“Basta-te a Minha graça” (2Cor 12,9)

Creio que esta é uma maneira muito elegante e verdadeira que São Paulo utilizou para afirmar que, na verdade, somos todos pobres, que tudo vem de Deus.

Posso estar ultrapassando algumas linhas, mas me arrisco a dizer que são poucas as coisas que realmente “temos”, e, ainda, dependemos da graça de Deus para colocar em prática: nossas escolhas e nosso livre arbítrio.

Quando ouvi este trecho, que compõe a liturgia do 14º Domingo Comum (Ano B), essa ideia ficou “martelando” na minha cabeça, e não consegui evitar de trazer para este espaço. Como não pensar que algo tão rico, de tanto significado e profundidade, pode se perder entre as tentações e dificuldades apresentadas pelo mundo?

Tenho certeza que esta não foi uma frase unicamente direcionada a São Paulo durante suas orações: ela se repete a cada momento da vida de cada um de nós, queiramos ou não, acreditemos ou não, desejemos ou não.

Mas este “pouco” (a Graça de Deus) é algo tão grandioso, tão especial, tão acolhedor, tão misericordioso, tão “onipresente”, que – permitam-me uma analogia aos conceitos básicos de Economia –, pela oferta no “mercado”, tem pouca procura “dos clientes”, gerando uma baixa valorização. Parece ser a única explicação “lógica” neste contexto de “loucura coletiva” …

Na Sessão do G7 sobre Inteligência Artificial no último junho, o “Francisco de hoje” nos traz algumas reflexões que encontram eco na temática acima, também se voltando para a Inteligência Artificial: “A Sagrada Escritura atesta que Deus deu aos homens o seu Espírito a fim de terem ‘sabedoria, inteligência e capacidade para toda espécie de trabalho’ (Ex 35,31) … o ser humano não só escolhe como, no seu coração, é capaz de decidir. A decisão é um elemento que poderíamos definir como o mais estratégico de uma escolha e requer uma avaliação prática. Frequentemente, na difícil tarefa de governar, somos chamados a tomar decisões com consequências para muitas pessoas. A esse respeito, a reflexão humana sempre falou de sabedoria, a phronesis da filosofia grega e, pelo menos em parte, a sabedoria da Sagrada Escritura. Diante dos prodígios das máquinas, que parecem saber escolher de forma independente, devemos ter bem claro que a decisão deve ser sempre deixada ao ser humano, mesmo sob os tons dramáticos e urgentes com que, às vezes, se apresenta na nossa vida. Condenaríamos a humanidade a um futuro sem esperança se retirássemos às pessoas a capacidade de decidir sobre si mesmas e sobre as suas vidas, obrigando-as a depender das escolhas das máquinas. Precisamos de garantir e proteger um espaço de controle significativo do ser humano sobre o processo de escolha dos programas de inteligência artificial: está em jogo a própria dignidade humana… Além da complexidade de visões legítimas que caracterizam a família humana, surge um fator que parece unir essas diferentes instâncias. Registra-se como que uma perda ou, pelo menos, um eclipse do sentido do humano e uma aparente insignificância do conceito de dignidade humana. Parece que se está a perder o valor e o significado profundo de uma das categorias fundamentais do Ocidente: a categoria de pessoa humana.” (Borgo Egnazia, Itália, 14/06/2024).

Como “abraçamos” a Graça de Deus em nossas vidas? Permitimos que a nossa “pobreza” esteja presente em nossas vidas? Em que ou em quem estão embasadas as nossas escolhas? Até que ponto você está disposto a ser o autor das suas escolhas na sua vida?


Leila Denise

Deixe uma resposta