3º Alverne RJ-ES reúne jovens em Tanguá para viver o caminho da Encarnação, Eucaristia e Cruz

Por Isabelle Trindade, jornalista – Rocinha

A 3ª edição do Alverne RJ-ES, realizada entre 14 e 16 de novembro de 2025, em Tanguá (RJ), reuniu cerca de 40 jovens para uma experiência profundamente marcada pelo tema central deste ano: Encarnação, Eucaristia e Cruz. Inspirado na espiritualidade franciscana, o encontro propôs um itinerário que dá sentido à fé cristã: o Deus que se faz carne, que se doa até o fim e que transforma a dor em vida nova.

O primeiro dia começou com acolhida, oração e ceia fraterna, preparando os participantes para os dias de formação conduzidos pelo Frei Vitório Mazzuco, frade menor, estudioso do franciscanismo e reconhecido por sua capacidade de traduzir mistério em vida concreta. No sábado, após o café da manhã e uma apresentação simbólica na qual cada jovem realizou um gesto pessoal, o grupo viveu uma Via-Sacra em que cada participante carregou uma estação, expressando que assumir a cruz é caminhar com sentido, como fizeram Jesus e Francisco, para quem a cruz sempre foi um sinal de vida, jamais de morte.

A formação do Frei Vitório conduziu os jovens por um verdadeiro itinerário espiritual. A partir de suas experiências no Alverne, na Itália, onde estudou franciscanismo intensamente, ele compartilhou histórias marcantes – como o encontro inesperado com monges budistas vindos do Tibete, que subiam a montanha em reverência “ao maior iluminado do Ocidente”, reconhecendo naquele espaço a força do sagrado. Falou sobre estigmas, energia vital, presença amorosa e a força do corpo que expressa o que a alma sente. Recordou santos como Santa Rita, cujo quarto perdeu o odor da ferida e exalou perfume de rosas após sua morte, e contrapôs esse sinal ao “cheiro da morte” que presenciou no Carandiru, expressão do medo que aprisiona e adoece.

Frei Vitório insistiu que a vida sempre traz desafios – não problemas – porque “o problema é de todos, mas o desafio é meu”. Relembrou que o amor verdadeiro exige coerência, entrega e comprometimento, como ilustra a fábula da galinha e do porco. E enfatizou que a cruz, transformada pelos romanos em instrumento de suplício, torna-se em Cristo a maior expressão do amor que se doa totalmente: “Em tuas mãos, ó Pai, entrego o meu espírito”.

Falou também do tripé franciscano – presépio, altar e cruz – e da certeza de que quem muito ama deixa marcas que a morte não apaga. No contexto dos 800 anos dos estigmas de São Francisco, lembrou que amar diviniza o humano e humaniza Deus, e que conversão significa um retorno ao melhor caminho, um deslocamento interior, como ensinava Francisco: “É isto que eu quero, é isto que procuro, é isto que desejo fazer do íntimo do coração”.

Entre reflexões sobre o perdão, a criação contínua de Deus, o excesso que precisa ser eliminado e a Eucaristia como ação de graças da vida, Frei Vitório destacou que quando se ama verdadeiramente “acontece um terremoto em Marte”, porque o amor transforma tudo o que toca. Falou do presépio como encontro de mundos e da mesa como lugar sagrado, de trocas. E lembrou que Deus não castiga, mas contempla a graça que habita em cada pessoa, resgatando-nos sempre.

O domingo começou com oração, café da manhã e a missa presidida pelo Frei Vitório, com colaboração dos jovens, dos organizadores e de frei Felipe Carretta. A formação continuou com a reflexão sobre o presépio e a espiritualidade do Natal. Um agradecimento especial foi dirigido ao Sefras, que cedeu generosamente o espaço – gesto concreto de pobreza evangélica e fraternidade.

Na mística de despedida, Geicy Kelly, grávida da pequena Aurora, e seu esposo foram convidados a aproximar-se da manjedoura, simbolizando a espera de Maria e José por Jesus e recordando que também somos chamados a esperar o Natal com um coração disposto ao amor. Cada jovem depositou um punhado de palha ao redor do Menino Jesus, assumindo um compromisso pessoal de mudança, gesto que selou o encerramento do encontro.

Assim, o 3º Alverne RJ-ES concluiu-se como um verdadeiro caminho de encarnação, que nos lembra que Deus habita a nossa carne; de eucaristia, que nos chama à gratidão e à partilha; e de cruz, que transforma sofrimento em amor fecundo. Entre aprendizados, partilhas e experiências profundas, os jovens foram enviados a colocar em prática o que viveram, levando luz às suas comunidades e ao mundo.

“Permaneçam firmes. Aí está o que é eterno.”


Frei Augusto Luíz Gabriel

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