“Ouçam a voz do meu amado” (Ct 2,8)

Todos nós pensamos, em algum momento de nossas vidas, em fazer algo que marcasse a nossa existência na terra – seja de cunho familiar, profissional ou comunitário –, um legado que as gerações vindouras pudessem dizer que, de alguma forma, pudemos “ditar moda” ou “ser exemplo” para alguém em algum momento.


Santa Clara de Assis, nascida Chiara Ofredutti, não foi diferente. De origem nobre e filha de uma família de muitas posses, desde a mais tenra infância foi preparada para ser a senhora de um castelo; ainda assim, juntamente com sua mãe Hortolana, praticava diversos atos de caridade para com os mais necessitados.


Acompanhou, inicialmente ao longe, todas as dúvidas da vocação de São Francisco de Assis; com o tempo, foi percebendo que o ideal de vida por ele vivenciado – pobreza, obediência e castidade – também podia ser vivenciado por uma mulher como ela.


Os desafios de uma mulher no séc. XIII, apesar das peculiaridades da época, não diferem muito daqueles que as mulheres hoje enfrentam; e é preciso ter isso em mente para entender que a decisão de Clara, mais do que romantismo, carregava o peso e ao mesmo tempo a coragem de ir adiante, mesmo quando os ventos são contrários. Criada para sem uma princesa, em que a família tinha expectativas altas de manter seu prestígio na nobreza de Assis, Clara decide sonhar por si própria, e mais do que isso, ela decide agir, se movimentar em direção de seu ideal, de seu Amado Jesus, apresentado por Francisco a ela de maneira irresistível.  A partir de sua decisão e ação, nossa mãe incentivou e levou outras mulheres, inclusive sua irmã e sua mãe, depois de viúva, a também seguirem seu exemplo corajoso, que se estendeu a muitas outras, de classes sociais diversas, confirmando sua influência positiva e persuasiva, que seria a sua marca na vida Franciscana e na vida da Igreja.  Desta forma, não há dúvidas que Chiara abriu muitos caminhos e, ainda hoje, os abre.


Ao ideal de vida de Francisco, Clara juntou mais um: a clausura. Quem decidiu seguir seu exemplo vive em mosteiros, afastada do “mundo normal”, vivendo uma vida de oração e penitência, e são popularmente conhecidas como “Clarissas”. Curiosamente, hoje, no Brasil, temos mais irmãs clarissas do que frades franciscanos.


Nesta data que comemoramos Santa Clara de Assis, teria tanto a se falar! São inúmeros os milagres, as histórias, os fatos… Porém, deixemos que as palavras da própria Santa Clara tragam a nós um pouco do seu ser:


“Nisso nós podemos considerar, portanto, a copiosa bondade de Deus para conosco, pois, em sua imensa misericórdia e amor, dignou-se contar essas coisas sobre nossa vocação e eleição, através do seu santo. E o nosso bem-aventurado pai Francisco não profetizou isso só a nosso respeito, mas também sobre as outras que haveriam de vir, na santa vocação em que Deus nos chamou. Com que solicitude, então, com que zelo da mente e do corpo devemos observar o que foi mandado por Deus e por nosso pai, para restituir o talento multiplicado, com a colaboração do Senhor! Pois o próprio Senhor colocou-nos não só como modelo, exemplo e espelho para os outros, mas também para nossas irmãs, que ele vai chamar para a nossa vocação, para que também sejam espelho e exemplo para os que vivem no mundo. Portanto, se o Senhor nos chamou a coisas tão elevadas que em nós possam espelhar-se as que deverão ser exemplo e espelho para os outros, estamos bem obrigadas a bendizer e louvar a Deus, dando força ainda maior umas às outras para fazer o bem no Senhor. Por isso, se vivermos de acordo com essa forma, daremos aos outros um nobre exemplo e vamos conquistar o prêmio da bem-aventurança eterna com um trabalho muito breve. Depois que o Altíssimo Pai celestial, por sua misericórdia e graça, se dignou iluminar meu coração para fazer penitência segundo o exemplo e ensino de nosso bem-aventurado pai Francisco, pouco depois de sua conversão, com algumas irmãs que Deus me dera logo após a minha conversão, eu lhe prometi obediência voluntariamente, como o Senhor nos concedera pela luz da sua graça através da vida admirável e do ensinamento dele.” (Testamento de Santa Clara, 15-26)


Que possamos permitir que essa “Clara luz” ilumine nosso pensar e nosso agir, a cada dia de nossas vidas, a fim de que o Amor e a Misericórdia do Pai, graças por Ele concedidas a nós por sua imensa Bondade, para continuarmos seguindo os passos do “Poverello de Assis” ao tentar imitar o próprio Cristo.


Paz e Bem!


Ana Karenina e Leila Denise

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