Transformando histórias: O jornalismo de Camila Moraes na TV Aparecida

Na coluna “Em Fraternidade”, buscamos trazer histórias inspiradoras de pessoas que, através de suas vocações, refletem os valores do Evangelho e do serviço ao próximo. Nesta edição, Frei Augusto Luiz Gabriel entrevista Camila Moraes, jornalista com mais de uma década de experiência e atualmente repórter e apresentadora na TV Aparecida. Camila compartilha sua trajetória profissional, suas motivações para escolher o jornalismo e os desafios de comunicar com a juventude no contexto de uma emissora católica. Com paixão pelo ser humano e por contar histórias, ela nos revela como o jornalismo pode ser uma poderosa ferramenta de transformação e formação crítica, especialmente para os jovens.

Confira a seguir a entrevista na íntegra!

Conexão Fraterna: Poderia se apresentar e nos contar sobre sua trajetória no jornalismo e como foi seu ingresso na TV Aparecida?

Camila: Eu me chamo Camila Moraes, sou jornalista e formada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Bauru. Me formei em 2011, então tenho mais de 10 anos de profissão. Trabalhei na universidade e, depois disso, tive algumas experiências em Bauru: fui assessora de comunicação da diocese e trabalhei em uma afiliada da Record. Mais tarde, me mudei para Cachoeira Paulista, onde trabalhei na Canção Nova, sempre atuando como jornalista. Comecei como produtora, depois passei para a reportagem e também tive experiências na apresentação. Desde 2017, estou na TV Aparecida, onde sou repórter e apresento programas.

Entrei na TV Aparecida por conta das experiências que já tinha no jornalismo e na igreja. Para trabalhar com jornalismo na igreja, é preciso ter tanto o conhecimento técnico do jornalismo quanto uma compreensão dos termos e do funcionamento da Igreja Católica, que é um nicho muito específico, assim como a política, o esporte e a cultura. Acredito que o jornalismo religioso também exige estudo e aprofundamento, e foi assim que comecei na TV Aparecida, no início de 2017.


Conexão Fraterna: Quais foram as principais motivações para você escolher o jornalismo como carreira?

Camila: Minhas principais motivações foram a paixão pelo jornalismo e pela televisão. Sempre gostei muito de conhecer histórias, de conversar com as pessoas e sempre fui fascinada pela mídia televisiva. Eu adorava assistir televisão e imaginar como as coisas eram feitas e produzidas. Desde criança, nunca quis outra profissão. Me lembro de, ainda pequena, buscar informações sobre o jornalismo e conhecer pessoas que trabalhavam na área. Gosto de ouvir as pessoas e de entender o que elas têm para contar. Acredito que minha principal motivação é essa: gostar do ser humano e do jornalismo.


Conexão Fraterna: Na sua opinião, qual é o papel do jornalismo na vida da juventude hoje?

Camila: Acredito que o jornalismo tem um papel essencial para evitar que a juventude se baseie apenas nas redes sociais. Hoje, os jovens estão muito focados em redes sociais e diversas plataformas, mas o jornalismo tem a missão de informar e formar a consciência crítica das pessoas. Um jovem que não lê não consegue formar uma opinião crítica dos fatos. O jornalismo é essencial, sobretudo para a juventude, que está moldando seus pensamentos e opiniões. Ele ajuda a desenvolver uma visão crítica dos assuntos, indo além das manchetes e informações superficiais.


Conexão Fraterna: Como você enxerga a relação dos jovens com o jornalismo tradicional em comparação com as novas mídias (redes sociais, podcasts, etc.)?

Camila: Percebo que os jovens hoje são muito atraídos pelas tecnologias e pelas diferentes mídias disponíveis. É muito mais fácil consumir conteúdo dessa forma. No entanto, essa desconexão com o jornalismo tradicional pode diminuir a capacidade crítica dos jovens. Consumir informações apenas de uma mídia específica pode limitar a abertura de mente. Assistir a um jornal, por exemplo, permite ouvir outras opiniões e formar uma visão mais crítica. A falta de ligação com o jornalismo tradicional pode impactar, no futuro, a percepção crítica dos jovens como adultos.


Conexão Fraterna: Como é a rotina em uma emissora católica e como o jornalismo pode se diferenciar na abordagem dos temas de interesse dos jovens?

Camila: A rotina em uma emissora católica é semelhante à de outras emissoras, apenas com conteúdos diversificados. O que muda é que procuramos ouvir sempre a voz da igreja, nos pautando por ela. Buscamos equilibrar as opiniões do poder público, da igreja e do povo, checando todas as informações. Produzir conteúdo para os jovens é um desafio, pois eles muitas vezes não buscam verificar as informações e tendem a acreditar mais em fake news. Já o jornalismo de qualidade é checado e baseado em fontes confiáveis. Na emissora católica, abordamos temas da sociedade, mas sempre buscando a posição da igreja sobre os assuntos. Não estamos alheios ao que acontece na sociedade, mas procuramos nos aprofundar.


Conexão Fraterna: Quais são os principais desafios que você percebe em comunicar com os jovens no contexto de uma emissora católica?

Camila: O primeiro desafio é o individualismo. Em uma sociedade muito egocêntrica, há uma tendência de não olhar para o próximo. Em uma emissora católica, procuramos sempre trabalhar o coletivo e não a individualidade, seguindo os passos de Jesus Cristo. Hoje, nossa sociedade valoriza o individualismo, o que é contrário aos valores que tentamos transmitir. Outro desafio é a pluralidade religiosa e o laicismo crescente. A igreja, que até alguns anos atrás tinha grande credibilidade, vem perdendo espaço entre os jovens devido às mudanças na sociedade. Perder a confiança dos jovens afasta-os desse conteúdo.


Conexão Fraterna: Quais estratégias ou formatos de comunicação você considera mais eficazes para alcançar e dialogar com a juventude?

Camila: A primeira estratégia é estar bem informado. A juventude tem acesso fácil à informação através do celular, e se o que você fala não for verdadeiro, perde-se a credibilidade. Então, é essencial ter conteúdo de qualidade e se aprofundar nas informações. Sobre os formatos, acredito que o jornalismo não deve ser confundido com entretenimento. O jornalismo tem sua credibilidade e, mesmo utilizando vídeos curtos e formatos criativos, é importante manter o rigor jornalístico. É possível alcançar a juventude que consome conteúdo de rede social, desde que haja credibilidade e informação.


Conexão Fraterna: Como o jornalismo pode contribuir para uma formação crítica e consciente dos jovens em relação a temas como fé, política, meio ambiente, e questões sociais?

Camila: O jornalismo tem, por essência, a missão de formar cidadãos críticos. Ele ajuda os jovens a saírem da bolha em que estão inseridos, seja na sua classe social ou entre amigos. Tanto as emissoras católicas quanto as plataformas digitais precisam sair de seus muros e levar informação aos jovens, abordando temas como fé, política, meio ambiente e questões sociais. O jornalismo deve romper barreiras e fazer a “Igreja em Saída” acontecer, entregando conteúdos que muitas vezes os jovens não teriam acesso de outra forma.


Conexão Fraterna: Como você avalia a importância de dar voz aos jovens dentro do jornalismo?

Camila: Os jovens precisam entender que não podem ser apenas espectadores da realidade e da sociedade. Eles são agentes de transformação e são fundamentais para garantir uma sociedade mais justa e igualitária. Por isso, é importante que os jovens se envolvam com o jornalismo e estejam presentes na produção de conteúdo. Sem a participação dos jovens, que tragam suas opiniões, criticidade e protagonismo, não conseguiremos formar uma sociedade equilibrada no futuro. Precisamos deles para criar um mundo mais consciente.


Conexão Fraterna: Que mensagem você gostaria de deixar para os jovens que acompanham o seu trabalho e o Conexão Fraterna e que, talvez, tenham interesse em seguir essa profissão?

Camila: Gostaria de dizer aos jovens, parafraseando o Papa Francisco, que não tenham medo. Muitas vezes, ao escolher uma profissão, fala-se muito sobre o salário e os benefícios, mas é importante encontrar realização naquilo que se faz. Quando você percebe que o seu trabalho gera um impacto positivo na sociedade, você se sente realizado profissional e pessoalmente. Os jovens não devem temer escolher o jornalismo como uma forma de denúncia, cobrança e transformação social.

Não podemos ver o mundo como está hoje, especialmente com as questões ambientais, e não fazer nada. Quando entendemos que podemos usar nossa profissão para transformar o mundo, percebemos que somos especiais aos olhos de Deus. Que os jovens tenham ousadia, que enfrentem os riscos e desafios da profissão, mas que também encontrem a realização de ver o impacto positivo do seu trabalho na sociedade e ao seu redor. Que não tenham medo de escolher o jornalismo como uma ferramenta de transformação social.

Imagens: Tv Aparecida

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