Chegamos a mais um domingo, nos reunimos em torno da Palavra, hoje em torno da vinha. Já sabemos que é bem característico de Jesus nos revelar o Reino – que acontece já no aqui e agora – através de parábolas.
A videira é o espaço onde se desenrola toda a história. Apesar de ser uma plantação, não temos ilustrados o suor de um dia de trabalho, as ferramentas da terra, a preocupação com o rendimento dos frutos, o controle de pragas, isto é, nada relacionado com a prática do plantio. Temos os vinhateiros, o dono da vinha, os empregados, o filho do dono, ou seja, o que temos é a relação entre eles como protagonista da história.
Não é difícil de encontrar no cotidiano todos esses personagens, a vinha é sempre o espaço onde acontece as relações, é o mundo. O dono da vinha, Deus, é aquele que mantêm o mundo, que conhece o seu terreno, dá o vigor do investimento, do cuidado, mesmo aparentemente distante (no estrangeiro).
Entretanto, temos os vinhateiros, aqueles que não se abrem ao diálogo, cegos de soberba, se preocupam só consigo mesmos, se acham os verdadeiros donos da vinha e não conseguem ampliar a sua visão. Se revoltam com as intervenções do dono.
Podemos ver que a relação é sempre proposta, incansavelmente: um, dois, três empregados se colocam a caminho, e os três não são acolhidos: O primeiro é espancado, isto é, os vinhateiros gastam todo o esforço que poderia ser investido em um dia de trabalho para o mal. O segundo é morto, considerando o empregado como uma erva daninha, que atrapalha seu desenvolvimento. O terceiro é apedrejado, pelas pedras que se estavam ali dispostas aos pés da vinha para proteger suas delicadas raízes, desviadas de seu propósito.
Tudo aquilo que é disposto pelo Dono da vinha é desviado de seu propósito. O que resta é mandar seu Filho, mais uma tentativa. A relação é proposta de novo, mas os vinhateiros decidem matar o filho. E matando o filho, matam toda a possibilidade de se estabelecer uma relação sadia com Dono. A história termina tristemente assim. Sem vinha, sem frutos, sem diálogo, sem respeito.
Finalmente Jesus revela que quem produz os frutos não é somente a vinha, mas o trabalho entorno do plantio, o ser humano faz parte da obra do mundo. Aqueles que não aderem ao plano de amor, na construção do Reino, não poderão dar os bons frutos.
É o modo como construímos relações que dá o colorido da vida, se não conseguirmos ampliar a nossa visão, transpor nossa visão reduzida e romper com o preconceito do diferente não daremos fruto. Somos os vinhateiros que substituíram os maus. Que possamos ouvir a voz do Filho do dono, cumprir nosso papel, suar com nosso trabalho, e construir o reino.
Frei Gabriel Nogueira Alves, OFM*
* Frade franciscano da Província da Imaculada Conceição do Brasil, Frei Gabriel é graduado em Filosofia pela FAE – Centro Universitário de Curitiba (PR), e atualmente cursa o 1º ano de Teologia no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ).