“Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra”
(Jo 8,7)
Acredito que não seja surpresa dizer que perdoar é um ato mais fácil de explicar do que de se concretizar.
Tenho ciência de minhas muitas limitações como ser humano, e cada uma dessas limitações “facilitou a estrada” para que os pecados por mim cometidos pudessem se multiplicar ao longo dos anos.
Entendo que nenhum de nós tenha por objetivo de vida a proliferação do pecado sobre a face da terra, nem que incentive o seu cultivo; entretanto, esse fato isolado, por si só não impede que, ainda que façamos o propósito diário de fazermos “o certo porque é certo”, ainda pequemos.
Alguns dos pecados que cometemos nem são intencionais – fazemos ou dizemos algo que reflete, de alguma maneira, sobre a vida de outra pessoa –, mas nem por isso nos isentam. Outros, ainda, são por nós cometidos pela omissão, pois escolhemos não nos envolver, não opinar, “deixar correr …
Ainda há quem dedique seu tempo, sua atenção e suas forças para declarar os pecados que as outras pessoas fazem; esquecem que elas próprias também pecam e, assim como elas direcionam seus atos para “policiar” as pessoas às quais alcançam, outros também se ocuparão de fazer isso sobre elas…
O que quero realmente ressaltar são dois pontos principais:
1) Todos nós cometemos pecados, gostando disso ou não, querendo fazer ou não, conscientemente ou não;
2) Todos temos a escolha entre:
a) continuar pecando;
ou
b) fazer o possível para melhorar como pessoas e/ou evitar pecar.
São Francisco de Assis, antes de assumir e vivenciar sua vocação, reconheceu ser um grande pecador; como “Penitente de Assis”, teve a oportunidade de exercitar e exaltar o Amor e a Misericórdia entre as pessoas, sendo até os dias de hoje, referência a todos os cristãos.
O Francisco dos dias atuais, no seu primeiro “Angelus” como Papa, teve como tema a misericórdia. Recordando aquele dia, expressou: “Isso ficou muito impresso em mim, como uma mensagem que, como Papa, deveria dar sempre, todos os dias: a misericórdia… E aquele dia senti muito forte isso: ‘É a mensagem que devo dar como Bispo de Roma. Misericórdia; misericórdia, por favor. Perdão’… A misericórdia de Deus é a nossa libertação e a nossa felicidade. Somos demasiado pobres para colocar condições, necessitamos perdoar, porque precisamos ser perdoados.” (Audiência Geral na Biblioteca Apostólica, 18/03/2020).
Em outra oportunidade, lembrou-nos que “No comportamento divino, a justiça é permeada pela misericórdia, quanto o comportamento humano se limita à justiça. Jesus exorta-nos a abrimo-nos com coragem ao poder do perdão, porque nem tudo na vida se resolve com a justiça, sabemos disso… Quanto sofrimento, quantas lacerações, quantas guerras poderiam ser evitadas se o perdão e a misericórdia fossem o estilo de nossa vida!… É necessário aplicar o amor misericordioso em todas as relações humanas: entre os cônjuges, entre os pais e os filhos, nas nossas comunidades, na Igreja e também na sociedade e na política… Não podemos pretender o perdão de Deus para nós se, por sua vez, não concedermos perdão ao nosso próximo.” (Angelus, 13/09/2020)
O Papa Francisco em um programa de televisão “Che tempo che fa”, falou a respeito desse tema: “Como Deus nos fez livres, somos senhores de nossas decisões e também de tomar decisões erradas.” O apresentador do programa, Fabio Fazio, lhe perguntou: “Há alguém que não mereça o perdão e a misericórdia de Deus ou o perdão dos homens?” E o Papa responde “algo que talvez chocará algumas pessoas”: “A capacidade de ser perdoado é um direito humano. Todos temos o direito de ser perdoados se pedirmos perdão. É um direito que provém da própria natureza de Deus e foi dado como herança aos homens. Esquecemos que alguém que pede perdão tem o direito de ser perdoado. Você fez algo, deve pagar. Não! Tem o direito de ser perdoado, e se você tem uma dívida para com a sociedade, deve pagá-la, mas com o perdão.” (13/02/2022)
Como nós direcionaremos nosso coração, perdoando o que a quem? Qual nosso propósito como cristãos? Como inspiração, trago uma frase que minha mãe costumava ouvir de Frei Lívio Panizza, nos corredores dos encontros da “Escola em Busca do Ser”: “A quem você salvou hoje, fazendo o quê?”
Um abraço fraterno!
Leila Denise