Lembro de uma amiga do grupo de jovens me dizendo que torcia para o mesmo time que eu “por indução”. Fiquei intrigada e, perguntando “como assim?”, ela me respondeu que torcia para aquele time porque “era o time de seu pai e de seu irmão, e, como só eles gostavam de futebol em casa”, ela acabou “aprendendo a torcer para o mesmo time que eles”.
Nos últimos dias, outra amiga me falou que não entende como alguém pode cometer toda sorte de crimes – desde injúrias a homicídios – por causa das cores de um time de futebol.
Como amante dos esportes (e o relato para por aí, porque nunca levei jeito para nenhum outro lugar num local de competição esportiva que não fosse a torcida), entendo a paixão que alimenta os sentimentos e os pensamentos que um torcedor ardoroso vivencia com a “montanha russa” que é a avassaladora sensação de fazer parte desse universo – e tenho uma grande paixão no futebol, que não é importante eu dizer agora qual por vários motivos.
É importante mencionar também que muitas vezes ouvi (e falei também!) que o Crisma é o sacramento do cristão “maduro”, do “soldado de Cristo” – agora que chegam os primeiros ventos da “Nova Catequese” por aqui, não sei se isso continua sendo verdade…
Assim como areópago foi uma palavra que muito agregou o que sentia e pensava durante o estudo do Documento 105, da CNBB durante o Ano do Laicato, ainda que trabalhe numa área que utilize termos em latim, foi uma expressão que encontrei no Vademecum sobre o Sínodo (disponibilizado pela CNBB) que me chamou a atenção: sensus fidei – em livre tradução, o senso de fé.
Como não tinha ideia do que significava (e pelo que tinha lido do texto era necessário saber para poder entender melhor), fui para um aplicativo de busca e me deparei com a seguinte definição: “49. O sensus fidei fidelis é uma espécie de instinto espiritual que capacita o fiel a julgar de forma espontânea se algum ensinamento particular ou determinada prática está ou não em conformidade com o Evangelho e com a fé apostólica. Ele está intrinsecamente ligado à própria virtude da fé; decorre da fé e é uma espiritualidade dela. Pode ser comparado a um instinto, porque não é primariamente o resultado da deliberação racional, mas assume a forma de um conhecimento espontâneo e natural, um tipo de percepção.” (Sensus fidei na vida da Igreja (2014) (vatican.va))
Se entendi direito o que está escrito acima: se entende o que se faz é certo ou errado não só com o parâmetro estabelecido pela Igreja (a nós repassado pelo clero, pelas escrituras e documentos), mas também pela forma como alimentamos e vivenciamos a nossa fé.
Todo pai e mãe que tente ensinar bons valores a seus filhos e fará o possível para explicar, nas palavras que conhecer para o exprimir, que, ainda que as paixões e os sentimentos falem muito alto em alguns momentos, as atitudes de cada um de nós devem ser condizentes com o necessário para o Bem Comum, da mesma forma que cada um é responsável por seus atos.
Voltamos novamente ao livre arbítrio presente na vida do cristão.
O Papa Francisco, falando a crianças, nos lembra a importância de fazermos nossas próprias escolhas: “Nós não somos fotocópias, somos todos originais! A coisa ruim é quando queremos imitar os outros e fazer as coisas que as pessoas fazem, que os outros fazem, e passamos de originais a fotocópias. Isto é ruim: cada um deve defender a sua própria originalidade. O Beato Carlo Acutis, contemporâneo de vocês, repetiu isso muitas vezes e, de fato, é importante que cada um de vocês use com alegria, todos os dias, a ‘roupa’ de sua própria originalidade, de sua própria personalidade.” (Audiência com as crianças da Ação Católica Italiana, Sala Clementina, 18/12/2021)
Falando disso, preciso perguntar: Que tipo de cristão que você é? Você é um cristão “por indução”, ou assumiu a sua escolha “madura” de ser cristão? E como anda seu senso de fé?
Um abraço fraterno!
Leila Denise
Acervo da imagem: MFJ 2019 Rio de Janeiro