Este ano será mais um ano eleitoral. Nos próximos dias, os candidatos terão sua candidatura homologada e o Brasil terá a oportunidade de demonstrar nas urnas seu respeito e apreço pela democracia. Porém, a cada um de nós, chega junto com o direito ao voto, nosso dever como cidadãos de manifestarmos nossa opinião nessa mesma democracia. Além disso, durante o mesmo período, a CNBB terá a tarefa de elaborar o documento que trará em seu bojo a opinião dos cristãos católicos, como resposta ao Sínodo convocado pelo Para Francisco em 2021, pois, a partir desta consulta, o Papa Francisco pretende planejar os rumos a tomar para os tempos vindouros.
Importante registrar que nos últimos dias, tive a oportunidade de me aprofundar sobre a “Fratelli Tutti”, última encíclica publicada pelo Papa Francisco. Posto tudo isso, voluntariamente ou não e me sinto impelida a falar sobre o Bem Comum, as nossas atitudes, a cidadania e um dos princípios basilares do Direito: a dignidade da pessoa humana.
A “Fratelli Tutti” não fala só “sobre a Fraternidade e a Amizade Social”, como está escrito na capa da publicação, mas, ao menos aos meus olhos, grita a cada um de nós a importância de termos, como cristãos que nos declaramos, que demonstrar o quanto a fraternidade pode contribuir para o Bem Comum.
Na encíclica “Laudato Si” o Papa Francisco nos trazia a importância do cuidado com a “Casa Comum”; toda casa costuma ter como finalidade dar abrigo a seus moradores; a “Fratelli Tutti” nos fala do cuidado que precisamos ter com esses moradores que, como fala São Paulo, “foram revestidos de Cristo” (Gl 3,27) e tornados irmãos pelo seu sangue derramado na cruz.
Imagino que, findos nossos dias na “Casa Comum”, cada um a seu tempo, teremos que prestar contas – não dos pecados de nossos pais, nem dos erros dos nossos vizinhos, menos ainda dos “adversários” nas eleições – de nossas atitudes. E, já que nos declaramos seguidores de Cristo, nossas atitudes ao longo de nossa vida são as “credenciais” que levaremos conosco (e acho difícil conseguirmos corromper o porteiro do lugar e “darmos um por fora” para podermos entrar ou sair do nosso local de destino…). Creio ser importante registrar, ainda que, se não tanto perante a “Lei dos Homens”, com certeza perante a “Lei de Deus”, seja qual for o erro cometido por qualquer um de nós, políticos ou não; pertencentes ao clero ou leigos; cristãos ou não, teremos nossas atitudes, sejam elas quais forem, “pois vocês serão julgados com o julgamento com que julgarem, e serão medidos com a medida com que medirem” (Mt 7,2).
Incentivando o Bem Comum e vivenciando os ensinamentos da “Fratelli Tutti”, os frutos colhidos serão a cidadania do povo (esse coletivo complicado de se classificar, com diversidade, experiências e culturas próprias), que alcançará a dignidade necessária para viver como “pessoa humana”, a plenitude de sua cidadania.
Convivi com alguém, há alguns anos, que na maioria dos textos que fazia em seu trabalho (e eu os tinha que digitar) mencionava o princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Depois de vários anos naquela atividade, foi com ele que aprendi que alguém tinha escrito sobre isso e que era um dos princípios básicos do Direito.
É imprescindível termos presente, ao exercermos nosso direito de cidadãos, o voto, as palavras do Papa Francisco, sobre a importância de nossas escolhas ao escolhermos nossos governantes, levando em conta não só os valores da economia e do mercado (hoje enraizadas e implantadas na sociedade), mas também pensarmos no Bem Comum, sem esquecer a Doutrina Social da Igreja, e na dignidade daquelas pessoas que não são agraciadas com as benesses do sistema, que têm necessidades que não são atendidas pelos bens tangíveis e que sentem a ausência de políticas e políticos que os defendam com sincera efetividade, priorizando o Amor e a Misericórdia nas relações e nas decisões:
“Trata-se, sem dúvida, de outra lógica. Se não se fizer esforço para entrar nessa lógica, as minhas palavras parecerão um devaneio. Mas, se se aceita o grande princípio dos direitos que brotam do simples fato de possuir a inalienável dignidade humana, é possível aceitar o desafio de sonhar e pensar em uma humanidade diferente. É possível desejar um planeta que garanta terra, teto e trabalho para todos. Esse é o verdadeiro caminho da paz… Com efeito, a paz real e duradoura é possível só a partir de uma ética global de solidariedade e cooperação a serviço de um futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira”
Fratelli Tutti, 127
É importante termos a consciência de que não importa a(s) cor(es) da bandeira que carregamos, pois, a Lei do Talião perdeu seu sentido prático após os ensinamentos de Jesus. Depois dEle ter vivido como nosso irmão entre nós, o “olho por olho e dente por dente” deixou de viger. O que realmente tem valor é o Amor e a Misericórdia, tão experimentado e anunciado pelo exemplo do “Poverello” de Assis.
Um abraço fraterno!
Leila Denise