois. A misericórdia, ofertada aos outros, é exagerada… sempre vai ter para aquele que oferece. Portanto, o que hoje celebramos aqui não é só uma celebração bonita com vista para o Convento de noite. Celebramos a certeza que infundiu o coração de Francisco: “Francisco, o que ficou para trás, ficou! Lança-te para o que vem à frente!”. Repita agora essa frase trocando o nome de Francisco pelo seu nome.
Perdoados, agora somos garçons do perdão: queremos levar a misericórdia saborosa que experimentamos a todos que conhecemos. E assim, encheremos esse mundo de paz e bem!
Frei Gabriel Dellandrea