No último dia 7 de setembro de 2025, em uma cerimônia repleta de emoção na Praça São Pedro em Roma, o Papa Leão XIV proclamou como santos dois jovens: o adolescente Carlo Acutis e o jovem Pier Giorgio Frassati, exemplos de fé com milagres reconhecidos.
Carlo Acutis, nascido em Londres e criado em Milão, faleceu em 2006 aos 15 anos, vítima de leucemia. Seu grande diferencial? Uma profunda vivência da fé com os recursos do século XXI: era conhecido como um “influencer de Deus”. Criou um site multilíngue para divulgar milagres eucarísticos, mas também soube limitar seu tempo diante das telas para priorizar oração e encontro com o outro – postura que reverberou entre os jovens como um modelo de santidade atual. Sua canonização, rápida e celebrada, reflete também o desejo da Igreja de se aproximar dos jovens por meio de figuras acessíveis e contemporâneas.
Já Pier Giorgio Frassati, nascido em Turim em 1901, dedicou sua curta vida (faleceu em 1925, aos 24 anos) ao serviço dos pobres e ao apostolado discreto. Terceiro da Ordem Dominicana e membro ativo da Ação Católica e da Sociedade de São Vicente de Paulo, Frassati irradiava alegria na caridade, era o “santo das montanhas”, companheiro da natureza e das alturas, símbolo de uma fé engajada e leve.
A solenidade reuniu dezenas de milhares de fiéis, cerca de 80 mil pessoas, em um gesto simbólico: Carlo e Pier Giorgio agora compartilham o mesmo altar como santos do mundo, testemunhas de uma santidade cotidiana e próxima. Essa canonização conjunta foi definida em um Consistório público em 13 de junho de 2025, depois de adiamentos provocados pela morte do Papa Francisco em abril. Antes, Carlo Acutis seria canonizado em 27 de abril de 2025, no marco do Jubileu dos Adolescentes, coincidindo com o segundo Domingo da Divina Misericórdia. Já Pier Giorgio Frassati teria sua canonização em 3 de agosto de 2025, ao término do Jubileu dos Jovens.
Durante a solene Eucaristia, a vida dos dois santos foi trazida à luz por meio de lembranças que nos tocam: Carlo lembrava que, “diante do sol, se bronzeia; diante da Eucaristia, se torna santo”, e ensinava que “a tristeza é olhar para si mesmo; a felicidade é olhar para Deus”. Frassati, por sua vez, foi exaltado como símbolo daqueles que preferem caminhar perto de Cristo no serviço aos irmãos, servido na caridade e solidariedade.
Carlo Acutis escolheu descansar em Assis, junto ao legado de São Francisco, mas não por acaso, em sua vida sempre o admirou por sua vida despojada. Seu túmulo, no Santuário do Despojamento, transforma-se numa ponte entre a contemporaneidade e o carisma franciscano. Vestido como quem caminha conosco, de jeans, tênis e moletom, ele recorda que a santidade pode ser simples, cotidiana e também generosa.
E, nessa celebração de fé, uma cena marcou tantos: sua mãe, Antonia, acompanhando a canonização, foi vista visivelmente comovida com um olhar cheio de orgulho e saudade. Era ali, diante dos fiéis, que ele nascia definitivamente como santo, e a mãe de Carlo, era o coração materno que reconhecia, na memória daquele filho, a obra mais bela que o fez chegar a glória do altar.
Como viver esse legado?
Carlo nos inspira a viver a fé com o apoio das novas tecnologias, com criatividade, responsabilidade e nutrindo sempre um encontro verdadeiro. Podemos aprender a partilhar conteúdos que elevem, a usar redes como meio de oração e diálogo, lembrando que o relacionamento real é essencial e imprescindível.
Pier Giorgio nos chama a amar com alegria e simplicidade, colocando o coração no cuidado com quem sofre. Ele nos lembra que santidade, muitas vezes, passa pelo gesto silencioso, pela presença atenta, pela generosidade espontânea do cotidiano.
Que a trajetória de Carlo e Pier Giorgio nos lembre que Deus convida cada um à santidade, especialmente os jovens, mesmo nas pequenas ações, nas telas conectadas e nas trilhas da vida real. Que esses dois santos caminhem conosco, como irmãos fiéis, inspirando-nos a viver e anunciar o ‘Evangelho a toda criatura’ (Mc 16,15) com ternura, coragem, ousadia e presença.
Frei Augusto Luiz Gabriel
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