Confesso não lembrar de ter lido esta frase antes como uma frase bíblica – e foi uma ótima surpresa constatar que os primeiros cristãos (neste caso, o primeiro dos papas da Igreja) já percebiam esta realidade e a proclamavam em voz alta.
Depois de muitos séculos, precisou que um papa vindo, como ele mesmo disse, “do fim do mundo” relembrasse a todos os cristãos, através de diversas frentes de atuação, essa “novidade” …
Embora ainda existam pessoas que se definam como “cristãos” que não o pratiquem, esta é uma realidade. Já ouvi até que “todos são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais do que outros” … E ainda são numerosas as pessoas no mundo que encontram um motivo para segregar, para classificar, para expor as diferenças como dificuldades – e não como oportunidade de crescimento e aprendizado para quem o(a) rodeia…
Aqui, gostaria de lançar um alerta: temos que dar espaço a todos, oportunidade e voz a todos, mas precisamos ter consciência que alguém que teve sua vida marcada por algum tipo de exclusão não pode passar a vida toda segurando a “bandeira da diferença” sem nem ao menos tentar dialogar ou conviver com os “ditos normais” – e a recíproca também é verdadeira.
Creio que aqui, também, temos que lembrar aquela passagem da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: “há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo” (1Co 12,4). Todos somos convidados a colocarmos nossos dons e particularidades a serviço de nossos irmãos. Como dizia o frei que nos abriu caminho para a Ordem Franciscana Secular em nossa comunidade, o “tempero de cada um” é importante para o cultivo do diálogo e no aprendizado fraterno.
Logo no início da Encíclica Fratelli Tutti, o Papa Francisco nos lembra da importância de estarmos abertos ao diálogo, mesmo quando se multiplicam as dificuldades para que esse diálogo se concretize, como nos demonstra essa citação sobre são Francisco de Assis: “3. Na sua vida, há um episódio que nos mostra o seu coração sem fronteiras, capaz de superar as distâncias de proveniência, nacionalidade, cor ou religião: é a sua visita ao Sultão Malik-al-Kamil, no Egito. A mesma exigiu dele um grande esforço, devido à sua pobreza, aos poucos recursos que possuía, à distância e às diferenças de língua, cultura e religião. Aquela viagem, num momento histórico marcado pelas Cruzadas, demonstrava ainda mais a grandeza do amor que queria viver, desejoso de abraçar a todos. A fidelidade ao seu Senhor era proporcional ao amor que nutria pelos irmãos e irmãs. Sem ignorar as dificuldades e perigos, São Francisco foi ao encontro do Sultão com a mesma atitude que pedia aos seus discípulos: sem negar a própria identidade, quando estiverdes «entre sarracenos e outros infiéis (…), não façais litígios nem contendas, mas sede submissos a toda a criatura humana por amor de Deus». No contexto de então, era um pedido extraordinário. É impressionante que, há oitocentos anos, Francisco recomende evitar toda a forma de agressão ou contenda e também viver uma «submissão» humilde e fraterna, mesmo com quem não partilhasse a sua fé.”
Com essas palavras, o Papa Francisco também nos convida a olharmos para cada ser humano que nos cerca e tentarmos viver a máxima que “somos todos irmãos” – como nos lembrou tão ávida e vividamente a Campanha da Fraternidade deste ano de 2024 –, sem esquecer daquele ditado que nos lembra que “nenhum de nós é tão sábio que não tenha nada para aprender, nem tão pobre que não tenha nada a oferecer” …
E você – jovem, cristã(o), franciscano(a) –, como você interage com quem está à sua volta? Como você está se preparando para a Festa de Pentecostes? Como o Amor e a Misericórdia do Pai e do Filho, vivenciado de forma tão especial pelo Poverello, se fazem presente na tua vida? O que você precisa aprender e o que você pode oferecer aos seus irmãos?
É, são alguns pontos para se pensar… ‘Bora lá?
Leila Denise