Os meios de comunicação em todo Brasil tem dado uma notícia recorrente e que me causa uma grande tristeza: o resgate de pessoas em situações “análogas à escravidão”. Essa expressão significa que irmãos estão sendo submetidos a trabalhos forçados, humilhantes e degradantes. Por exemplo: são obrigadas a pagar pela estadia e comida para seus empregadores e essa dívida fica tão alta, que nunca conseguem quitar e sair da situação; não podem sair dos alojamentos onde estão para visitar seus familiares ou até mesmo falar com eles por qualquer meio de comunicação, tendo a sua liberdade restrita. Tal situação é tão grave que é criminalizada no Código Penal Brasileiro, no artigo 149 e em nossa Constituição, tal conduta é incisivamente proibida no artigo 5º, quando fala sobre direitos e garantias fundamentais, bem como em outros artigos da mesma, que elevam o ser humano como centro de todo ordenamento que rege o nosso país.
Geralmente, essas pessoas migram de suas cidades, estados e país sob a ilusão proposta por intermediários e empregadores de que serão bem sucedidos e terão muito dinheiro. Sem saída para suas vidas já difíceis, largam tudo e confiam na promessa. Infelizmente acaba se tornando um verdadeiro pesadelo, onde muitos perdem até a vida.
No sul, no sudeste, não importa a parte do Brasil, ainda temos pessoas que utilizam desse tipo de prática criminosa para obter lucro sobre pessoas que, para eles, não importam em nada. Constituição, lei, direitos fundamentais, trabalhistas, todos jogados no lixo, quando o lucro vem primeiro que a vida. Até quando?
Infelizmente a prática que nunca deveria ter existido, mas que foi “abolida” e continua evidente em nosso país, não acabou. E neste Tempo em que estamos na Oitava de Páscoa, na alegria da ressurreição do Senhor, não podemos esquecer dessa vergonhosa realidade que, como Cristãos e franciscanos devemos buscar eliminar, pois Jesus veio a nós para nos libertar, não para fazermos escravos uns dos outros.
Ele mesmo diz que veio para que todos tenham vida, e a tenham em abundância (Jo. 10,10), mas como ter vida plena quando não se respeita a dignidade do outro? Onde se pode pensar que o outro é inferior a ponto de desconsiderar que também é filho de Deus, desse Deus que se fez homem e morreu por todos, sem exceção?
E eu me pergunto: aonde eu e você ainda não experimentamos Jesus verdadeiramente para ainda permitir que essas coisas aconteçam? É verdade que na maioria das vezes não podemos fazer muita coisa, mas o pouco que podemos muitas vezes deixamos de fazer, por achar que não fará diferença. Mas faz e muita. Denunciar, estar atento às situações, e sim, não consumir o que vem de produto do trabalho degradante dos nossos irmãos, já são grandes passos para a mudança de mentalidade, mas é preciso começar agora.
Nossa Páscoa só será verdadeira quando de fato as desigualdades gritantes ao nosso redor forem apagadas por uma vida totalmente transformada pelo Cristo que também foi humilhado, castigado e morto por quem se achou no direito de dispor de sua vida, assim como hoje ainda acontece…
Que passemos das palavras às atitudes, que mesmo sendo pequenas, serão eficazes em transformar este mundo no lugar que sempre deveria ter sido: casa de todos, com amor, respeito e dignidade.
Feliz Páscoa!
Um abraço fraterno da Ana.