Desde criança, sempre pensei ser interessante – embora sempre tivesse dificuldade de colocar em prática, principalmente quando o produto era chocolate ou dinheiro – “estocar” para tempos de escassez ou de dificuldades, desde que isso não significasse prejuízo para outra pessoa.
Nos tempos de “economia bicuda” que vivemos, para a maioria das pessoas, pode-se afirmar que esta atitude (principalmente com relação ao dinheiro e aos bens materiais) é um luxo, está completamente fora da realidade que as cerca.
Muito se fala sobre a solidariedade que é necessária para minimizar as diferenças de renda entre as classes sociais de nossas comunidades, equilibrando o poder aquisitivo e a qualidade de vida de todas as pessoas… Mas nada disso é possível se não houver um sentimento dentro de cada ser solidário: a Bondade.
São Francisco de Assis já dizia: “Senhor, Vós sois o Bem, o Sumo Bem, todo o Bem”.
Partindo deste princípio, podemos dizer, de uma forma bem resumida e talvez muito simplista, que a Bondade é uma manifestação de Deus entre os seres por Ele criados.
O ponto mais interessante sobre essa manifestação de Deus entre nós é que ele só se concretiza se, através do nosso livre arbítrio, cada um de nós escolhermos, de forma consciente, tornar essa presença real em nossas vidas e nas vidas de quem nos cerca – ou seja, depende exclusivamente da nossa vontade.
O Francisco de hoje nos traz alguns questionamentos para verificarmos se as escolhas que fazemos trazem ou não a Bondade em seu bojo: “No processo de discernimento, é importante permanecer atento também à fase que se segue imediatamente à decisão tomada, para captar os sinais que a confirmam, ou aqueles que a desmentem… Um dos sinais distintivos do espírito bom é que ele comunica uma paz que perdura no tempo… a bondade de uma escolha beneficia todos os âmbitos da nossa vida, porque é participação na criatividade de Deus. Podemos reconhecer alguns aspectos importantes, que ajudam a ler o tempo que se segue à decisão como possível confirmação da sua bondade, pois o tempo que se segue confirma a bondade da decisão… Um primeiro aspecto consiste em saber se a decisão é considerada como um possível sinal de resposta ao amor e à generosidade que o Senhor tem em relação a mim. Não nasce do medo, não nasce de uma chantagem afetiva, nem de uma constrição, mas nasce da gratidão pelo bem recebido, que leva o coração a viver com liberalidade a relação com o Senhor. Outro elemento importante é a consciência de se sentir à-vontade na vida – aquela tranquilidade, “estou à-vontade” – e de se sentir parte de um desígnio maior, para o qual se deseja oferecer a própria contribuição… outro bom sinal de confirmação é quando se permanece livre em relação ao que se decidiu, disposto a pô-lo novamente em questão, até a renunciar ao mesmo perante possíveis negações, procurando encontrar nelas um eventual ensinamento do Senhor. Não porque Ele nos quer privar do que nos é querido, mas para o viver com liberdade, sem apego. Só Deus sabe o que é verdadeiramente bom para nós.” (Audiência Geral, Sala Paulo VI, 07/12/2022)
Todos nós sabemos como a Bondade e a sua vivência, perante si mesmo e à comunidade, pode transformar as nossas vidas – porque, de alguma forma e em algum momento, com certeza, já desfrutamos do prazer de sua presença em nosso viver.
Bora praticar essa “manifestação de Deus” em cada um de nós?
Leila Denise