“Não tenhais medo de vos fazerdes cidadãos do mundo digital” (Papa Francisco)

Os cristãos de todo o mundo foram surpreendidos nesta segunda-feira, 21 de abril, com a notícia da morte do Papa Francisco, aos 88 anos. Conhecido por sua proximidade com os jovens e pela ousadia na comunicação, Jorge Mario Bergoglio deixa um legado marcado pela “Igreja em saída” e pelo incentivo à presença corajosa dos fiéis no mundo digital.Um pontífice próximo dos jovensDesde o início do seu pontificado, em março de 2013, Francisco buscou envolver principalmente as novas gerações.

Em sua primeira intervenção oficial, ao anunciar o nome escolhido em homenagem a São Francisco de Assis, deixou claro que seu papado seria pautado por um “programa comunicacional” renovador – não apenas uma simples adoção de nomenclatura, mas a promessa de um estilo de vida e evangelização acessível e fraterno.

Nas Jornadas Mundiais da Juventude e em encontros locais, o Papa distribuiu abraços e beijos sem cerimônia, rompendo barreiras protocolares e aproximando-se de cardeais, seminaristas e peregrinos. Foi nesses gestos espontâneos que muitos jovens encontraram força para assumir sua fé de forma autêntica, sem medo de participar ativamente da Igreja.“Não tenhais medo do mundo digital”A digitalização do papado ganhou um selo franciscano quando Francisco motivou jovens a “se tornarem cidadãos do mundo digital”, encorajando-os a usar as redes sociais não apenas para lazer, mas como espaço de encontro e partilha do bem. Em 2016, ao criar sua conta oficial @franciscus no Instagram, ele revelou que desejava “caminhar com vocês pelo caminho da misericórdia e ternura de Deus”, convertendo o perfil em canal direto com milhões de seguidores.

Para o frei Gabriel Dellandrea, guardião e reitor do Convento da Penha, um dos estudiosos do paradigma “Igreja em saída”, essa postura foi essencial para formar uma nova evangelização: “Primeirear é tomar a iniciativa: envolver-se, acompanhar, frutificar e celebrar junto aos jovens. Francisco exigiu que a Igreja fosse capaz de sair ao encontro, também no universo digital”.Comunicação sem intermediáriosRompeu-se com a tradição de discursos apenas em documentos e textos oficiais.

O novo pontífice deu entrevistas espontâneas – a primeira, já em julho de 2013, ao jornalista brasileiro Gerson Camarotti – e usou metáforas maternas para explicar que uma Igreja que só fala por cartas torna-se distante de seus filhos. Na entrevista a Antonio Spadaro, reforçou: “Não estou acostumado às massas. Sem gente eu não posso viver.

Eu preciso viver junto dos outros”.Foi ele quem, a 27 de junho de 2015, instituiu o Dicastério para a Comunicação, reunindo todos os meios vaticanos sob uma só direção e criando o portal Vatican News, com transmissão multilíngue e multicanal, pensado para “comunicar o Evangelho da misericórdia a todos os povos”.Na Frente de Comunicação da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, o pontificado de Francisco serviu de bússola.

Na Evangelii Gaudium, ele afirmou: “O bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros. E, uma vez comunicado, o bem radica-se e desenvolve-se. Por isso, quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem.

Assim, não nos deveriam surpreender frases de São Paulo como estas: “O amor de Cristo nos absorve completamente” (2 Cor 5, 14); “ai de mim, se eu não evangelizar!” (1 Cor 9, 16) (FRANCISCO, EG, par. 9).Entre os inúmeros gestos que marcaram seu papado – a conta no até então Twitter @pontifex, a simplificação de aparições, o uso de vídeos em primeira pessoa – destaca-se a convicção de que “o bem tende sempre a comunicar-se”. No texto da “Alegria do Evangelho”, ele lembrava que toda verdade e beleza se expandem por si só, e que aqueles libertados pelo amor de Cristo se tornam sensíveis às necessidades dos outros.Sentimos muito a morte do Papa que os ensinou a “construir pontes, não muros”. Será difícil esquecer o pontífice que virou do avesso a comunicação da Igreja e fez do mundo digital um terreno fértil para o anúncio da Boa Nova.


Frei Augusto Luiz Gabriel

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