Como cristã franciscana, não poderia iniciar 2025 sem falar sobre a Campanha da Fraternidade deste ano.
Escrevo agora olhando para o cartaz da Campanha da Fraternidade deste ano, que nos convida a meditarmos sobre a nossa Casa Comum, presente que o Deus Criador deixou para todas as criaturas. No centro do cartaz, vemos a Cruz e o “Poverello de Assis” que – à exceção da Virgem Mãe preservada do pecado para poder carregar o “Filho amado” (Mt 3, 17) – ainda hoje é espelho para a vivência do Evangelho e inspiração como seguidor de Cristo; no entorno, vemos a riqueza da natureza presente no Brasil e as várias formas que nossos irmãos experienciam a Casa Comum (de acordo com seus recursos financeiros e localização geográfica, inclusive).
Ainda que o “carro-chefe” da Campanha da Fraternidade queira trazer muito presente, quando comemoramos os dez anos da publicação da encíclica Laudato si a importância da preservação da Casa Comum e seus recursos naturais, gostaria de me fixar um pouco sobre a frase que funciona também como o título deste texto.
São Francisco de Assis, em seus louvores e orações, costumava referir-se ao Criador como “O Bem, o Sumo Bem, Todo o Bem”; no título, temos a constatação (escrita no livro do Gênesis) que “tudo era muito bom”. Não à toa, o “Cântico das Criaturas”, composto pelo Pai Seráfico há oitocentos anos, faz parte do Livro-Base da Campanha da Fraternidade deste ano, nos lembrando do poder e da grandeza do Criador e da imensidão de Amor que fez com que deixasse à família humana “crescer e se multiplicar” nesta Terra, independente dos erros e das escolhas que fazemos a cada momento.
O primeiro relato do Mal é a presença da serpente no paraíso – e o ocorrido lá (Gn 3) fez com que o Criador nos expulsasse do paraíso, e o homem e a mulher ficassem responsáveis pelo próprio sustento. Assim, usando de certa lógica, podemos dizer que a natureza (origem) do ser humano é boa (pois foi criado por um Deus que é “O Bem”), porém sua “associação” à serpente do paraíso abriu as portas para que o Mal estivesse ao alcance de nossas vidas.
O Mal, também hoje, continua agindo; assim como nos documentos Laudato Si e Laudate Deum, o Francisco de hoje nos lembra de o quanto é importante fazermos nossa parte para que o Bem – fruto da criação do próprio Deus – continue agindo em nossas vidas e nos propiciando que sobrevivamos neste planeta, hoje tão sobressaltado pelos eventos climáticos que têm trazido tantas consequências catastróficas à nossa realidade:
“A defesa do direito de preservar a própria cultura e a identidade passa necessariamente pelo reconhecimento do valor de sua contribuição à sociedade e pela salvaguarda de sua existência e dos recursos naturais que necessitam para viver… A terra, a água e os alimentos não são meras mercadorias, mas a base real da vida e do vínculo destes povos com a natureza. Defender, pois, estes direitos não é só uma questão de justiça, como a garantia de um futuro sustentável para todos. Animados pelo sentido de pertença à família humana poderemos conseguir que as gerações futuras gozem de um mundo em consonância com a beleza e a bondade que guiaram as mãos de Deus ao cria-lo. Suplico a Deus Todo-Poderoso que estes esforços sejam frutíferos e sirvam de inspiração aos responsáveis pelas nações, de maneira que sejam tomadas as medidas adequadas para que a família humana caminhe unida na conquista do bem comum, de modo que ninguém se veja excluído nem relegado” (Mensagem aos Organizadores e Participantes da VII Reunião do Foro dos Povos Indígenas – Vaticano, 10/02/2025).
Ouvi dias atrás – e vale a pena lembrarmos e meditarmos a respeito – que, no “Cântico das Criaturas”, São Francisco, após falar do Criador e do mundo que nos cerca, não fala dos seus irmãos frades, nem menciona qualquer pessoa pelo nome, mas louva a Deus pelos que perdoam e pelos que promovem a Paz, pois “a Paz e a Esperança brotam do Perdão”.
Que, nesta Quaresma, possamos analisar o quanto o “Sumo Bem” está presente e guia nossos passos, o quanto colaboramos para a conservação da nossa “Casa Comum” e o quanto estamos a ser promotores da Paz e cultivadores da Esperança nos ambientes que vivemos.
FONTE:
https://franciscanos.org.br/carisma/simbolos/o-cantico-das-criaturas#gsc.tab=0, acessado em 12/02/2025
https://www.vatican.va/content/francesco/es/messages/pont-messages/2025/documents/20250210-messaggio-forum-popoli-indigeni.html, acessado em 12/02/2025 – Tradução: Leila Denise Juttel Hack
Leila Denise