No período que participei ininterruptamente do grupo de Jovens da JUCE, foram várias as encenações da Paixão e Morte de Cristo que participei nas Sextas-Feiras Santas. Como jovens não toleram fazer sempre do mesmo jeito a mesma coisa (e no nosso tempo já era assim rsrsrs), nas primeiras três delas lembro que mudávamos o milagre que Jesus realizava durante a encenação: cura dos leprosos, a viúva de Nahim e, enfim, chegou o milagre que por algum tempo “se repetiu”, a cura do cego de nascença – de onde é extraída a passagem do título acima.
Às vezes também me pego pensando muito na prática da Leitura Orante da Bíblia, que nos foi ensinada pela saudosa irmã franciscana que me acompanhou tanto no grupo de jovens quanto na OFS. Lendo a Bíblia sob essa ótica, é comum prestarmos atenção em pequenos detalhes do texto que nem sempre são os mais repetidos ou visados nos estudos…
Muitas foram as vezes que ouvi comentários como
“O que foi que eu fiz para merecer isso?😥”, “Por que eu?”🤦♀️, “Tinha que ser comigo?”🙍♀️, “Me erra!” 😣; porém, parando para pensar, poucas foram as vezes que ouvi alguém dizer, ante uma situação difícil, a resposta que Cristo deu aos discípulos quando perguntaram a Ele se era o cego ou seus pais que tinham pecado para que ele nascesse assim (cego)…
O Francisco de hoje, como de costume, tem palavras muito sábias sobre esta passagem bíblica:
“O primeiro aspecto a notar é que o olhar de Jesus nos precede, é um olhar que chama ao encontro, que chama à ação, à ternura, à fraternidade… É Jesus que vê nele um irmão que precisa de ser libertado, para ser salvo. O Senhor chama-nos a cultivar a ternura e o estilo do encontro. Os discípulos, por sua vez, estão presos ao olhar que se tinha naquele tempo sobre as pessoas cegas de nascença: consideradas como nascidas do pecado, punidas por Deus e prisioneiras de um olhar de exclusão. Numa cultura de preconceitos, Jesus rejeita radicalmente esta forma de ver… É uma forma de libertação, de aceitação, de salvação. Hoje, infelizmente, estamos habituados a perceber apenas o exterior das coisas, o aspecto mais superficial… Como nos ensina o Evangelho, ainda hoje a pessoa doente ou deficiente, a partir da sua fragilidade, da sua limitação, pode estar no centro do encontro: o encontro com Jesus, que se abre à vida e à fé, e que pode construir relações fraternas e solidárias, na Igreja e na sociedade. Em segundo lugar, Cristo realiza para o cego ‘as obras de Deus’ (v.3), concedendo-lhe a vista… O coração de Jesus não pode permanecer indiferente perante o sofrimento. Ele convida-nos a agir imediatamente, para consolar, acalmar e curar as feridas dos nossos irmãos. A Igreja é como um hospital de campanha… Enquanto os chefes dos fariseus, fechados nas suas tradições e na sua rigidez, condenavam o homem cego de nascença como ‘pecador’, ele, com simplicidade desarmante, professou sua fé: ‘Uma coisa sei, é que, tendo sido cego, agora vejo’ (Jo 9,25), e tornou-se testemunha de Jesus, testemunha da obra de Deus, obra de misericórdia, de amor que dá vida. Também nós somos chamados a dar testemunho de Jesus na nossa vida, com o estilo de acolhimento e amor fraterno.” (Discurso aos membros da Associação “Voir Ensemble” [“Ver Juntos”], Sala Clementina, 19/02/2022)
Até tentei deixar a citação menor, mas ia faltar algo que eu considero importante frisar…
Depois de tudo isso, fica difícil não perguntar: qual é a obra de Deus que você quer que se manifeste na tua vida?
Ah, não esqueça: você tem que permitir que Ele aja em você para que isso ocorra.
Leila Denise