Dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede” (Jo 3,15)

Todos nós temos uma “sede particular” que não sacia; essa sede tem a ver com nossa história, com os dons que temos e desenvolvemos, com nossos valores, com a educação que recebemos, com a cultura que nos foi oferecida, com o meio que nos cerca, com as pessoas com as quais convivemos e com o que queremos para o nosso futuro.

Definitivamente, a minha sede particular tem a ver com música, com amizade, com pessoas que confio e que amo, com encontros felizes. Sempre que consigo reunir todas essas peças, aquele momento específico da minha vida aquece meu coração e me traz alegria, conforto e esperança, e me é sinônimo de cuidado, proteção e aconchego.

Nem todos são como eu (inclusive aqui em casa): uns gostam da distância dos holofotes (sociais ou familiares), outros preferem a diversão irresponsável (e têm que arcar com as consequências), outros ainda preferem a lamentação (e a vida acaba por deixá-los sós, porque ninguém gosta dos “ranzinzas”), outros só buscam a realização profissional (e correm o risco de se tornarem “ocos” de sentimentos), e há os que só vivem (sem qualquer perspectiva ou objetivo) …

A “Água Viva” que o próprio Cristo fala à samaritana no poço dos “filhos de Jacó” é aquela que sacia a nossa sede da alma – que todos temos, ainda que não a valorizemos ou a alimentemos –, pois mantém viva nossa Esperança em um Deus Uno e Trino que nos preparou uma vida de eternas alegrias, que está condicionada à nossa vivência neste mundo que estamos. Valorizar a nossa Fé enquanto saciamos nossa “sede particular” é uma das formas de exercitarmos a vivência dos valores eternos, é pavimentar nossa “pequena via”, como tão sabiamente nos ensinou Santa Teresinha do Menino Jesus.

Em sua primeira viagem ao Brasil, na cerimônia de boas-vindas por ocasião da XXVIII Jornada Mundial da Juventude, o Francisco de hoje nos fala um pouco sobre essa saciedade que o próprio Cristo nos lembra da necessidade que temos: 

“Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta… Vim para a Jornada Mundial da Juventude. Vim para encontrar os jovens que vieram de todo o mundo, atraídos pelos braços abertos do Cristo Redentor… Estes jovens provêm dos diversos continentes, falam línguas diferentes, são portadores de variadas culturas e, todavia, em Cristo encontram as respostas para as suas mais altas e comuns aspirações e podem saciar a fome de verdade límpida e de amor autêntico que os irmanem para além de toda a diversidade. Cristo abre espaço para eles, pois sabe que energia alguma pode ser mais potente que aquela que se desprende coração dos jovens quando conquistados pela experiência da sua amizade. Cristo ‘bota fé’ nos jovens e confia-lhes o futuro de sua própria causa: ‘Ide, fazei discípulos’. Ide para além das fronteiras do que é humanamente possível e criem um mundo de irmãos. Também os jovens ‘botam fé’ em Cristo… Os pais usam dizer por aqui: ‘os filhos são a menina dos nossos olhos’. Que bela expressão da sabedoria brasileira que aplica aos jovens a imagem da pupila dos olhos, janela pela qual entra a luz regalando-nos o milagre da visão! O que vai ser de nós, se não tomarmos conta dos nossos olhos? Como haveremos de seguir em frente?” 

Palácio Guanabara, Rio de Janeiro, 22/07/2013

Eu tento, mas não posso evitar as perguntas que me vêm: “Como saciar minha ‘sede particular’?” “Estou exercitando a vivência dos valores eternos?” “Já abrimos a porta do nosso coração para permitir que o próprio Cristo sacie nossa sede da ‘Água Viva’?” “Como você traduz no seu dia a dia que você ‘bota fé’ nos ensinamentos de Cristo?” “O que é a ‘menina dos olhos’ da sua vida?”

Bora lá?

Leila Denise      

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