Quando eu era criança, ouvia esse versículo das “Bem-Aventuranças”, e me pegava pensando “qual era a ‘graça’ de ser pobre”… Porque os pobres que eu conhecia naquela época precisavam da ajuda dos outros para se agasalhar no inverno (aqui em Curitibanos, bastante rigoroso, seja com roupas, com comidas ou em suas casas), tinham dificuldade de chegar aos lugares sem se embarrar (porque a pavimentação com basalto já era difícil, imagine o asfalto!…), não estudavam muito tempo, não passeavam…
Com o passar dos anos, tive a felicidade de participar do movimento franciscano “Escola em Busca do Ser”; aí, tivemos um espaço próprio para falar especificamente sobre isso.
São Francisco de Assis conseguiu defender com propriedade este jargão: deixou as riquezas do pai, largou o brilho das armaduras e a riqueza dos palácios e a segurança do seu lar para mostrar ao mundo o porquê a “senhora Pobreza” fez desabrochar a sua vocação para amar, pois, através dela, conseguiu vivenciar o amor de Jesus Cristo, a única coisa que para ele fazia sentido na vida – inclusive, ficando com as marcas desse dia.
Acredito que, não à toa, o Papa Francisco, em sua mensagem para a XXIX Jornada Mundial da Juventude, lembrou de falar sobre o exemplo de vida evangélica vivenciado pelo “Poverello de Assis”:
“São Francisco de Assis compreendeu muito bem o segredo da Bem-aventurança dos pobres em espírito. De facto, quando Jesus lhe falou na pessoa do leproso e no Crucifixo, ele reconheceu a grandeza de Deus e a própria condição de humildade. Na sua oração, o Poverello passava horas e horas a perguntar ao Senhor: «Quem és Tu? Quem sou eu?» Despojou-se duma vida abastada e leviana, para desposar a «Senhora Pobreza», a fim de imitar Jesus e seguir o Evangelho à letra. Francisco viveu a imitação de Cristo pobre e o amor pelos pobres de modo indivisível, como as duas faces duma mesma moeda. Posto isto, poder-me-íeis perguntar: Mas, em concreto, como é possível fazer com que esta pobreza em espírito se transforme em estilo de vida, incida concretamente na nossa existência? Respondo-vos em três pontos. Antes de mais nada, procurai ser livres em relação às coisas. O Senhor chama-nos a um estilo de vida evangélico caracterizado pela sobriedade, chama-nos a não ceder à cultura do consumo. Trata-se de buscar a essencialidade, aprender a despojarmo-nos de tantas coisas supérfluas e inúteis que nos sufocam… No primeiro lugar, coloquemos Jesus… Em segundo lugar, para viver esta Bem-aventurança todos necessitamos de conversão em relação aos pobres. Devemos cuidar deles, ser sensíveis às suas carências espirituais e materiais. A vós, jovens, confio de modo particular a tarefa de colocar a solidariedade no centro da cultura humana… Pensemos também naqueles que não se sentem amados, não olham com esperança o futuro, renunciam a comprometer-se na vida porque se sentem desanimados, desiludidos, temerosos. Devemos aprender a estar com os pobres… Mas – e chegamos ao terceiro ponto – os pobres não são pessoas a quem podemos apenas dar qualquer coisa. Eles têm tanto para nos oferecer, para nos ensinar. Muito temos nós a aprender da sabedoria dos pobres! Pensai que um Santo do século XVIII, Bento José Labre – dormia pelas ruas de Roma e vivia das esmolas da gente –, tornara-se conselheiro espiritual de muitas pessoas, incluindo nobres e prelados. De certo modo, os pobres são uma espécie de mestres para nós. Ensinam-nos que uma pessoa não vale por aquilo que possui, pelo montante que tem na conta bancária. Um pobre, uma pessoa sem bens materiais, conserva sempre a sua dignidade. Os pobres podem ensinar-nos muito também sobre a humildade e a confiança em Deus.” (Domingo de Ramos, 13/04/2014)
Embora peça desculpas pela longa citação, creio ser pertinente fixarmos nossa atenção em seu conteúdo. Tomei a liberdade de grifar alguns trechos que considerei muito importantes, a fim de facilitarmos nossa reflexão – que acaba se tornando muito ampla, se esmiuçarmos cada um desses tópicos.
O desafio de amar está lançado: seja em casa, no trabalho, na igreja, nas ruas, na comunidade, nos lugares (físicos ou de sentimentos) que nos causam incômodo – em todo lugar, em toda circunstância, a todas as pessoas e a cada uma delas. Já aviso: não será nada fácil! Contemos, ainda com a MISERICÓRDIA do Pai, com a ESPERANÇA a nós trazida pelo Filho e, unidos ao sopro do Espírito Santo em nossas vidas para nos permitirmos nos tornar, a cada dia, os seres do Reino que Deus planejou para a nossa vida desde o início e pela eternidade.
Leila Denise