Ouço de algumas pessoas – e preciso esclarecer, a maioria cristãs – que a Igreja Católica e a instituição “Família” estão falidas porque há muita liberdade nos dias de hoje. Outras, ainda, são claras e diretas ao apontarem a evolução tecnológica e a expansão da influência dos meios de comunicação como culpadas dessa situação.
Entendo que seja mais fácil culpar qualquer coisa externa, qualquer influência que nos isente da culpa de nossas más escolhas. Concordo, até, que algumas definições antiquadas foram atualizadas em nome do “politicamente correto”, mas nada substitui o livre arbítrio.
A liberdade de escolher entre o que a mundo nos oferece e os caminhos da Fé, como já disse antes neste espaço, acredito que seja o maior “trunfo” da Igreja Católica, e ela não sabe direito ainda como “usá-lo”.
São Paulo, na Carta aos Gálatas, é bastante objetivo: “De fato, irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas que a liberdade não sirva de pretexto para a carne. Ao contrário, por meio do amor, ponham-se a serviço uns dos outros.” (Gl 5,13)
E o que perdemos pelo caminho, ao que me parece, foi a importância e a necessidade de pensarmos, antes de exercermos nosso livre arbítrio, no bem comum. Muito mais valem o “meu querer”, o “eu tenho”, o “eu posso”.
Também se deve pontuar que há pessoas que se anulam para provarem a outras seu amor – e que fique claro, isso não é amor, é subserviência.
Pensar com a própria cabeça e tomar suas próprias decisões é escutar o que é dito, sopesar os argumentos, o impacto que isso causará à comunidade que o cerca (na vizinhança ou no mundo) e decidir o que considera importante. E isso não se faz ouvindo ideologias – sejam elas partidárias, raciais ou que, de qualquer forma, produzam exclusão –, mas procurando o incentivo e o fomento do Bem Comum (assim mesmo, com letras maiúsculas).
O Papa Francisco, em algumas oportunidades, é muito feliz em algumas colocações:
“O amor verdadeiro é a verdadeira liberdade, pois desapega da posse, reconstrói as relações, sabe acolher e valorizar o próximo, transforma todo esforço em um dom alegre e torna-o capaz de comunhão. O amor torna livres mesmo na prisão, ainda se fracos e limitados… Pode um homem preso ou oprimido permanecer livre? E pode uma pessoa atormentada por dificuldades internas ser livre?… O encontro com a misericórdia de Deus dá uma grade liberdade interior… Verdadeiro escravo é quem não é capaz de amar.”
(Audiência Geral, 12/09/2018)
“Uma pregação que tivesse que excluir a liberdade em Cristo nunca seria evangélica. Você nunca pode forçar em nome de Jesus, você não pode fazer de ninguém um escravo em nome de Jesus que nos liberta… A fé não é uma teoria abstrata, mas a realidade do Cristo vivo, que toca diretamente o sentido diário e geral da vida pessoal. A liberdade liberta na medida em que transforma a vida de uma pessoa e a direciona para o bem. Para sermos verdadeiramente livres, precisamos não apenas nos conhecer, no plano psicológico, mas, acima de tudo, nos tornar verdadeiros, em um nível mais profundo. E aí, no coração nos abramos à graça de Cristo.”
(Audiência Geral, 06/10/2021)
“A liberdade guiada pelo amor é a única que liberta os outros e a nós mesmos, que sabe ouvir sem impor, que sabe amar sem forçar, que constrói e não destrói, que não explora os demais para a sua conveniência e que pratica o bem sem procurar o próprio benefício. Em suma, se a liberdade não estiver a serviço do bem, corre o risco de ser estéril e de não dar frutos. Por outro lado, a liberdade animada pelo amor conduz aos pobres, reconhecendo no seu rosto o Cristo… A pandemia nos ensinou que precisamos uns dos outros, mas não é suficiente sabe-lo, precisamos de o escolher concretamente todos os dias. Decidir sobre aquela estrada. Os outros não são um obstáculo à minha liberdade, mas a possibilidade de a realizar plenamente. A nossa liberdade nasce do amor de Deus e cresce na caridade.”
(Audiência Geral, 20/10/2021)
Pensemos livremente, e que, assim, consigamos fazer nossas escolhas de acordo com nossos valores e pensamentos…
Um abraço fraterno, paz e bem.
Leila Denise